NÃO TRABALHA QUEM NÃO QUER
Clerisvaldo B.
Chagas, 7 de outubro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Foi retornando de
Garanhuns que eu conheci a cidade de Cachoerinha. Fiquei sabendo que ali era a
Terra dos Arreios. Demorei muito pouco na urbe, mas em Santana do Ipanema, um
fabricante me disse que vendia seus produtos naquele lugar. Dizia mais: “Produto
ruim não chega a Cachoeirinha. Ali é a Capital dos Arreios do Brasil,
professor. Vem gente até de Goiás comprar arreios de couro os mais diversos, em
Pernambuco. Outra coisa, meu mestre, todo o mundo trabalha e ninguém vê um só
vagabundo na cidade. Caso o senhor veja alguém pedindo esmola, é gente de fora,
de passagem”. Fiquei satisfeito porque o santanense fornecia para um mercado
exigente e quando soube que ali não havia desempregado.
De outra feita, tive
a mesma sensação de boa notícia na região do baixo São Francisco. Com uma turma
de alunos fomos conhecer o ciclo do peixe no vale do Marituba, Alagoas. Depois
passamos para o lado sergipano, em visita a Propriá. Foi um excelente achado,
quando nós sertanejos conhecemos outro cenário. Região natural chamada até de
pantanal alagoano, água de irrigação à vontade e o trabalho de criação com seu
ciclo completo, até a venda. Tudo nos impressionou, inclusive os peixes reprodutores,
touros da água entre doze e treze quilos. Força descomunal. Foi ali que ouvi a
repetição da frase do santanense fabricante de arreios, saudoso José Henrique.
Disse-me um dos trabalhadores: “Aqui, professor, só não trabalha quem não
quer”.
Viagem proveitosa cheia
de novos conhecimentos, mas para nós, a vitória da região sobre o desemprego
soava mais forte de que tudo. E quem conhece compara. Por que em algumas
cidades não falta emprego e em outras o desemprego é lei? Vemos nas periferias
de cidades sertanejas, particularmente, uma pobreza que faz dó. Na zona rural o
pobre ainda cria um porco, uma cabra, meia dúzia de galinhas... Mas o pobre
citadino nem possui o animal nem o lugar de criação. Se houvesse interesse dos
gestores, nas quatro zonas da cidade seriam criados empreendimentos para
absorver a mão de obra local. Todos empregados não haveria miséria. E por falta
de um real ganho no trabalho, deixa-se de comprar uma cocada. Deus não quer a
miséria, mas a responsabilidade dos DONOS dos municípios.
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