O ASA MERECE (Clerisvaldo Br. Chagas. 21.9.2009) Não cremos que tenha ficado algum desportista torcendo contra o ASA na tarde do úl...

O ASA MERECE

O ASA MERECE

(Clerisvaldo Br. Chagas. 21.9.2009)

Não cremos que tenha ficado algum desportista torcendo contra o ASA na tarde do último sábado. Estamos falando de todos os simpatizantes do CSA, CRB, Ipanema, CSE e dos demais times do estado. Para falar a verdade, não temos tido muita sorte em campeonatos nacionais há bastante tempo. Em Alagoas prevalece a garra e os gritos das fiéis torcidas, mas quando chegam à hora da onça beber água, os times alagoanos não vão muito longe nesses embates. Ultimamente, ou a capital perdeu seu futebol ou o interior encontrou o dele. Mas isso é uma questão interna que fica para ser discutida entre os aficionados, os entendidos, os burocratas. Saindo desse pedaço amargo do esporte, o ASA proporcionou a sua cidade e ao estado, uma alegria imensa, mesmo tendo perdido as duas últimas partidas de série “C”. Diante de tantas coisas negativas que tomam o nosso tempo do cotidiano, o time arapiraquense veio como uma espécie de salvação para bem representar o nosso futebol. Não era mesmo fácil derrotar o América lá dentro da própria Minas Gerais — unidade da federação que marcha na linha de frente do futebol brasileiro. Ganhar com diferença de três gols, também não era coisa impossível, mas pelo menos fantástica, não tenhamos dúvidas. Contudo, o representante alagoano não se intimidou com a derrota em casa e se não conseguiu dar o troco na capital mineira, caiu de pé numa luta aguerrida e digna da sua posição. No momento em que todos os outros clubes estão parados, o conjunto teria que se voltar para o representante único da Terra dos Marechais. Temos certeza de que a torcida alagoana estava em peso torcendo pelo ASA, que naquele momento era um pouquinho de cada uma das nossas cores. O jogo do estádio Independência não garantiu o mérito da vitória, mas garantiu a invejável posição de vice da série “C”. Certo que a festa poderia ter sido bem maior, mas a posição inédita final honrou a sua torcida principalmente aos que se multiplicam em dez torcendo pelo seu partido. Graças ao ASA de Arapiraca, ficam garantidas outras tardes e noites em 2010, certamente recheadas de lazer, esperança e vibrações no campeonato da série “B”. Não ficamos sem representantes. Temos certeza de que a cidade do Agreste está orgulhosa dos feitos do técnico Vica e seus comandados.

Enquanto isso esperamos que esse exemplo positivo e altamente gratificante, tenha efeito bombástico em cada cidade que disputa a primeira divisão alagoana. Talvez mudanças profundas aconteçam no futebol da terra, primordialmente no pensamento dos cartolas. O ASA acaba de dar um presentão a esse estado tão sofrido que pelo menos já pode sonhar com a bola em 2010. Quantas e quantas vezes ouvimos os torcedores arapiraquenses desanimados com seu time! Dando uma volta por cima de todos os obstáculos, está aí o vice do Agreste cheio de moral, proporcionando os festejos da galera. Pelo que sofreu e batalhou esse grupo guerreiro, os alagoanos podem gritar forte nos quatro cantos do estado: O ASA MERECE!

BENDITOS MASCATES (Clerisvaldo B. Chagas. 18.9.2009) Recife e Olinda sempre viveram em rivalidade, principalmente no início do século XVIII...

BENDITOS MASCATES

BENDITOS MASCATES
(Clerisvaldo B. Chagas. 18.9.2009)

