LAGO TEM IDADE? Clerisvaldo B. Chagas, 12 de junho de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2903   Costumamos dizer ...

 

LAGO TEM IDADE?

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de junho de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2903

 



Costumamos dizer de acordo com a Geologia que um lago é acumulação permanente de águas em grande extensão numa depressão de terreno fechado. Sempre ficam na cabeça vários lagos estudados e espalhados no mundo e muitos deles famosos de forma global. Mas uma pergunta, um pouco incomum sobre eles é relativa à idade. Lago tem idade? Tem sim. A idade dos lagos está de acordo com débito e crédito das suas águas. Vamos a explicação: Esses espelhos d’água estão classificados em novos, de meia idade e velhos.

Lagos novos – São considerados novos, os lagos que recebem mais água dos seus afluentes do que a quantidade que perdem pela evaporação, infiltração ou pelos logradouros.

Lagos de meia idade – São assim considerados os que conseguem equilibrar a quantidade de água que recebe com a que perdem, durante o ano.

Lagos velhos – São aqueles que perdem mais água do que a que recebem. Nesses casos, a tendência é a completa extinção.

A pergunta mais frequente é a diferença de um lago para uma lagoa. Bem, o lago é considerado bem maior e remonta muitas vezes, a era glacial, muito antigo. Enquanto a lagoa é menor, mais recente e costumeira.

Mas, inconformado, o pesquisador ainda indaga qual é a diferença, então, de uma lagoa para uma laguna.

A lagoa e o lago, geralmente estão em plano mais alto do que os arredores.

A laguna é um espaço que apresenta alguma ligação com a água do mar.

É por isso que são verdadeiras lagunas, as lagoas maiores do nosso estado e chamadas popularmente de lagoas, casos da Manguaba e Mundaú.

Entretanto, no caso da velhice de um lago, ele também pode ser extinto não pelo processo natural, mas sim pela ação humana. O uso da água do lago, sem planejamento termina em extinção dessa fonte. É o que estar acontecendo em lagos mundialmente famosos da Cordilheira dos Andes e da Ásia. Quanto chamar as lagunas alagoanas de lagoas, é um hábito popular que em nada prejudica a essência.

LAGO TITICACA, NOS ANDES (GETTY).

 

  OLHA O MOCÓ, OLHA O MOCÓ! Clerisvaldo B. Chagas, 9 de junho de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.902   Com a i...

 

OLHA O MOCÓ, OLHA O MOCÓ!

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de junho de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.902

 



Com a inflação em queda, faz lembrar o tempo de seca no Sertão alagoano no final do século XX.  A fome estava uma coisa série no campo e nas periferias das cidades. Mas dizem que “quando Deus tira os dentes, aumenta a goela”, chegou da providência Divina, uma grande praga de preás nos campos que invadiam as grandes plantações de palma forrageira. Muitas famílias, passaram a viver do consumo de preá e a renda da sua venda. Nos mercados das cidades sertanejas surgiram montes desses roedores fazendo com que a pobreza se fartasse dessa proteína. Em Pernambuco os agricultores colocavam veneno para acabar a praga, em Alagoas, o preá matava a fome do povo. Entretanto queremos falar de bicho parecido chamado mocó.

O mocó (Kerodon rupestris) é um roedor que mede até 40 centímetros e que pode chegar a um quilo. Gosta de viver em comunidade, mora e passeia em pedregulhos de porte, aceiros e túneis de macambiras. Na Natureza pode viver entre 6 e 8 anos, sujeito a todos os predadores, inclusive, ao homem. É encontrado em todo o Nordeste, principalmente na caatinga até o norte de Minas Gerais. O mocó é um herbívoro e aprecia alimentar-se de casca de árvores mofumbo, faveleira e parreira brava, que se estiverem faltando faz o mocó procurar gramíneas. Gosta de malocas e rachaduras rochosas, onde se sentem mais seguros, mas estão sujeitos à onça, ao gato maracajá, ao gavião, ao carcará e à cobra. Sua pelagem varia de um amarelo-acinzentado ao alaranjado com a parte inferior branca.

Devido ao seu tamanho, é muito caçado pelo homem e alguns acham a sua carne mais saborosa do que a do preá. Este se encontra com frequência, porém o mocó é mais restrito. Podemos dizer que é um animal em extinção. Alguns pequenos proprietários rurais, procuram protegê-lo apenas evitando à caça nos seus imóveis, feito essas comunidades proliferam. Mas, nem todos os fazendeiros possuem essa consciência e os mocós ficam à mercê de caçadores profissionais ou amadores. Abater um bichinho desses, enche de satisfação o dono da espingarda, como se tivesse feito uma ação digna de ganhar troféu. Afinal, o homem é um exterminador voraz da flora e da fauna.

Brevemente mocó só em fotografias.

FOTO: MOCÓ

 

 

  PARA QUE MATAR? Clerisvaldo B. Chagas, 8 de junho d 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2901 Para o escritor contist...

 

PARA QUE MATAR?

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de junho d 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2901

Para o escritor contista Fábio Campos e

Ao amigo Mendes (Blog do Mendes)

 



Na fazenda, levantei-me logo cedo e contemplei a bagaceira no terreiro por trás da casa. Pela terceira vez a onça havia atacado as criações, matado e carregado um carneiro. Várias galinhas morreram no ataque, apavoradas e sem saída. Enchi-me de raiva e resolvi caçar o felino até abatê-lo. Bem armado e ainda em jejum, segui o seu rastro, caatinga adentro. Já fazia mais de três horas em que perdia e redescobria suas pegadas. Pensava tratar-se de uma onça suçuarana, também chamada onça-parda. Depois de muito andar senti que o bicho estava por perto e tentei surpreendê-lo. O plano era chegar pela retaguarda e, sem ser visto atirar no predador. Porém o surpreendido foi eu. Deparei-me com a fera parada, em pé e me observando, a cerca de cinquenta metros de distância.

O animal não era uma suçuarana como eu havia pensado, mas sim uma pintada, inúmeras vezes mais perigosa. Imediatamente apontei a arma para a sua cabeça, sem que onça deixasse de me encarar. Imediatamente senti algo, como se o animal estivesse se comunicando comigo. “comi suas criações porque estava com fome”, não vai me perdoar? A raiva bruta sofreu uma queda imediata. Pensei que talvez fizesse o mesmo na circunstância da fome. Foi tudo muito rápido, a onça não se movia e eu não conseguia atirar. Juntando o pouco de raiva restante e a reflexão relâmpago, atirei para cima. A onça correu e eu resolvia retornar à casa. Antes, porém, da curva da trilha, olhei para trás. A fera me olhava fixamente num tronco baixo de forquilha.

Em casa cheguei com muita fome, tomei o café da manhã. Ainda traumatizado fui modificar o sistema de defesa das minhas criações para que, se o felino retornasse, pegasse apenas o necessário, evitando estragos inúteis. Não, não disse toda verdade à mulher e filhos, eles não entenderiam. Para a vizinhança que tanto me pressionara, falei apenas que havia perdido o rastro da pintada.

Dias depois, ingressei numa ONG de preservação dos animais da caatinga. Aprendi muito e naturalmente galguei à condição de chefe da organização. O episódio me fez também repensar na solidariedade humana, principalmente nas adversidades.

Aprendi com a onça que fome não tem educação, ética e paciência chinesa.

ONÇA PINTADA (FOTO SIOCK)