terça-feira, 6 de dezembro de 2022

 

CACIMBAS DO IPANEMA

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de dezembro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.810

 



Não é questão de saudosismo, mas sim, de detalhes da história santanense. A foto apresentada, raríssima dos tempos em que Santana era abastecida de água por profissionais em jumentos, parece só existir com outra parecida, dos anos 60. Esta foto foi descoberta por nós na página 95 do livro do saudoso geógrafo Ivan Fernandes Lima, “Geografia de Alagoas”, publicado em 1965. Vamos a descrição:

Vê-se na fotografia, em primeiro plano, um buraco na areia, na verdade, uma cacimba. Como a boca é arredondada, supõe-se que ali era usado um tonel cilíndrico sem fundo para que a água da cacimba aflorasse e não fosse facilmente mexida e aterrada (costume da época). Vários jumentos e até um cavalo, mais distante, em outra cacimba, aguardam pela decisão dos botadores d’água. A foto foi tirada na pior hora para o tal livro: meio-dia em ponto, observe as sombras sob os animais.

O local é no rio Ipanema no trecho urbano vizinho a antiga estrada que seguia para Olho d’Água das Flores, região das olarias. Do lado direito da foto vê-se parte da cidade em galeria, perto do rio. Do lado esquerdo, a fotografia mostra uma casa à margem do Ipanema, caiada de branco. Pertencia o terreno ao senhor Marinho Rodrigues, pai do Dr. Clodolfo Rodrigues, primeiro médico santanense a clinicar na cidade.

No trecho urbano por onde o rio Ipanema passava, esse era o melhor para se apanhar água. Havia também no trecho urbano outro lugar muito utilizado pelos botadores d’água, era mais acima, no largo chamado poço do Juá, cujas cacimbas funcionavam bem, quando o poço secava.

A água dependia do lugar onde fosse retirada. Quase sem sal, salobra e excelente. Acima da barragem, muito acima, existe um sítio banhado pelo Ipanema chamado Marcela. Pagava-se um preço muito maior por uma carga d’água da Marcela, pois, além de ser longe da cidade, a água era excelente, sendo das mesmas areias do rio. A luta diária pelo líquido precioso envolvia toda a população, ricos e pobres viviam o mesmo drama diário. É certo que havia grandes cisternas em algumas casas, mas a venda era pouca. E o bom de tudo isso, é que o Ipanema nunca deixou faltar água para os seus filhos. Os transportes rudes também não faltavam, pois havia muito mais de cem botadores d’água em jumentos.

Valeu a foto?

 

 


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