Recife e Olinda sempre viveram em rivalidade, principalmente no início do século XVIII. Recife era habitado por comerciantes da região; Olinda abrigava fazendeiros ricos que menosprezavam os que moravam no Recife. Na época, Olinda já era uma vila. Isso fazia com que as condições de mando e prestígio prevalecessem sobre o território, inclusive com a cobrança de impostos sobre Recife. Sendo uma vila, Olinda podia possuir câmara municipal e manter um pelourinho, tronco de castigar negros e marginais. Pela sua posição geográfica e pelo trabalho dos comerciantes, o Recife se desenvolveu e terminou pleiteando também uma condição de vila. A metrópole entendeu que era justo o pedido do Recife e concedeu essa invejável posição. Os de Olinda chamavam os do Recife de mascates, sendo essa palavra pronunciada com desprezo. Quando Recife passou à vila, os aristocratas de Olinda não aceitaram e invadiram a localidade rival. Com a investida dos homens de Olinda, foi destruído o pelourinho e destituído o governador. Recife não ficou inerte. Reagiu a invasão prolongando uma luta entre as duas vilas que durou perto de um ano. Todavia os fazendeiros de Olinda não se conformavam com o cenário e até ameaçaram romper os seus laços com Portugal. Caso isso acontecesse, Olinda tornar-se-ia uma república independente. Despertado para o perigo em potencial, o governo português decidiu intervir de modo firme no conflito. Acabou de uma vez com a luta que foi chamada de GUERRA DOS MASCATES.
No Sertão alagoano, década de cinquenta do século passado, a figura do mascate estava em evidência nas feiras de cidades e vilas. Comerciantes de tecidos, armarinhos, cordas, miçangas... Eram transportados de Santana do Ipanema para Olho d’Água das Flores, Carneiros, Pão de Açúcar... Aonde armavam suas toldas de lona ou espalhavam pelo chão batido as mercadorias. Os mascates eram criaturas simpáticas que saíam cedo e retornavam após as feiras livres. Muitas vezes, em tempos de inverno ou trovoadas, enfrentavam as cheias de riachos como o João Gomes (ainda sem ponte) ou a fúria das águas do Ipanema em canoas rústicas e negras, como opção. A cobrança das passagens era realizada nas proximidades do destino, quando os caminhoneiros paravam ao lado da rodagem. Em cima da carga de homens e objetos, passageiros andavam em franja nas laterais com os pés do lado de fora, sentados nas próprias mercadorias. Outros preferiam o centro da carga. O cobrador — geralmente o próprio motorista — equilibrava-se pelas tralhas pegando dinheiro, passando troco, mantendo a cara fechada.
Foram os mascates, depois, os novos comerciantes fixos de Santana do Ipanema. Todos progrediram em os mais diversos ramos de negócios. Heróis de um tempo difícil, eles ajudaram a consolidar o comércio sertanejo da Rainha do Sertão. Qualquer homenagem ainda seria pouca diante desses que aqui constituíram famílias, enriqueceram, educaram os filhos e alargaram os horizontes da terra de Santa Ana. BENDITOS MASCATES!

O BERRO DA VACA (Clerisvaldo B. Chagas. 17.9.2009) Na época em que a discriminação era maior, havia irônico comerciante no Bairro ...

O BERRO DA VACA

O BERRO DA VACA

(Clerisvaldo B. Chagas. 17.9.2009)

Na época em que a discriminação era maior, havia irônico comerciante no Bairro São Pedro, em Santana do Ipanema, Alagoas, conhecido por Seu Costa. Uma senhorita preta que puxava muito por um “s”, certa feita indagou no balcão do merceeiro:

— Seu Cosssta, tem passsta?

— Tem.

— Tem manga rosssa?

— Tem não, negra besta, tem bosssta, gosta?

Isso foi motivo de risos e anedotas na cidade por muito tempo, em torno dos anos 40 ou 50. Mas havia em Santana outro indivíduo que trabalhava em órgão do governo (Defesa Vegetal e/ou Animal) como veterinário prático. Costinha, humorista por natureza, era bastante solicitado e conhecido em toda região pelos seus serviços junto aos animais. Costinha, já em idade avançada, chegou a ser o bedel do Ginásio Santana, uma escola cenecista. Além do humor nativo, carregava uma criatividade incrível com respostas na hora tal repentista-violeiro. Contam-se dezenas sobre as presepadas de Costinha, tanto que tivemos vontade de escrever um livro sobre suas peripécias.

Durante o período de vacinação do gado, a fazenda Timbaúba — no fértil sopé da serra da Camonga — era uma festa. Certa vez, essa fazenda de meu pai recebia amigos e o veterinário prático Costinha, em dia de vacina. Muita comida, bastante bebida, brincadeiras a valer e a missão principal: vacinar mais de cem reses. Ainda no antigo sistema de laçar, os animais eram encostados ao mourão onde recebiam as agulhadas. Não faltavam em torno, gritos, piadas e assovios. Na vez do touro, foi preciso um sujeito forte chamado Chico (famoso por ter eliminado um adversário com um murro), para dominar o chefe do rebanho. Touro dominado, agulha em ação. Mas quando uma vaca também deu trabalho, o prático cismou e ficou longe. Alguém gritou aconselhando:

— Vai lá Costinha, que a vaca é mansa!

O prático e humorista Costinha respondeu rápido como um raio:

— Mansa era minha mãe e meu pai tinha “medo dela”.

E aguardou um pouco por melhores condições.

Falamos sobre prudência, que é o ato de se prevenir contra possíveis danos. Jesus, em suas pregações, já aconselhava a prudência como uma das várias virtudes existentes. Repetindo o Mestre o povo cita a sua maneira: cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Mesmo assim o imprudente ainda age em todas as esferas. Fosse à cautela resguardada e o brasileiro excursionista não teria morrido de frio em terras africanas. Milhares de mortes e mutilações no trânsito também não estariam acontecendo. Acidentes do trabalho e os domésticos fazem parte de alarmantes estatísticas. É como o homem que ofende e não espera reação. A prudência ainda continua sendo uma das grandes virtudes desse mundo, mesmo para humoristas como Costinha, alertado pelos coices, resistência e o BERRO DA VACA.