A GALEGA E O GALO Clerisvaldo B. Chagas, 6 de outubro de 2018 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 1.991 ILUSTRAÇÃO; GAL...

A GALEGA E O GALO


A GALEGA E O GALO
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de outubro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.991
ILUSTRAÇÃO; GALO DA MADRUGADA.

Já ouvimos falar bastante do perigo de um guará choco. Quando o lobo- guará parte para atacar o homem, afirmam todos, o cabra tem que está armado, ser muito macho e pode até morrer no duelo. O cachorro é outro bicho que também ataca o ser humano nas ruas. Duas ameaças ferozes conhecidas. No caso do guará choco, tem até gravação de forró dizendo que não deseja absolutamente nada de mal ao inimigo, apenas um encontro casual com um guará choco. Muito bem, estando em uma unidade de saúde, chega uma galega alta, forte, sexagenária e falante, mão inchada, braço na tipoia e dedos quebrados. “O que foi isso, mulé?”. E ela responda sorrindo; “Foi galo”. A admiração é a mesma entre todos. A galega conta em voz alta à aventura.
Ao passar em uma das ruas de Santana do Ipanema, um galo a atacou. Um galo de, aproximadamente, três quilos, viciado, provavelmente de briga. A galega defendia-se com uma sombrinha. O galo afastava-se, preparava novo golpe e partia voando em direção ao rosto da senhora como querendo arrancar-lhes os olhos. A galega defendia-se desesperadamente sob o riso de algumas pessoas que assistiam o duelo. O galo fez nova carreira e pulou nos peitos da mulher que não resistiu ao impacto, caiu por cima do braço e quebrou os dedos. Não pode se levantar. O galo afastou-se e ficou ciscando com ares de vitória. Somente aí a galega foi socorrida pelo povaréu. Talvez precise operar os dedos.
Aguardando o médico, a galega narrava à aventura – digna de ser filmada – com animação. Ao sairmos, a mulher nos abençoou e pediu a Deus para não encontrarmos um galo doido por aí. Quem ia chegando queria saber a história dos dedos quebrados, mão inchada e tipoia. Logo imaginamos que o acontecido daria uma crônica, pelo fato cotidiano da presepada. Aproveitamos e dissemos a mulher bem humorada. “Aproveite e jogue no bicho, minha senhora. Aposte no galo... Quem sabe!”.
A galega dos dedos quebrados desatou uma gargalhada.

                                                                                            

O LÍRIO DA MINHA CASA Clerisvaldo B. Chagas, 2 de outubro de 2018 Escritor Sí mbolo do Sertão Alagoano Crônica: 1.990 (FOTO...

O LÍRIO DA MINHA CASA



O LÍRIO DA MINHA CASA
Clerisvaldo B. Chagas, 2 de outubro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.990

(FOTO: B. CHAGAS).
Não temos jardim, apenas duas ou três caqueiras com plantas. Uma delas é um lírio branco. E não é pleonasmo, pois existem mais de cem espécies no mundo. Mas lírio não gosta de sol. Por mais água que se coloque, as folhas amarelam, queimam e caem. No tempo moderado as folhas ficam bem verdes, depois empalidecem. Por nossa insistência, fomos surpreendidos certa manhã com flores brancas e belas chamando a nossa atenção. Parecia uma oferta divina de agradecimento por mantê-la viva. Dedicamos essas flores a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, madrinha imaculada. Em seguida fomos procurar na Wikipédia, sobre Lírio. Veja o que encontramos, em resumo:
“O lírio é nome dado às flores do gênero Lilium da família Liliaceae, originárias do hemisfério norte com ocorrências na europas, Ásia, América do Norte e América do Sul. Mais da metade das espécies são encontradas na China e no Japão”.
“Na Igreja Católica, o lírio é símbolo da Virgem Maria. São Bernardo, no século XII, associa a Santíssima Virgem com a amada do Cântico dos Cânticos: ‘Eu sou o lírio dos vales’. (...) Ainda de acordo com São Bernardo, a Virgem Maria é ‘lírio de castidade inviolada’. A brancura da flor reflete a pureza daquela que é imaculada desde sua concepção, e as três pétalas simbolizam a tríplice virgindade da Mãe de Deus, antes, durante e depois do parto. (...) Maria é o lírio branco da Trindade, pois é filha do Pai, mãe do Filho, e esposa do  Espírito Santo. Devido a esta revelação, católicos tradicionalistas invocam a Virgem Maria com a saudação: Salve Lírio Branco da Trindade, Rosa brilhante que embeleza o céu”.
Uma gota trêmula de orvalho, o sereno escondido da noite, o abraçar místico das madrugadas, vivem conosco mostrando a grandeza da simplicidade oculta aos olhos da ostentação. Assim tocamos e abraçamos o lírio da brancura imaculada que ornamentam nossas vidas. “Olhai os lírios dos campos. Nem Salomão se vestiu como a um deles”.  
Purificai, Senhor, as nossas vidas, como a alvura do lírio da minha casa.

FREI DAMIÃO NA BOEMIA Clerisvaldo B. Chagas, 1 0 de setembro de 2018 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 1.899 PRAÇ...

FREI DAMIÃO NA BOEMIA


FREI DAMIÃO NA BOEMIA
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de setembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.899

PRAÇA FREI DAMIÃO. (FOTO DE ARQUIVO B. CHAGAS).
Há muito, fora da vida boêmia, fomos a um tour durante a noite, em Santana do Ipanema. Apreciamos o movimento popular ímpar na Praça Frei Damião. Construída no Bairro Camoxinga, congrega três Ruas, a saber: Delmiro Gouveia, Maria Gaia e Manoel Medeiros. No entorno está uma Central de Velórios, um açougue e um mercadinho. A Praça Frei Damião, com ponto de moto taxistas, possui duas faces: a diurna e a noturna. A primeira é movimentada e quieta. A segunda, agitada, uma espécie de point da galera. Estamos na sexta-feira. Muitas moças chegando de moto e frequentando o mercadinho. Na Praça, ao lado, cerveja à vontade guiada pela churrascada, cujo aroma se empurra pelas narinas. A Praça inteira vira um bar ao ar livre.
Nada impede a brincadeira da juventude, cuja maioria chega de motos que estacionam ali mesmo no meio-fio. Não estava havendo velório, mas se estivesse seria a mesma coisa: a festa e a tristeza como vizinhas. Marcação dura dos contrastes sociais.  Por outro lado, quem chega para suas devoções com o santo nordestino, melhor aguardar a visita para a face diurna. Frei Damião está ali com suas fitas multicoloridas, no farrear que se prolonga noite adentro. Enquanto isso, os tradicionais bares das imediações, estão vazios. O asfalto que todos aguardam para as três ruas citadas, inclusive, o Largo Frei Damião, deverá consolidar o Point.
Interessante observar esses movimentos urbanos de lazer. Eles surgem espontaneamente onde se oferece algo novo e libertário. A divulgação é feita boca a boca e o chamariz deve ser comprovado. No caso da Praça, cerveja gelada, espetinhos e naturalmente o preço cobrado que, pelo visto, estava  agradando bastante na sexta. Em Santana do Ipanema é assim, a vida noturna intensifica-se na sexta e no sábado, dia da feira. No domingo tudo se esvazia como quem descansa para o batente da segunda.
O rio Ipanema fica perto 80 da praça, uns 80 metros, mas oculto pelo casario, com um beco esquisito de acesso.
Fazer o quê? Deixe o povo brincar.