BARREIRO Clerisvaldo B. Chagas 5 de agosto de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.081   Quem é da capital talvez...

 

BARREIRO

Clerisvaldo B. Chagas 5 de agosto de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.081

 



Quem é da capital talvez não saiba o que é um barreiro, no Sertão. É um dos reservatórios de armazenagem de água. Representa um buraco enorme no solo arenoso ou de barro, daí o nome barreiro. Hoje é feito com trator e máquinas similares, porém ainda se faz barreiro à moda antiga. O fazendeiro procura um lugar adequado e mais baixo do terreno onde o declive do solo transporta a enxurrada das chuvas diretamente para ele. É costume se dizer no Sertão, “um barreiro que tenha uma boa bacia”, isto é, que consegue capturar as enxurradas. Antes era escavado com ferramentas simples e manuais e o material escavado retirado com couro de boi, e conduzido para fora por carro de boi ou por caçambas em madeira por jumentos. Geralmente o barreiro é arredondado, mas pode ser de qualquer formato e tamanho.

O açude, também chamado no Sertão de barragem, é muitíssimo maior; alguns açudes alcançam quilômetros e em sua quase totalidade são feitos pelos governos. A água do barreiro serve para beber, para o gasto da casa, para os animais e, quando não existe outra fonte serve para lavagem de roupa. As mulheres colocam uma pedra ou mais ao lado do barreiro para passar sabão e bater a roupa.  A água da lavagem escorre para fora do barreiro, deixando após a pedra um rastro branco e feio do sabão ou da potassa que dura dias e dias. Quase todo produtor rural tem um barreiro na sua propriedade. O filtro de barro tem melhorado muito a qualidade da água de beber, dos barreiros.

Quando existe condições de banho, mergulhar, nadar, pular dentro da água é uma verdadeira delícia. E permita o leitor lembrar da minha infância tomando banho no barreiro da Gameleira no povoado Pedrão, de Olho d’Água das Flores. Às vezes perto da casa do sítio surgem alguns lajeiros que armazenam água da chuva nas suas cavidades. As mulheres também gostam de lavar roupa nessas pedras denominadas no mundo sertanejo alagoano de Pilões de pedra. Mas, a criatividade do homem do campo em busca da água de cada dia é mesmo uma inteligência à parte guiada diretamente pelo Criador dos Mundos.

Sertão de Lampião, Sertão de Luiz Gonzaga, Sertão de padre Cícero...

Nosso Sertão!!!

PILÕES DE PEDRA NO SÍTIO LAJE DO FRADES, POÇO DAS TRINCHEIRAS (FOTO: B. CHAGAS, LIVRO NEGROS EM SANTANA).

 

 

  SEBOEIRO/SEBO Clerisvaldo B. Chagas, 1 de agosto de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.080   Um dos fundadores ...

 

SEBOEIRO/SEBO

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de agosto de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.080

 



Um dos fundadores de Santana do Ipanema, o padre Francisco Correia, nasceu em Penedo no Bairro do Seboeiro e estudou em Portugal. Era visionário, milagreiro e orador vigoroso. O nome desse bairro antigo faz-nos lembrar de uma pessoa que usava sebo de boi. E naqueles tempos o sabão era feito de sebo de boi, entretanto, não sabemos a história do bairro penedense e também se ele ainda existe com essa denominação no Século XXI. Por coincidência, em Santana do Ipanema também havia uma rua que tanto era chamada “Rua da Cadeia Velha” quanto “Rua do Sebo”.  Algumas mulheres usavam o sebo de boi para fazer sabão e, montes de sebo estavam sempre à porta de casa, expostos. Daí a segunda denominação de Rua de Sebo e que foi a primeira rua de Santana após o quadro comercial. A Cadeia Velhas foi erguida antes da formação da rua.

