SEU CARA DA PESTE Clerisvaldo B. Chagas, 26/27 de janeiro de 2023 Escritor Símbolo de Sertão Alagoano Crônica: 2.832   O senhor ...

 

SEU CARA DA PESTE

Clerisvaldo B. Chagas, 26/27 de janeiro de 2023

Escritor Símbolo de Sertão Alagoano

Crônica: 2.832

 



O senhor Cirilo, foi o último tropeiro de Santana do Ipanema. Ele, com sua tropa de burros, levava mercadoria para a zona da Mata e de lá trazia produtos para o Sertão. Para a Mata ia o queijo, o feijão, a farinha, a carne de sol e mais. Da Mata chegava o mel de abelha, o mel de engenho, o açúcar, o tecido, a aguardente... A rapadura. Quando seu Cirilo – que morava na esquina de um beco que dava para o rio Ipanema, na Rua Prof. Enéas – chegava de viagem, desarreava a burrama e a soltava para pastar no leito seco do rio. Seu filho, vulgo Lelé, ainda rapazinho, acompanhava o pai naquelas idas e vindas inter-regionais. O senhor Cirilo faleceu e, Lelé, continuou solteiro, foi envelhecendo e passou a ajudar no bar do seu sobrinho Erasmo na Rua e Bairro São Pedro, em torno dos anos 60-70.

Já de cabelos brancos e ainda solteirão, Lelé gostava de uma cachacinha e, quando bebia tirava direto por alguns dias. Nunca perguntamos ao Lelé onde ele estudara, mas ainda era bom de memória na Geografia que naquele tempo era na base da decoreba. Quando o nosso querido amigo de todos bebia, gostava de chamar as pessoas de “cara da peste”. Era sempre testado, quando sóbrio, pelos clientes do bar, sobre pontos geográficos do Brasil e do mundo. Enquanto guardava o dinheiro do cliente num miolo de um rádio velho e que ainda funcionava, respondia o que lhe fora perguntado. Adaptara uma tampa de madeira nesse rádio que era seu orgulho e que pegava, segundo ele, a Rádio Nacional, a Rádio Sociedade da Bahia, a BBC de Londres e outras muitos distantes do País.

Pois bem, Certa feita, um sujeito encontrou Lelé na Rua Antônio Tavares, tão bêbado que estava se segurando às paredes  para não cair. “É agora que eu quero saber se Lelé entende mesmo de Geografia”, pensou o cidadão. Dirigiu-se até o antigo tropeiro e indagou incrédulo: “Lelé, qual é o maior lago do mundo?”. O filho de seu Cirilo ainda fez uns volteios para se manter de pé, foi lá, veio cá, tornou a se segurar às paredes, olhou para o rosto do inquiridor e respondeu cobrando o preço: “não é o lago “Baiká”, na Sibéria, com 636 km 2, SEU CARA DA PESTE!”.

Arre!

Imortalizamos o ex-tropeiro.

CRÉDITO: PROGRAMA ENTREVERO CULTURAL ´PEC

 

 

  VOCÊ SABIA? Clerisvaldo B. Chagas, 25 de janeiro de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica:   2.832   Você sabia que a...

 

VOCÊ SABIA?

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de janeiro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica:  2.832

 



Você sabia que a maior ilha fluviomarinha lagunar do Brasil está localizada em Alagoas? Se não sabia fique sabendo que a maior ilha fluvial (rio) do Brasil é a do Bananal, no estado do Tocantins, que fica entre dois rios. E a maior ilha fluviomarinha do mundo é a de Marajó no estado do Pará. Em Alagoas, a ilha de Santa Rita é a maior ilha fluviomarinha lagunar do Brasil. Situada na laguna Mundaú, faz parte de um arquipélago e está situada no município de Marechal Deodoro, vizinho a Maceió. A ilha de Santa Rita possui quatro povoados, são eles: Santa Rita, Siriba, Jacaré e Barra Nova. A propósito, a Ilha de Marajó possui 40.1 mil km 2, a ilha do Bananal 19.162 km2 e, a nossa ilha de Santa Rita 12 km2.  Nessas alturas o leitor pode indagar, então, qual seria a maior ilha oceânica do Brasil. Partindo para essa vertente, iremos encontrar a Ilhabela, em São Paulo, vizinha a cidade de São Sebastião, com 346 km2.

