AS CISTERNAS DO MAJOR
Clerisvaldo B. Chagas, 13 de janeiro de 2015
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O sertão alagoano lutou muito para conseguir
dos seus governantes água e luz. Inúmeros movimentos foram realizados, inclusive,
passeatas noturnas à luz de velas. Uma rádio clandestina foi montada para
clamar todos os dias pelos direitos básicos da população. Com tantos berros assim,
principalmente em Santana do Ipanema, Médio Sertão alagoano, o governador major
Luiz Cavalcante resolveu providenciar ambas as coisas para Santana.
O sertanejo bem que possuía suas boas
cisternas grandes e pequenas que aliviavam bastante à sede nos tempos de
estiagem. O problema todo era apenas ter cuidado com o grande depósito caseiro,
à base da higiene. Não havia orientação da Saúde em como armazenar as águas das
chuvas nas cisternas, para maior segurança. Entretanto, o homem da cidade e da
roça bebia tranquilamente sua água cristalina escorrida das chuvas pelos
telhados.
Quando o major Luiz resolveu investir em água
para Santana do Ipanema, a maior cidade do sertão, onde a revolta pacífica
iniciara, houve certa esperança popular. E de fato a água encanada do rio São
Francisco espirrou pelo cano no meio da rua de Santana. Choveu discursos na
Praça da Bandeira. O próprio governador, entusiasmado, mandou que agora o povo
quebrasse todas as cisternas que havia, pois ninguém iria mais precisar desse
expediente. A água do São Francisco, segundo ele, não iria faltar jamais e
estariam nas torneiras todos os santos dias. Inúmeras cisternas foram
destruídas motivadas pela conversa mole do governador.
O resultado é que a euforia não durou muito.
A crise da água começou alguns meses depois e continua até agora. E o caso abastecimento
d’água tomou conta do Brasil inteiro por falta de investimentos, planejamento e
honestidade. Lá vai o governo mandando construir no semiárido, milhares e
milhares de cisternas, fazendo justamente, o que o sertanejo já fazia desde o
início do século XX.
Tem sempre alguém reinventando a roda.
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