A histórica Rua do Sebo ou da Cadeia Velha, somente ganhou nome oficial na Revolução dos anos 30, quando revolucionários – sob protestos do povo – aplicaram ali uma placa com o nome Cleto Campelo em homenagem a um dos cabeças da revolução. Tempos depois, essa via recebeu o nome de Antônio Tavares, também oficialmente e que perdura até o presente momento. Na Rua do Sebo nasceram os escritores Oscar Silva e Clerisvaldo B. Chagas, uma casa defronte a outra, porém não foram contemporâneos, em relação a nascimentos. É o próprio Oscar Silva quem registra o fato da mudança de nome popular da rua para Cleto Campelo. Inúmeras crônicas de ambos os escritores, imortalizaram a antiga Rua do Sebo.

Queríamos apenas chamar atenção para a coincidência  de sebo em bairro de Penedo e em rua de Santana. O curto trecho onde ficava a Cadeia Velha, recebeu depois nome independente ficando desmembrada politicamente recebendo o título de Nilo Peçanha. Atualmente não existe mais vestígio da Cadeia Velha, demolida e transformada em casa comercial. Entretanto, nunca soubemos porque era chamada Cadeia Velha se não havia nenhuma cadeia nova. Só pode ter sido por causa da idade, pois fora erguida ainda no Século XIX.  (Ver no Boi, a Bota e a Batina, História completa de Santana do Ipanema).

Orgulho da “Rainha do Sertão!”

Orgulho em ser sertanejo, nordestino alagoano!

CROQUI DA CADEIA VELHA NA MEMÓRIA DE BILL PINTOR.

(LIVRO 230, ICONOGRÁFICO AOS 230 ANOS DE SANTANA DO IPANEMA.

  MONUMENTO Clerisvaldo B. Chagas, 30 de julho de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3. 079   Felizmente o quarteto...

 

MONUMENTO

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de julho de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 079

 



Felizmente o quarteto arquitetônico do Bairro Monumento continua sendo preservado em Santana do Ipanema. Nesse contexto avulta-se a Igrejinha defronte ao antigo Ginásio Santana erguida para marcar o início do Século XX. Foi construída pelo saudoso padre, ex-prefeito, ex-governador em exercício, Capitulino de Carvalho. Como era um marco de século em forma de igrejinha, foi também dedicado à nossa Senhora Assunção e que ainda não tinha a sua imagem para entronizar na igreja. Foi inaugurada com a imagem de Nossa Senhora de Fátima, provisoriamente, até a chegada da titular. Tempos depois chegou a imagem de Nossa Senhora Assunção, vinda de Portugal através de navio, foi de Maceió a Viçosa, de trem e veio para Santana em lombo de jegue ou de burro, devidamente encaixotada.

Na época, no local só havia mato, pois, a saída para Maceió era pela Maniçoba. Em 1938, a igrejinha/monumento ficou famosa no mundo inteiro por ter sido lugar de exposição das cabeças de onze cangaceiros trucidados na fazenda Angicos, em Sergipe, inclusive Lampião e Maria Bonita. Repórteres do Brasil inteiro vieram dar cobertura ao evento. Na ocasião, houve muitos discursos, Bebidas, farras, desfiles, feriados e bandas de músicas nas ruas. Não encontramos registro de data oficial de Bairro Monumento, entretanto, quando o casario tardio subiu a ladeira principal naquela direção, o povo passou a chamar aquela região de Bairro Monumento, devido a igrejinha/monumento.

A histórica igrejinha, portanto, é a primeira relíquia dos anais do município, no bairro, ainda hoje intacta, pomposa, singular e poderosa “Rainha do Bairro Monumento”. Mais antigo de que ela, seria somente o cemitério que fora construído perto do final do Século XIX, porém demolido na década de 40. Ficava a cerca de 200 metros do lugar onde foi construída a igrejinha. Apesar da imagem ter percorrido o mundo, em 1938, ficou quieta e esquecida. Não sabemos de nenhum arquiteto, de nenhum estudioso e nem de nenhuma jornalista de gabarito desses tempos modernos que tenha projetado a histórica igrejinha de Nossa Senhora da Assunção para conhecimento de todo o nosso Brasil.

Salve o belo! Salve a criatividade feliz!

 IGREJINHA/MONUMENTO EM SANTANA DO IPANEMA, 2013. (FOTO: B. CHAGAS/ LIVRO 320, ICONOGRÁFICO AOS 230 ANOS DE SANTANA DO IPANEMA).