Mas, voltando a Alagoas, mesmo fazendo comparações entre extensões de ilhas, a Santa Rita até que é enorme! É um dos lugares mais procurados tanto pelo maceioense quanto pelos turistas, devido principalmente às suas belezas naturais e gastronomia de tradição lagunar e praieira. Olhando com outros olhos, é um verdadeiro livro  de Geografia escrito e ilustrado pelo Grande Arquiteto do Universo. Passar pelo menos um turno na região, é jogar pela janela o lixo do estresse de cada dia. Vale salientar que o local é área de preservação e tem a vantagem para quem quiser visitá-la, da proximidade com a capital do estado e do acesso rápido e fácil que proporcionam conforto ao visitante.

Vale salientar que tanto a ilha quanto as imediações, são repletas de belezas como praias, manguezais e paisagens arrebatadoras. Em alguns lugares da rodovia que liga Maceió a Marechal Deodoro, encontramos toldas de guloseimas dos tempos da vovó: broas, suspiros, cocada, bolos e muitas outras que derretem na boca na primeira mordida. Isso você só vai encontrar no povoado Pé-Leve, entre Arapiraca e Limoeiro. Mas o que é mesmo uma ilha? É uma quantidade de terras cercada de águas por todos os lados. E arquipélago é um conjunto de ilhas. Depois vêm os detalhes das ilhas, cada qual com seu nome específico.

Quer saber mais sobre a ilha de Santa Rita? Pneu na estrada, “véi”.

 

  NO AMPARO DA SOMBRINHA Clerisvaldo B. Chagas, 24 de janeiro de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.831   No temp...

 

NO AMPARO DA SOMBRINHA

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de janeiro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.831

 



No tempo de poucos automóveis, o batente diário era mesmo enfrentado a pé. E na época de inverno, muito valioso era o guarda-chuva ou sombrinha, mesmo que os pés rompessem a lama das ruas, a cabeça estava protegida. Esses objetos eram muito valiosos no predomínio das chuvas. Comprados nas lojas, estavam sempre na moda com modelos estruturais e com estampas. Durante o sol muito quente do verão, as mulheres usavam bastante as sombrinhas.  Mas também é de se dizer que a estrutura de ambos, eram frágeis como ainda são as de hoje. Qualquer coisinha quebrava uma aspa. Se o dono ou a dona tivesse habilidade consertava, se não, mandava o objeto para o profissional Alvino, conhecido depois com o apelido de “Sombrinha”.

Alvino morava num pedaço de rua entre a Prof. Enéas e a São Paulo (início da antiga rodagem para Olho d’Água das Flores). Para ele, levei muitas sombrinhas e guarda-chuvas, para conserto. Nosso herói tinha rosto agradável de quem está de bem com avida, caminhava ligeiro, braços abertos e, sendo magro, inclinado um pouco para trás, parecia carregar um bucho invisível projetado adiante. Era simpático no seu atendimento e não demorava a devolver o objeto consertado. Não lembramos de outro profissional consertador de sombrinha, em Santana do Ipanema, somente quando passava alguém de fora, anunciando consertos. O consertador de sombrinhas foi mais um dos profissionais extintos do século XX.

Por que estamos lembrando essa passagem tão singela e tão sem importância para os dias atuais? É que chegou uma pessoa da família em baixo de chuva e precisou de uma sombrinha para descer do carro. Infelizmente o objeto estava com uma aspa quebrada. No momento o passado veio forte porque na vida uma coisa puxa outra.  Assim como pingadeira nas telhas (ainda existe teto de telhas) também lembra o profissional “Seu Tô”, o maior retelhador do século XX com seu chapéu de Polícia Montada do Canadá e que morava bem perto de Alvino. Hoje retelhador é o próprio pedreiro.

Mas voltando ao caso da sombrinha, ninguém de casa tinha habilidade para consertar a aspa, cuja sombrinha parecia um galináceo da asa quebrada, já viu?

Que falta nesses momentos faz o Alvino!