SOBRE MIM
Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
EU VI O POÇO Clerisvaldo B. Chagas, 29 de fevereiro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.019 Fui ao Bairro Dom...
EU VI O POÇO
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de fevereiro
de 2024
Escritor Símbolo do Sertão
Alagoano
Crônica:
3.019
Fui ao Bairro Domingos Acácio – o herói da Guerra do Paraguai – e fiz questão de dá uma espiadinha no antigo Poço dos Homens. Poço do rio Ipanema, imortalizado pelos meus escritos, especialmente no livro RG de Santana “Ipanema, Um Rio Macho”. A ponte General Batista Tubino, construída em 1969, foi o golpe final no poço da minha infância e dos meus antepassados. Todos os jovens e adultos da minha terra tomaram banho do Poço dos Homens, inclusive, até o, então, futuro governador Geraldo Bulhões. Poço dos Homens foi a página mais saudosa que escrevi na vida e que está registrada no livro acima. Mas quando espiei de cima da ponte, por estes dias, vi o mato aquático por cima do aterramento natural e do abandono. Doeu fundo ao vê a maior fonte de lazer de outrora da minha terra naquela ridícula e humilhante situação. Nem sequer, por cima das suas pedras grandes e lisas, um monumento de ferro ao banhista, como daqueles que o artesão Roninho Ribeiro sabe fazer.
Vem à memória o comerciante Júlio Silva e seu
dente de ouro, o único homem que vi tomando banho de sabonete no Poço; Seu
Alberto Agra, dando lição ao negro Zé Lima dizendo que o nome do que ele estava
imitando na água não era microscópio e sim, periscópio; a adolescente Nicinha,
nadando igual à piaba e seu irmão Gorila, dando sucessivas sapatadas na
superfície, sem mostrar o rosto imerso. Os maldosos passando “tamiarana” nas
costas dos companheiros. Toinho Baterista, pescando mandim; O alfaiate Seu
Quinca, sem dá sorte de pesca para ninguém; As andorinhas revoando e molhando o
peito nas águas, e indo à pousada na torre da Igreja; e o maior cantor da minha
terra Cícero de Mariquinha mexendo na alma da gente cantando em dia frio e
nublado, músicas de Cauby Peixoto:
Deu para entender agora o que senti ao olhar
da Ponte General Batista Tubino, o poço sepultado a cerca de 20 metros da ponte,
rio abaixo? Não tiveram piedade em deixarem pelo menos uma cruz, onde jaz o
Poço dos Homens, isto é, um monumento, por mais simples que fosse! Acho que
irei fazer uma campanha para tal fim, mas nem sei por onde e nem com quem
contar.
POÇO DOS HOMENS NO PRIMEIRO PLANO. IMAGEM
VISTA DA PONTE GENERAL BATISTA TUBINO (FOTO: B. CHAGAS).
PRIMEIRA E SEGUNDA Clerisvaldo B. Chagas, 27 de fevereiro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.017 Bons temp...
PRIMEIRA E SEGUNDA
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de fevereiro de 2024
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
3.017
Bons tempos quando a marca do café alagoano
estava no auge. Ao passarmos pela Praça Deodoro, o aroma intenso saía da
torrefação do Café Afa, bem ali, na esquina do teatro, do outro lado da rua. E
nós, estudantes, ficávamos inebriados e os comentários choviam sobre àquela
indústria tão famosa e aceita plenamente em todos os extremos de Alagoas. É
certo, porém, que a Praça Deodoro, passou por várias reformas nas sucessivas
marchas dos prefeitos. Uns aceitavam as reformas como mais belas, outros
preferiam o modelo mais antigo. O Teatro com o mesmo nome da praça, também
passava por altos e baixos. E a sorveteria Gut-Gut, tão famosa em Maceió quanto
café, teatro e praça, já ameaçava cerrar às portas.
