ALTO DO TAMANDUÁ Clerisvaldo B. Chagas, 27 de junho de 2024. Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.067   O Alto do Tama...

 

ALTO DO TAMANDUÁ

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de junho de 2024.

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.067



 

O Alto do Tamanduá no município de Poço das Trincheiras estar localizado na fronteira com o município de Santana do Ipanema.  Divide-se entre as duas margens da BR-316 e foi formado por quilombolas migrantes de outra sede quilombola bem perto e localizada no mesmo município à margem do rio Ipanema: Tapera do Jorge. Aliás, Tapera do Jorge foi um dos centros dispersores de negros no Sertão de Alagoas. Sua habitação imediatamente vizinha, é o sítio Baixa do Tamanduá, mas já dentro do município de Santana e tem as mesmas origens dos moradores do Alto do Tamanduá. São quilombolas também. Alto do Tamanduá não, mas a Baixa do Tamanduá, conhecida também como Lagoa do Mijo, aparece no primeiro documento sobre Santana do Ipanema que se conhece e vai se encaixando na vida moderna com essa última denominação.

Lugar agradabilíssimo e pacato, o Alto do Tamanduá com seus artesãos, sempre abasteceram a feira de Santana Ipanema com artefatos de barro como panelas, potes, porrões, pratos, brinquedos como éguas e seus caçuás, cavalos e bois, tudo de argila de boa qualidade. Essas eram as incumbências das mulheres, enquanto os artesãos trabalhavam com caçuás de cipó e balaios. Fonte de pesquisa sobre diversos assuntos, tem acesso fácil e  rápido pela sua posição estratégica na BR-316 e na fronteira de dois municípios. Também fica muito próximo do Poço das Trincheiras cidade, como seu povoado mais perto da sede. Dali da sua rua avista-se toda a beleza da serra da Caiçara, já na cidade de Maravilha.

Da Tapera do Jorge vieram duas pessoas pretas que se tornaram muito populares na segunda metade do Século XX. O carregador de malas chamado Zacarias que morava com a família no Bairro Floresta no lugar Alto do Negros; e o “Major”, zelador da Matriz de Senhora Santana e o sineiro mais famoso de todos. Um mestre nos domínios dos sinos da torre da Igreja. Negro velho, educado, generoso e querido por todos de Santana do Ipanema e que morreu dormindo num compartimento nos fundos da Igreja. De Santana do Ipanema para a Baixa do Tamanduá e o Alto do Tamanduá, deve ser apenas dois ou três quilômetros de distância da sede.

Nunca vi um tamanduá de perto, mas conheço o povoado.

POÇO DAS TRINCEIRAS, BANHADO PELO RIO IPANEMA. (FOTO: PREFEITURA).

 

  PALAVRAS Clerisvaldo B. Chagas, 26 de junho de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.067   Existem palavras que se...

 

PALAVRAS

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de junho de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.067

 




Existem palavras que se perdem no tempo por falta de uso. Outras continuam ativas, porém ninguém lembra mais o significado. Foi assim quando nós viajávamos numa Van e uma passageira pediu para deixá-la no Guari.  Isso na região de Cacimbinhas, Alagoas.  Fiquei curioso com a palavra que jamais ouvira falar. E se perguntasse a qualquer um, a resposta seria um lugarejo na periferia da cidade. Sim, mas o que significa  Guari ninguém sabe, nem eu sei. Mas que o termo ficou martelando a minha curiosidade, ficou. Tempos depois fui às pesquisas e, tudo que encontrei foi “uma espécie de palmeira” ou “um tipo de ave”. E no Poço das Trincheiras, o seu maior povoado é o Quandu, mas o que é Quandu? Outro desafio.

