O JEGUE DE BANDA MEL (CLERISVALDO B. CHAGAS. 23.2.2010) BLOG DO AUTOR: http://clerisvaldobchagas.blogspot.com Jumento , jegue, asno, inspe...

O JEGUE DE BANDA MEL

O JEGUE DE BANDA MEL

(CLERISVALDO B. CHAGAS. 23.2.2010)
BLOG DO AUTOR: http://clerisvaldobchagas.blogspot.com

Jumento, jegue, asno, inspetor, babau... Despontou no mundo desde a chamada pré-história. É originário da Abissínia, país africano localizado no chifre da África, cuja capital é Adis-Abeba. A Abissínia é considerada por muitos como o país mais antigo do mundo e berço do homem mais moderno. A língua oficial desse país do oeste africano é o Amárico. Foi daí que o Equus asinus, ou melhor, o jumento, espalhou-se pela África, Ásia e o planeta inteiro. Aqui no Brasil esse animal de porte médio serviu muito e ainda serve nas regiões rurais, conhecido por várias raças como a Pega (ê) e a Canindé. Possuindo força extraordinária, o jumento é motivo de piadas pelo exagero do órgão sexual, pela teimosia e mesmo pelas aventuras quando em bando selvagem. A ele devemos muito, pois transportou as nossas mercadorias pelos sertões longínquos. No caso particular de Santana, foi o jumento que abasteceu a cidade durante décadas com água do rio Ipanema. Uma dívida impagável ao animal que tem a cruz no lombo. Pelo menos ganhou estátua em praça pública que foi motivo de polêmica entre os insensíveis. O jumento já foi decantado em prosa e versos, por cronistas, historiadores, poetas, escritores, jornalistas, quando alcançou o ápice com o cantor e sanfoneiro Luiz Gonzaga.
Não pude deixar de rir quando li o apelo do colega Fábio Campos ao Valter Filho do site Santana Oxente. É que sua crônica “Meus Documentos, Pergunte a Esse Jegue” (título quase imoral), estava na pauta há vários dias e precisava urgentemente ser substituída. O colunista, então, enviou através do mural de recados o seguinte apelo: “Valtinho! Atualize aí minha coluna rapaz! Já enviei outras crônicas. Essa do jegue (de novo?) já está na tela há muito tempo!” Para quem conhece o Fábio Campos, fala mansa e arrastada, conseguiu ver o rosto choroso do colunista e a preocupação estampada no apelo. Ri das duas coisas, do apelo e da redação. Eis que a crônica sobre o jumento foi substituída pela benevolência do Valter e surgiu à outra intitulada: ”A Ressaca do Carnaval de Banda Mel”. Diverti-me mais uma vez à custa de meu amigo. Como um teatrólogo, ele tangia o jegue de cena e entrava o vidraceiro “Banda Mel”, figura folclórica de Santana do Ipanema. Logo imaginei Banda Mel montado no jegue; tangendo o babau para ocupar o seu lugar; desesperado com a presença do jumento.
Banda Mel tem residência à Praça Frei Damião. Gente muito boa e competente profissional. Mas quando conversa com a lourinha, não tem cristão vivo que aguente. Uma das características do homem magrinho e moreno é falar explicadamente mastigando cada palavra, demonstrando inteligência, educação e conhecimento. Mas é como se sabe, a marvada bota tudo a perder. Todavia, o problema para desenhar a crônica é que Banda Mel não possui jumento algum, pelo menos que eu saiba. Acho que deve ter pegado uma carona no inspetor do meu amigo Fábio Campos. E para distrair a seriedade do cronista, vamos imaginando o vidraceiro bem alegre, paletó e gravata, entrando em cena montado e, o autor da “Ressaca” anunciando com megafone nos bastidores: Atenção senhoras, apresentamos no momento o formidável, o fabuloso, o incrível, o imoral JEGUE DE BANDA MEL.

(NOTA: Friso nosso)



PUNHAL ENFERRUJADO (Clerisvaldo B. Chagas. 22.2.2010) BLOG DO AUTOR: http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/ Em Santana do Ipanema, décad...

PUNHAL ENFERRUJADO

PUNHAL ENFERRUJADO

(Clerisvaldo B. Chagas. 22.2.2010)

