CHUVA NAS ALAGOAS
Clerisvaldo
B. Chagas, 30 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Infelizmente ou
felizmente notícia gosta de usar as duas faces. E as previsões de chuvas para o
estado nos três primeiros meses, do ano, deixam o nosso Sertão esperançoso e
quase feliz. E o quase fica por conta das alvíssaras até as realizações
dos torós anunciados. Para a capital que vive os problemas de afundamentos de
bairros, quedas de barreiras, batidas no trânsito e crateras/ armadilhas cheias
d’água, não é notícia muito agradável; até mesmo porque se diz que haverá
chuvas contínuas e muito calor, bem diferente das trovoadas passageiras e
tradicionais. Imaginemos a aflição dos Bairros Pinheiro, Mutange, Bom Parto e
imediações com tantos casos revoltantes e não resolvidos.
Mas o semiárido
poderá sorrir de boca larga porque chuva na terra é melhor de que ouro em pó.
Essas precipitações encherão pilões, barreiros e açudes, permitindo uma ponte
robusta entre o verão e a época invernosa. Planta-se feijão de corda, enche a palma,
sai o pasto, o capim encobre o lombo luzidio das vacas leiteiras, fabrica-se o
queijo e, o legume faz a barriga cheia. O aroma desejado e gostoso da terra
molhada dilata as narinas do sertanejo em festa. Estira-se o mandacaru, pia a
codorniz e os poetas enchem os salões das fazendas com aboios, emboladas e
repentes na viola.
O pincel da natura
cobre o giz do espaço com o cinza dos cúmulos, dos nimbos, empurrados pelo
regougar dos trovões assustadores. Os traços fortes das chuvaradas cantam nos
telhados vermelhos da casa-grande, faz tinir as bicas das taperas e derrubam a
lataria enferrujada por cima dos potes de barro. Enrosca-se a cascavel,
recolhe-se o carcará, muge o bezerro na baixada e a velha peleja com o fogo do
cachimbo vindo do Juazeiro do padrinho Ciço.
Feijão, milho,
melancia e mandioca só faltam quebrar o espinhaço do jegue, a mesa do carro de
boi ou os eixos do caminhão valente a caminho do armazém.
Na beira do córrego,
esse matuto observa e anota até mesmo quando o patriarca da humilde família
bota os joelhos na terra, ergue as mãos aos céus e murmura. O gavião ali perto
não irá compreender, mas Deus – presente nos matizes do verdume – abençoa os seus dizeres e suas lágrimas que
escorrem rumo ao pequeno riacho murmurante.
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