Ô MUNDO VELHO (Clerisvaldo B. Chagas. 5.3.2010) Para os colunistas Avelar, Malta Neto, professor Valter Filho e o radialista Flávio Henriqu...

Ô MUNDO VELHO

(Clerisvaldo B. Chagas. 5.3.2010)
Para os colunistas Avelar, Malta Neto, professor Valter Filho e o radialista Flávio Henrique

Quando os escravos ganharam a liberdade no Brasil, houve um momento de euforia, logo seguido de tristeza. Os senhores das terras – com suas mentes rancorosas – diziam aos negros, não aceitá-los mais ali. Se eles estavam libertos, procurassem novos rumos. Assim, os pretos que trabalhavam sol a sol e eram castigados nas desobediências, pelo menos tinham abrigo e comida. Com a liberdade assegurada, os ex-escravos não sabiam como aproveitá-la. Expulsos das fazendas dos patrões, sem terras para cultivar, formaram levas de mendigos pelas ruas de povoados, vilas e cidades. Um dos mais tristes e vergonhosos episódios da história do Brasil.
Após a Segunda Guerra Mundial, também houve uma libertação em massa dos países africanos. Quando os donos do mundo se retiraram da África, deixaram aqueles povos piores do que a situação dos ex-escravos brasileiros. É que tribos inimigas ficaram dentro de um mesmo país e aldeias amigas ficaram separadas. Ainda hoje o continente sofre as consequências de ambas as coisas: a exploração do início e o abandono do depois. Como no Brasil, sem técnicas agrícolas, sem recursos, sem instruções, os africanos se prolongaram em infinitas guerras tribais. Muitos desses embates tiveram suas armas financiadas pelas ex-metrópoles. Em alguns lugares da África o jovem morre antes dos trinta anos, de AIDS, de fome ou de tiros. Os brancos da Europa pareciam dizer: “Eles que se acabem; quem vai se meter em brigas de negros e pobres”.
Pois foram essas populações de negros e pobres que incomodaram a fatia rica com as imigrações clandestinas em busca de melhores dias. Se os países desenvolvidos e imperialistas europeus tivessem deixado a África estruturada, hoje teriam ali uma grande reserva alimentar para exportação. Não estamos nos referindo as plantations de algodão, amendoim, cana e chá. Como alimentar a Europa agora e no futuro? Olhem a falta que faz o continente africano com cerca de trinta milhões de quilômetros quadrados (quase quatro vezes maior do que o Brasil) se tivesse sido incentivado a produzir. Mas o que apareceu foi apenas o fomento das guerras tribais e a ganância pelo trono. Em um planeta onde parte dele tem como solidariedade o brilho das armas ao invés do reluzir da razão, tem mesmo que sofrer as consequências da Natureza.
A presença do Brasil na África parece aplicar uma lição diplomática aos responsáveis pela situação em que deixaram o “berço da humanidade”. O esporte, agora com a copa do mundo no país mais meridional daquelas terras, talvez desperte as consciências nubladas mais do que nunca. É que ainda existe a tentativa de esconder a face como no teatro grego. Com certeza não será em vão a luta do bispo Desmontutu, de Nelson Mandela e de outros gigantes negros e iluminados, cujos exemplos percorrem savanas, florestas e desertos. De que vale o tempo se o Século XXI continuar semelhante ao XIX? Sim, esse mundo é de expiação, onde se misturam bons espíritos e degredados, mas o que fazer? Nele estamos e por ele lutaremos com suas virtudes e desigualdades que tanto incentivam o bem quanto o mal. Ô MUNDO VELHO!
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CHIBATA NO LOMBO (Clerisvaldo B. Chagas. 04.3.2010) No Brasil , os castigos corporais na Marinha, foram abolidos um dia após a proclamação ...