E assim nós pegamos essa fase de ouro do
comércio da capital, quando as quatro referências acima, reinavam absolutas no
auge da fama maceioense. Em Santana do Ipanema, perguntávamos ao dono do Café do
Maneca, como ele fazia para preparar um café tão gostoso... Pouco importava se
era um “café pequeno, meio café, ou café grande”, conforme classificava a
clientela. Maneca dizia apenas: “Misturo o Café Afa de segunda com o café de
primeira”. Mas ainda tinha o segredo da quantidade, da fervura... Que o nosso
bom amigo não revelava. Em Maceió, o teatro resistiu, a praça resistiu, mas a
Gut-Gut com o melhor picolé do paísl, fechou. E assim o famigerado Café Afa
também deu adeus ao povo do meu estado. A saudade bate quando novamente
circulamos por ali, quando lembramos também da mulher vendendo Tainha e que
somente gritava “inha”, ô inha! E os estudantes, das janelas dos edifícios
respondiam: Ôi, ôi!
E ainda vimos, homens de branco, elegantes e
de sapatos espelhosos, no capricho dos engraxates da praça. Ali à frente
paravam os ônibus, momentos de observações dos conquistadores, às senhoritas
que desciam no rigor da moda para o passeio habitual pelo Comércio. Ah! Pouco
importava a imponente estátua de bronze do Marechal Deodoro da Fonseca. Cheiro
de perfume, aroma de café, gosto de sorvete... Movimentavam a praça chique
da capital.
Alerta contra trombadinhas....
“Ô Maceió! É três mulé pra um homem só!”
PRAÇA DEODORO (FOTO: B. CHAGAS).
ÁGUA DE COCO Clerisvaldo B. Chagas, 19 de fevereiro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.016 Sempre achei aq...
ÁGUA
DE COCO
Clerisvaldo
B. Chagas, 19 de fevereiro de 2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.016
Sempre
achei aquele trabalho empolgante. Trabalhar no IBGE, eram duas bênçãos ao mesmo
tempo. Lidar com Geografia e salário firme. E como se fala muito ultimamente em
São Sebastião, sempre estou a recordar uma viagem de pesquisa até ali com o meu
chefe, então, José Pinto Araújo, no seu fusca azul. Cito essa recordação porque
fiquei impressionado com aquelas terras férteis e bonitas da região. E foi ali nas belas grotas da zona rural onde
pela primeira e única vez, flagrei uma cobra jiboia descansando após engolir um
caprino. Somente as pontas do animal doméstico se mostravam no lado externo da
boca do ofídio. Para mim foi mesmo uma surpresa nas terras agrestinas daquele
município. Uma bica permanente às margens da rodovia São Sebastião – Penedo,
também foi novidade para este matuto de Santana do Ipanema.
Mas
o que mais me impressionou mesmo foi o sítio, bem perto da cidade, o nosso
destino. Ali, o contato nos esperava numa bela chácara de pomar exuberante,
onde a água de coco era mais doce e mais abundante. Senti-me dentro de um
paraíso que nos fez esquecer a missão “ibegiana”, por algumas horas. Por isso
que sempre preguei em sala de aula: “primeiro conhecer o seu estado e só depois
o restante do Brasil e do mundo”. Pois, a boa impressão que a cidade do Santo
Mártir me deixou, eu a carreguei durante a minha vida até o presente momento. A
propósito, São Sebastião possui em torno de 34.000 habitantes, está localizada
a 200 metros de altitude e tem com Economia, mandioca, milho, fumo, amendoim,
feijão, banana e laranja, mas também puxa um pouco para a pecuária e o
artesanato de renda de bilro.
Sua
padroeira é Nossa Senhora da Penha e sua Emancipação política se deu em 31 de
maio de 1960. Antes, o lugar tinha o apelido de Salomé, porque um cidadão,
isoladamente, vendia para quem passava, sal e mel. São Sebastião faz parte da
grande região metropolitana de Arapiraca, é saída estratégica para a região do
São Francisco, como Porto Real de Colégio, Igreja Nova, Penedo e, Piaçabuçu, Porém,
acreditamos no ditado que diz: “Conhecer de perto, para contar de certo”. Pois
faça essa visita e depois nos conte como foi, “cabra véi”. E a senhora não quer
comprar renda!? Alagoas é massa!
IGREJA
EM SÃO SEBASTIÃO (FOTO DEVULGAÇÃO)
Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.