quarta-feira, 3 de maio de 2023

 

REINO DO COURO

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de maio de 2023

Escrito Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.878

 

O espetáculo da pesagem do couro no lugar em que a população comprava carne, não era muito agradável, mas pertencia a própria época, mesmo tendo aqueles que defendiam que a venda de couro deveria ser em outro lugar.

Nesse contexto, entra o bode e o cabrito. Vizinho ao Mercado de Carne, ainda existe um beco ladeiroso que vai dar no riacho Camoxinga, cerca de 150 a 200 metros abaixo. Havia muitos quintais por ali e, após os quintais, capoeira rala que dominava as duas margens do riacho. No início e na esquina do beco, havia uma mercearia e por trás dela, um pequeno plano repleto de mato que servia de matadouro de urgência para o sacrifício dos caprinos.

Nos dias de feira, aos sábados, o bode era morto a pauladas com muita ligeireza. Ouvia-se apenas um berro abafado e nada mais. O sangue escorria da boca para a poeira cinzenta do chão. Imediatamente o bode ou cabrito era amarrado de cabeça para baixo e, o esfolador, habilidoso e rápido retirava o couro da carne. Higiene zero. A nós parecia uma matança clandestina para atender a demanda do mercado público, no mínimo, vistas grossas das autoridades.

A carne era enrolada em um saco de pano e conduzida nos ombros, beco poeirento acima, cuja parede externa do mercado servia de mictório a céu aberto para os homens, não importava o movimento dos transeuntes, homens ou mulheres na feira.

Numa época em que não havia mictório público, os homens se aproximavam da parede, puxavam a “torneira” para fora, amparavam o sexo com a mão e procediam como os cachorros, só não faziam levantar a perna. Durante à noite o beco do mercado também servia para quem quisesse defecar. Era um beco fedorento por excelência.

Vale salientar que o Mercado de Carne, público, foi construído em 1950, cuja placa permanece até a presente data, apesar das várias reformas. E se o leitor quer saber quem o construiu, foi a gestão do coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão.

Extraído do livro inédito:  CHAGAS, Clerisvaldo B. Santana: Reino do Couro e da Sola. Pág.33.

 

 

 


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