Em Santana do Ipanema, décadas 50/60, havia um doido conhecido pelo vulgo de “Coleta”. Lembramos muito bem da sua figura alegre usando chapéu de palha quebrado nas laterais. Coleta costumava fazer o trecho do Largo da Feira, entre o mercado de carne e a Igreja Matriz de Senhora Santana. Sua parada predileta era na padaria de Isaías Rego, onde recebia seus admiradores. Ninguém mexia com o doido, apenas falava animado com ele e, Coleta respondia fazendo gestos de esfaquear. “Olhe o punhal velho enferrujado!”
Ainda refletindo sobre a política, ficamos admirados com o vigor físico dos candidatos. O postulante a vereador percorre todos os sítios existentes na área rural e todas as ruas da cidade. Esse conhece, sem dúvida alguma, as bibocas do sertão e sabe exatamente onde o cão dorme, cochila e come. Uma vez eleito, com prestígio ou sem prestígio do Executivo, naturalmente continua suas peregrinações. É que o edil não tem nada a perder. Se conseguir realizar os pedidos dos eleitores, fica feliz; se não conseguir, escora-se na doce vingança de atribuir a falta ao chefe do município. Tirando os eleitores mais exigentes, os outros se conformam com apenas a presença da autoridade, como sinal de bom relacionamento.
Por outro lado tem o candidato a prefeito. Esse é guiado pelos vereadores ou postulantes pelas estradas, trilhas e veredas. Se não tem energia, arranja, mas vai percorrendo vales, grotas e montanhas na ansiedade febril de conquistar os munícipes. Além do gasto exorbitante do real, as promessas miraculosas levam finalmente o indivíduo ao éden insistentemente desejado. Uma vez com seus paramentos na cadeira fofa, a lógica se inverte como as gangorras da nossa juventude. Antes, uma pessoa preocupada com o porvir do município e o bem-estar dos cidadãos; um futuro empregado do povo, pago para administrar honesta e corretamente seus bens. Agora, um reizinho a mais no emaranhado político do País. Uma autopromoção a dono do município, patrão de todos e não mais gerente do povo. Na campanha podia, agora não pode mais aumentar salário, nem promover a Cultura, nem assegurar a Educação... Nada pode. Contudo, apresentar bandas caríssimas em espetáculos de macaquices com o dinheiro do contribuinte, pode. Em geral não existe uma equipe, existe um bando que freneticamente imita o ritmo sem parada das saúvas cortadeiras. Pobre reino de César, de Calígula, de Nabucodonosor... De fulano de tal. Final de mandato, malas arrumadas, voos para chácaras, fazendas, Europa... E o eleitor que recebeu uma onça ou outro bicho qualquer, cabisbaixo, humilhado, desmoralizado, se levantar a cabeça vê somente passar o rabo do avião. O bando se desfaz e fica cada um a espera de qualquer outro chamado para novo saque.
Não se preocupe meu amigo. Nada disso que foi dito acima é verdade. É apenas ficção de romancista. No sertão do Nordeste brasileiro não ocorre isso não. Mas, se você tem dúvidas, nas próximas eleições, ao abrir a porta para quem bate, fique atento; pode ser um “Coleta” travestido: “OLHE O PUNHAL VELHO ENFERRUJADO!”

LÁ VEM O VELHO FÉLIX (Clerisvaldo B. Chagas. 19.2.2010) (Blog do autor: http://clerisvaldobchagas.blogspot.com) Diga conosco: “Lá vem o...

LÁ VEM O VELHO FÉLIX

LÁ VEM O VELHO FÉLIX

(Clerisvaldo B. Chagas. 19.2.2010)
(Blog do autor: http://clerisvaldobchagas.blogspot.com)

Diga conosco:

“Lá vem o velho Félix
Com o fole velho nas costas
Tanto fede o velho Félix
Como o fole do velho Félix fede.

Esse fraseado todo se chama trava-língua. Essa linguagem curiosa sempre foi motivo de brincadeiras entre amigos. O trava-língua também foi muito usado entre os cantadores de pagode, emboladores e até por repentistas-violeiros. Ninguém acha fácil fazer uma leitura de trava-língua, quanto mais cantá-lo.
A política brasileira é interessante, tanto no todo quanto na forma regionalista, principalmente no Nordeste dos antigos coronéis. Até certo tempo atrás, na segunda metade do século XX, caso um prefeito não tivesse em sintonia com o governador, teria como certo um poderoso adversário para lhe fazer sombra e raiva. O chefe-político era essa figura que, por um lado, aliviava os seguidores da oposição, por outro, roubava completamente o prestígio do prefeito. Nesse caso havia quase sempre dois mandatários no município: o de fato e o de direito. Quando o eleitor não conseguia um favor com o chefe do executivo, recorria ao chefe-político que apelava para o governador.
Mas existe outra coisa também interessante na política. Quem entra fica deslumbrado com o poder, as mordomias, as facilidades e as bajulações. Não quer sair mais nunca da arte de governar. É como se tivesse ganhado um pedacinho do céu que, para defendê-lo, usa unhas, dentes, coices e mordidas. O leitor procura gente nova, jovens idealistas inteligentes e capazes, mas quando esses jovens aparecem, quase sempre é a continuação genética dos poderosos. A grande maioria não tem aptidão nenhuma de governar o povo. Mas o tronco velho insiste em colocar o rebento no mesmo ramo. Se puder, coloca também a empregada, o papagaio, o cachorro porque tudo significa dinheiro e poder. A próxima eleição, a próxima e a próxima, são os mesmos, os mesmos e os mesmos. O político brasileiro não procura servir ao seu povo, mas sim, servir-se do povo. Qualquer profissional como um médico, um professor um empresário, como exemplo, tira o seu tempo de mandato e não quer mais voltar à antiga profissão. Não já ocupou o cargo público? Por que não dá vez a outro? Não, o político de primeiro mandato começa a tratar a política como emprego permanente. Lembrando as eleições passadas, só os políticos profissionais tinham oportunidade. Homens e mulheres de outros segmentos debateram em vão os problemas do estado. Enquanto não houver rigorosas punições para os desvios de conduta, como nos países desenvolvidos, os velhos continuarão criando novas raízes igualmente às bananeiras. Você quer votar nas próximas eleições para governador, deputado, senador? Prepare-se para votar nos mesmos. Ô sina triste dos nordestinos. Pior de que a situação de Cuba: sem liberdade de escolha, mas sem corrupção. Pode ser até que um novato quebre o círculo. Você acha fácil? Então diga conosco: LÁ VEM O VELHO FÉLIX...