CHIBATA NO LOMBO

CHIBATA NO LOMBO

(Clerisvaldo B. Chagas. 04.3.2010)
No Brasil, os castigos corporais na Marinha, foram abolidos um dia após a proclamação da República. Um ano depois, contudo, voltaram à legalização. Entre os castigos impostos estavam as 25 chibatadas que levaram à revolta dos marinheiros. Esse levante passou à história com o nome de “Revolta da Chibata” e teve início na noite de 22 de novembro de 1910. Os dois navios de guerra mais importantes do Brasil, os encouraçados “Minas Gerais” e “São Paulo”, ficaram sob o domínio dos revoltosos. Ameaçando bombardear o Rio de Janeiro, os marujos ─ comandados pelo sergipano João Cândido ─ negociaram com o presidente Hermes. Com as promessas de Hermes da Fonseca, os homens depuseram armas. Fazendo papel de homem sem palavra, o presidente ignorou o que havia prometido inclusive anistia. Muitos foram expulsos da Marinha; 16 morreram por sede, calor em sufocamento nos subterrâneos da ilha das Cobras; nove foram fuzilados entre 105 destacados para a Amazônia. João Cândido, marujo preto e comum, escapou da morte na ilha, mas foi internado no Hospital dos Alienados como louco e indigente. Só em 1912 veio a absolvição que não devolveu a vida àqueles que tombaram.
Por aí se ver, que a falta de palavra na ética nacional vem de longe. Alagoas também tem algo a ver com a chibata. Em torno dos anos 60, entre os vários candidatos havia um chamado Ari Pitombo. Baseados em sua fama, os adversários diziam como slogan de campanha ao contrário: “Quer levar chibata no lombo, vote em Ari Pitombo”. O símbolo do açoite não estava somente na Zona da Mata dos Senhores de Engenho. Achava-se presente também no Sertão dos Coronéis fazendeiros que ─ igualmente aos Senhores de Engenho do Nordeste e aos Barões do Café do Sudeste ─ cometiam atrocidades medievais.
Quais as diferenças de 1910 para 2010 (cem anos depois)? Dirigentes continuam com a mesma palavra de Hermes da Fonseca e a população sem um João Cândido para defendê-la. As chibatadas da Marinha, dos Ari, dos Coronéis... Continuam mais ativas do que nunca. Agora não mais trançadas com agave ou caroá, mas sim com a matéria-prima corrupção que é muito flexível e abrangente. Está nos taturanas, nos gabirus, nos Arruda, nas prefeituras, câmaras e Senado (Deus salve a minoria), matéria diárias dos jornais. Esse látego de fogo enraizado na cultura do rato, do catita, da ratazana, continua. A corrupção é a mãe da safadeza que atua às costas do nativo. É como se os políticos (não os corretos), dissessem após as vitórias da seleção brasileira de futebol: “Agora, povo, se ajoelhe que lá vai CHIBATA NO LOMBO”

MATUSALÉM SOLTEIRÃO DO CD “SERTÃO BRABO” – DEZ POEMAS ENGRAÇADOS (Clerisvaldo B. Chagas. 3.3.2010) Matusalém já maduro Também era ignorant...

MATUSALÉM SOLTEIRÃO

MATUSALÉM SOLTEIRÃO
DO CD “SERTÃO BRABO” – DEZ POEMAS ENGRAÇADOS
(Clerisvaldo B. Chagas. 3.3.2010)

Matusalém já maduro
Também era ignorante
Não era comerciante
Vivia emprestando a juro
Tipo solteirão pão-duro
Não gostava de querela
Olhava de retrevela
Pra Osóra Bitulina
Todo dia na esquina
Via o rebolado dela

Na quina da padaria
Todo dia ele ficava
Pra vê quando ela passava
Sem nunca dá ousadia
Se ela olhava nem via
Matusalém na esquina
Ele ligava as turbina
Mas o motor era fraco
Ficava que nem macaco
Pra os lado de Bitulina

Na segunda ela passou
Com fi’ de Zé Vaqueiro
Na terça com um boiadeiro
Na quarta não passeou
Mas na quinta desfilou
Com Luís do Caminhão
Na sexta com Bastião
No sabo com o delegado
Vestido branco colado
Domingo com Zé Negão

O veio pra ser visado
Com sua cara de fole
Comprou chapéu aba mole
De derrubador de gado
Um cinturão de sordado
Um jaquetão do Nordeste
Comprou pra fazer um teste
Duas botas de vaqueiro
Um zocle de motoqueiro
Ficou parecendo a peste

Dez da noite Bitulina
Vestida na maior bossa
Cinta fina, perna grossa
Chegou perto da esquina
Mas vinha com João Buzina
Um ricão da burguesia
Que lhe disse assim: “vigia
Tome aqui um bom trocado
Pra você ficar ligado
Beba uma cerveja fria”

Matusalém se danou-se
Com o engano de João
Meteu os zocle no chão
Puxou a roupa e rasgou-se
Passou um gay agradou-se
Lhe disse: “meu bem, meu papa”
Precisou tomar garapa
Depois de surra moderna
Inda hoje vira à perna
Quando se alembra do tapa

Matusalém com paixão
Foi à casa de Muzumba
Mode encomendar macumba
Porque tava sem ação
Queria botar cambão
No seu amor verdadeiro
Depois de gastar dinheiro
Quase morre sem futuro
Viu Bitulina no escuro
Com Muzumba macumbeiro

Já com a ideia tonta
Igual cachorro buldogue
Tomou uns dois ou três grogue
Amolou faca de ponta
Depois bebeu mais da conta
Foi procurar sua paca
Pra ele só arataca
Pois Osóra quase preta
Fugiu com Janjão Marreta
Pras banda de Arapiraca

Matusalém foi pra casa
Triste que só bacurau
Quebrou a cama de pau
Jogou a roupa na brasa
Feito cavalo de asa
À rua toda abalou
Tirou as calça e mostrou
Já num beco sem retorno
Chamava o povo de corno
Veio a poliça e levou

Matusalém hoje em dia
De mulher não quer saber
Quando o dia quer morrer
Na quina da padaria
O gay Suzana Maria
Com vestido vaporoso
Vem atrás do seu pintoso
Vão beber lá na bodega
Ou no bar curtindo um brega
Do lourinho Arly Cardoso.

FIM