OS SE DO SERTÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 1 de junho de 2023
Escritor símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.896
Se
o galo cantar fora de hora, é moça fugindo de casa. Se a sombra do sol estiver
abaixo da barriga do cavalo, é meio-dia. Se o jumento ornejar, é hora redonda.
Se a acauã cantar, vem tempo seco. Se o Vem-Vem cantar perto de casa, vai
chegar à pessoa do seu pensamento. Se a ema gemer e a seriema cantar, coisa
ruim vai acontecer. Se a coruja rasga-mortalha passar rasgando, vai morrer
pessoa conhecida. Se a rãzinha rapa-rapa cantar rapando, vai chover em 24
horas. Se o João-de-barro fizer a porta da casa contrária ao vento, vai chegar
muita chuva. Se a garrincha fizer ninho na sua biqueira, é sinal de casa
abençoada. Se a neblina estiver nas
baixadas, o tempo será seco. Se o boi estiver cavando o chão, a chuva está
próxima. Se formigas se arrancham nas baixadas, vem tempo seco.
Ora,
muita gente fala em superstição. Mas se um fato é sempre repetido, como pode
ser superstição? Poderiam argumentar: “Quando a ciência comprova o fato não é
mais superstição. Beleza! Nesse caso pode se afirmar com mais segurança ainda o
acontecimento. Aí se diz: “O povo estava certo”. Mas quando a ciência não
estuda o caso e se estuda não sabe dar explicações... Continua o fato sendo
superstição, invenção do povo? E onde fica a experimentação popular, a
experiencia? Então um milagre acontecido e que a ciência não consegue explicar,
é superstição? Os mistérios da Natureza somente são mistérios para os que não
conseguem compreender nem estudar esses tais mistérios. Será que Deus só
proporcionou sabedoria aos homens da ciência e a mais nenhuma outra pessoa?
E
ainda tem os ditados populares que se perdem em quantidade. Muitos trazem uma
sentença antecipada. E vários deles tanto foram aproveitados no romance “Curral
Novo”, de Adalberon Cavalcanti Lins quanto nos meus: “Ribeira do Panema”,
“Defunto Perfumado”. “Deuses de Mandacaru”, “Fazenda Lajeado”
e “Papo-Amarelo”, todos do ciclo do cangaço. Vejamos alguns: Parente é
carne nos dentes; filhos criados, cuidados dobrados; quando Deus tira os dentes
enlarguece a goela; quem dá valor a “cachorro” fica com o rabo na mão; homem
que jura, mulher que não jura e cavalo pedrês, desconfiar dos três; Boa romaria
faz quem em casa jaz. Formiga quando quer se perder cria asa.
Ainda
é pouco para se meditar muito.
SERTÃO,
TERRA DA FILOSOFIA POPULAR (FOTO: B. CHAGAS).
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