Quandu significa porco-espinho e não se pode confundir com Guandu que é uma espécie de feijão. Mas eu duvido que a maioria dos habitantes do povoado Quandu, saiba sobre a origem do nome. Porém, a palavra mais difícil de encontrar até hoje, foi “Minuino”, antiga travessia no rio Ipanema citado em artigos da década de 30. Nada. Nada a seu respeito consegui até agora. E se algum leitor curioso achar essa fonte, peço a gentileza de repassar para nós, o povo santanense.   É claro que a busca de palavras estranhas para nós traz conhecimentos, mas não deixa de ser uma forma proveitosa de lazer. Essa mistura da linguagem indígena, africana, portuguesa e outras estrangeiras, enriquece os dicionários e endoidam a cabeça dos pesquisadores.

Bonito é o nome Araçá e Santana do Ipanema Possui três sítios rurais com essa denominação. Mas será que ainda existe araçá naqueles sítios? Nunca vi um araçá de verdade, mas dizem que é uma fruta parecida com a goiaba que pode ser consumida in natura e ser transformada em geleia, sorvete, sucos... Mas não aparece um só estudioso no Sertão para resgatar esse fruto, inclusive para a indústria. Onde estão nossos professores biólogos que só se movimentam entre quatro paredes da escola. E a falta de iniciativa de gente estudiosa já fez perder muita riqueza do nosso bioma, tanto do reino animal quanto do vegetal. Muitas denominações estão apenas na nomenclatura do lugar. Pense no assunto.

CACIMBINHA (FOTO DIVULGAÇÃO)

 

  FACHEIRO Clerisvaldo B. Chagas, 25 de junho de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.066   Entre as espécies veget...

 

FACHEIRO

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de junho de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.066

 




Entre as espécies vegetais do Sertão Nordestino, destaca-se a cactácea Facheiro (Pilosocereus pachycladus). O Facheiro, um dos mais fortes símbolos do Nordeste, disputa em beleza com o Mandacaru e ornamentam muito bem a caatinga verde ou ressequida. Ambos são símbolos de resistência, fortaleza e esperança. Ninguém sabe quantos milhões de fotos de mandacaru e facheiro já foram espalhados pelo mundo. O facheiro, porém, difere um pouco do mandacaru. Possui os seus braços mais delgados e contínuos, diferente do mandacaru de braços grossos e intercalados. Ambos possuem uma infinidade de espinhos e podem chegar até os dez metros de altura, embora o mais comum seja em torno de cinco e seis metros.

O carpina da zona rural costumava fazer ripa e até mesmo caibro dos braços dos facheiros. O artesão sertanejo usava suas raízes para confeccionar colher de pau que seria vendida nas feiras e em alguns estabelecimentos fixos. Sendo um vegetal nativo, o facheiro é muito respeitado pelo homem rural que em condições normais do tempo o deixa em paz. Todavia, se o tempo aperta o sertanejo com estiagem prolongada, o facheiro é cortado por facões, transformado em fogueira leve quando perde ou amolece seus espinhos. É utilizado, então para alimentar rebanhos caprinos, ovinos e bovinos. Na extrema precisão também tem o seu miolo consumido pelo homem. Varia muito na cor que vai de um verde agradável ao marrom enferrujado, principalmente no período de seca.

Tanto o mandacaru quanto o facheiro têm forma de candelabro. Altos e de braços erguidos parecem sentinelas do Exército brasileiro. É como se fossem o pai espiando do alto todos os outros irmãos ou filhos espinheiros menores. Um raso de caatinga sem mandacaru, sem facheiro, parece perder completamente a graça da paisagem. É assim que estará na praça no mês que vem, um dos meus quatro romances do ciclo do cangaço “DEUSES DE MANDACARU”, que pelo visto acima também poderia ter sido titulado de “Deuses de Facheiros”. Todos os quatro romances e mais um documentário da nossa história estará sendo lançado de uma só vez em um dos dias da Festa de Senhora Santana, se assim o bom Deus nos permitir. Mas aí já é outra história.

FACHEIRO (FOTO: PINTEREST).