ONDE O
GUERREIRO MORA
Clerisvaldo B.
Chagas, 10 de agosto de 2014
Crônica Nº 1.237
A friezinha do mês de agosto não
quer me deixar sair da cama. O quentinho do leito faz imaginar que lá fora está
caindo gelo. Sertão de Alagoas. Chuva fina sem parar, noite e dia, comadre. O
espanta-boiada corta os ares com o seu grito estridente, anunciador. Vai para
as baixadas do relevo, às margens encharcadas do rio Ipanema. Uma força segura no
lençol, outro impulso chama para o cafezinho quente, para a luz do dia. É o mês
de agosto com suas caracterizadas chuvas constantes e frio de matar lavoura.
Nem sei o porquê, vem à cabeça o guerreiro, peça folclórica genuína desse
território. Lembro-me de uma empregada da casa de meu pai ─ figura de guerreiro – e reforço o pensamento
da moçona Expedita:
O avião
Subiu
Se alevantou
No ar
Se peneirou
Pegou fogo
E levou fim...!
Os pingados maneiros sobre o
teto, os garranchos da chuva fina, tangidos pelas lufadas do vento brando,
trazem a voz também de espanta-boiada de Clemilda, a cantora, que tanto admiro:
Mestre Pedro
Eu saí de Penedo
Domingo bem cedo
Às seis horas...
Só agora
Estou recordando
Sou alagoano
Onde o guerreiro
Mora...
E diante da xícara fumegante, parece que chegam as
explosões folclóricas como se dissessem: “Vamos dançar guerreiro, Clero”. Credo
em cruz! Sabem até o meu apelido carinhoso, de família. Volta Expedita com o
seu folguedo:
Toda mata
tem espinho
Toda
lagoa tem peixe
Toda
velha tem “me deixe”
Toda moça
tem carinho...
O mundo hoje está mais para crônica do que para
cronista. Ô meu Deus, só mais um pouquinho na cama, Jesus.
É o canto da Clemilda:
Me
lembrei
De
Palmeira dos Índios
Pra lá
vou seguindo
Agora...
Sou
devoto
De Nossa
Senhora
Sou
alagoano
Onde o
guerreiro
Mora...
Arre! Que frieza! Só tenho compromisso à noite. Ah
é? Vamos dormir mais um pouquinho, eita quenturinha boa, a do lençol.
Sou
alagoano
ONDE O
GUERREIRO
MORA!...
* Foto; alagoas.brasil.com.
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