O CIDADÃO DA COMPORTA
Clerisvaldo
B. Chagas, 9 de setembro de 2019
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Para vê de perto a
antiga cidade fabril, Rio Largo, passei ali algumas horas. Fui parar do outro
lado do rio Mundaú, onde existia uma espécie de ilha. Ali havia um trecho
d’água com uma comporta manobrada por um homem. Fui pedir explicação daquelas
coisas diferentes da nossa terra. Na época aprendi uma porção de coisas naquele
lugar a 37 km de Maceió. E é bom saber que Rio Largo não é o nome do rio que
banha à cidade, por sinal, a terceira de Alagoas. Rio Largo é uma passagem mais
larga do rio Mundaú onde antes se localizava um engenho de cana-de-açúcar. O
cidadão da comporta indaga de onde sou. Respondo que sou do Sertão. O homem baixa
a cabeça, melancólico, diz com muita pena: sempre quis conhecer o Sertão.
Turismo, viagem,
passeio, visita, qualquer denominação serve para conhecermos outros lugares. O
homem da comporta queria conhecer o Sertão, era sonho da sua juventude, mas já
com idade avançada parecia ter perdido as esperanças. Ele não me falou em
conhecer a Geografia, a História, a religião, as praças... Falou apenas em
conhecer o Sertão. Aquele Sertão onde sua vista começa e alcança, sem nenhuma
especialidade, apenas o todo misturado para deleite dos seus olhos. É a tese
que derruba o turismo religioso, de parques, trilhas, culturais, praias ou
montanhas. “Eu como cidade pequena que nada tenho a oferecer ao visitante, sem
saber estou oferecendo tudo”. “Viva à pátria e chova arroz”, mas não tendo
arroz, servem a poeira e o cascalho.
“Fazer o bem sem
saber a quem”. Conhecer sem escolher também. Um sítio, um povoado, uma rua, uma
metrópole, tem muitos encantos, aprendizagens e segredos valiosos para o corpo
e para a alma que dependem da disponibilidade e procura de quem deseja. E
voltando ao Rio Largo, em um estado repleto de ótimas estradas, deixa o sonho
de visitas intermunicipais muito mais perto. Assim você vai alinhavando os
desejos de conhecimentos que irão se tornando consistentes e inquebráveis.
Litoral, Mata,
Agreste, Sertão, Sertão do São Francisco... Viagem imaginária/viagem real
dentro do prisma alagoano de locomoção.
Deixe-me lembrar do
melancólico cidadão da comporta...
Todos os lugares da
Terra são coisa de Deus.
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