DOMINGO DE RAMOS
(Clerisvaldo B. Chagas, 18 de abril de 2001).
Mais uma vez vivenciamos o início da Semana Santa, com o tão conhecido e esperado Domingo de Ramos. É ele quem relembra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, poucos dias antes da sua morte. O domingo é assim conhecido, por que o povo cortou ramos de árvores, folhagens de palmeira, para forrar o chão quando Jesus passava e, acenar agitando os ramos. Assim chegava Jesus saudado pelo povo que o aclamava “Rei dos Judeus”, “Hosana ao filho de Davi”, “Salve o Messias”. Essa manifestação popular despertou a inveja de sacerdotes e mestres da lei, desconfiados com medo de perderem antigo prestígio e privilégio. A multidão tem esperança de que Jesus poderia libertar o povo da Palestina do jugo romano. Entendia a Jesus como um homem poderoso, cujo reino poderia ser o da própria Palestina. Tem início aí a trama para eliminar o filho de Deus. A multidão que saudava o Mestre com os ramos das palmeiras, seria a mesma levada pelo plano dos sacerdotes, para incriminar aquele a quem acabava de aplaudir. Jesus iria cumprir sua missão, submetido a um julgamento planejado, com testemunhas compradas. Vai para a humilhação moral e sofrimento físico para satisfazer o ego dos invejosos acusadores.
Essa tradição cristã leva muitos ao recolhimento, à reflexão que a história impõe aos que gostam de observar a religiosidade. É sabido, porém, que os tempos são outros. Antes, as igrejas ficavam lotadas para a participação e a vivência nos atos solenes que lembravam as belas palavras de Jesus. Belas, mas incompreensíveis para os que não procuram refletir nos ensinamento dos Evangelhos. E se hoje algumas igrejas ainda continuam lotadas, mas nos principais dias da Semana Santa, os bares estão cheios, as bebidas vão batendo recordes de clientes e, a violência ainda impera nos dias santos como se fosse mera rotina de um aguardado feriadão. Os sons dos automóveis com tampa de mala levantada, não soam de maneira alguma a se pensar em respeito algum. Parece que as pessoas esquecem com destemor de que não trazem a imortalidade para esse mundo ou sabem de tudo, estão bem informadas, mas preferem não pensar no futuro desconhecido.
O que será que leva o homem à indiferença pelo amanhã? Será que os compromissos inadiáveis dessa vida agitada, têm alguma coisa nessa atitude de desilusão, de desprezo, de indiferença pelo sagrado? Não falamos somente sobre a lotação de uma igreja, de um centro, de um templo, de um terreiro. Pensamos em gestos outros como a oração solitária no quarto de dormir, pelos que nada frequentam. Ou terá tempo suficiente, o homem, para falar com Deus ao sair pendido do boteco? Ah, não estamos censurando ninguém, estamos apenas refletindo em letras soltas. Ontem o mundo foi assim. Apenas assim. Sem o hoje, sem o depois. Deus não existe mesmo... Para uns. Para outros foi toda a plenitude de um DOMINGO DE RAMOS.
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