O SÁBIO DA CANOA Clerisvaldo B. Chagas, 10 de agosto de 2012. Crônica Nº 839 Canoa. (Fonte: Luís Nassif. On line). É conhecida...

O SÁBIO DA CANOA


O SÁBIO DA CANOA
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de agosto de 2012.
Crônica Nº 839

Canoa. (Fonte: Luís Nassif. On line).
É conhecida a história do sábio da canoa e bem provável que o leitor a conheça com outros ingredientes. Faz parte de narrativas que se perdem de livros ou de criações orais contadas vez em quando. Certo dia surgiu um sujeito todo engomado e duro como cabo de vassoura, às margens do rio São Francisco. Um canoeiro aproximou-se e indagou se queria atravessar. A resposta foi positiva. Depois de acertarem o preço, o passageiro, vestindo terno branco e chapéu panamá, colocou seus apetrechos na embarcação e acomodou-se na travessa. O canoeiro começou a remar e a canoinha singrava as águas que era uma beleza! De repente o ilustre passageiro começou a perguntar ao pescador mal vestido e analfabeto, se ele sabia falar francês. O remador respondeu negativamente. O sábio então lhe disse: “O senhor perdeu 10% de sua vida”. Canoeiro calado, o sábio pernóstico indagou se ele dominava o idioma inglês. Nova resposta negativa, novo prognóstico: “O senhor já perdeu 20% da sua vida”. Naturalmente o pescador não estava gostando daquele diálogo e começou a detestar o passageiro. Quando o sábio indagou pela terceira vez, com a mesma explicação, formou-se uma tempestade que chegou rápido até o pequeno e frágil veículo. O canoeiro, então, perguntou por sua vez se o intelectual sabia nadar. Como a resposta foi negativa, o pescador disse para o engomado: “Pois o senhor acaba de perder a vida toda”, abandonou a canoa e saiu nadando.
Muita coisa já foi feita em benefício do nosso País. Nós brasileiros, continuamos, entretanto, insatisfeitos, com as péssimas administrações dos nossos prefeitos que não trazem o desenvolvimento para as cidades, desviando descaradamente a verba pública, amparados em famigerados contadores e defensores de bandidos. Os escândalos trazem luz aos desmantelos, vários colarinhos examinam as quatro paredes do xadrez, mas logo, logo estão na rua a zombar dos seus adversários políticos e vibrando com as farras de regozijos dos correligionários. Houve tempo em que se dizia que se o Brasil não acabasse com a saúva, a saúva acabaria com o Brasil. Podemos atualizar a frase trocando a saúva pela corrupção.
Os políticos tornaram-se especialistas em defesa dos seus interesses. Muitos nem incentivam mais os filhos ao trabalho, mas os colocam na mesma trilha de sucessão para o dinheiro fácil. Nada temos contra os políticos exemplares que graças a Deus ainda surgem. Todavia, parece mesmo que somente uma ordem divina pode exterminar esse tipo de saúva. E se o leitor amigo quer saber, eles nadam corretamente diante das tempestades, à semelhança do canoeiro. Nós, formadores de opinião e povo, ficamos à deriva, ao sabor do tempo brabo, sem saber nadar, infelizmente, como O SÁBIO DA CANOA.

VELHO SERTÃO DE GUERRA Clerisvaldo B. Chagas, 9 de agosto de 2012. Crônica Nº 838 Monumento ao Jegue em Santana do Ipanema - AL. ...

VELHO SERTÃO DE GUERRA


VELHO SERTÃO DE GUERRA
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de agosto de 2012.
Crônica Nº 838

Monumento ao Jegue em Santana do Ipanema - AL.
Fatores positivos e negativos foram deixando abandonado o nosso Sertão. Faixa geográfica menos habitada em todos os estados nordestinos, o Sertão sofre muitas influências que contribuem para o seu despovoamento. Falando sobre o semiárido alagoano, em nossas andanças pelas estradas vicinais, vamos notando a volta da vegetação em forma de capoeira, em vários lugares. Ali é de se notar uma grande variedade de passarinhos, antes quase extintos, cantando aos bandos por cima das juremas. Proprietários de terras de mil tarefas, quinhentas, duzentas, perderam a mão de obra da família e dos arredores. Atraídos pelos encantos das cidades, a nova geração vai morar nos aglomerados, para trabalhar por salário e estudar com a facilidade ofertada pelo governo. Antes a família rural enchia-se de filhos para ajudar na lavoura, mas, mesmo quem ainda continua assim, vão vendo os filhos partindo para a cidade. Os velhos vão ficando sozinhos sem a força filial e não conseguem dá conta da fazenda. A produção se reduz a quase zero e as capoeiras tomam conta do que antes era roçado de milho, feijão, algodão... A vizinhança não ajuda porque está na mesma situação. Sem poder contar mais com os pobres que agora não querem mais trabalhar alugado por causa das tantas bolsas que recebem, está aí o campo com a palma dentro do mato e os passarinhos se reproduzindo.
Aqui no Médio Sertão de Santana do Ipanema, Alagoas, percorrendo vimos o óbvio. As serras do município como Poço, Gugi, Camonga e outras que abasteciam a cidade de frutas, já não fazem isso. Ficaram famosas na região pela variedade e qualidade dos seus produtos, mas não renovaram suas matrizes. A juventude deixou o clima serrano pelo trabalho citadino, pela escola e outras atrações irresistíveis aos moradores da roça. Faz pena passar os olhos sobre o desmatamento improdutivo também das serranias. Os alimentos vão chegando de municípios cada vez mais distantes, de outros estados, como refugos e preços exorbitantes. Desconhecemos qualquer preocupação para reverter o quadro em que vamos assistindo.
“É caminhar para frente”, como se diz por aqui, mas não enxergamos ainda alguma luz do outro lado. Agora, que alguma coisa tem que ser feita tem. Será que é caso para se deixar de lado alegando que o governo sabe o que faz? Da nossa parte, cabe apontar o que vem acontecendo em nossas plagas. Vamos apenas espalhando solidariedade ao nosso VELHO SERTÃO DE GUERRA.

O IMPOSSÍVEL Clerisvaldo B. Chagas, 8 de agosto de 2012. Crônica Nº 837 Julgamento. (Fonte: Uol). Quando o palhaço surgiu no ...

O IMPOSSÍVEL


O IMPOSSÍVEL
Clerisvaldo B. Chagas, 8 de agosto de 2012.
Crônica Nº 837

Julgamento. (Fonte: Uol).
Quando o palhaço surgiu no picadeiro, a salva de palmas cobriu. E naqueles bons tempos da Era 60, ficamos aguardando as novas piadas que, antecipadamente, já íamos festejando. Nem adiantava a invasão do cheiro da pipoca lá de fora; nem mesmo a passagem do tabuleiro de doces sob os nossos narizes. Estávamos de olhos grudados no ótimo palhaço de todas as noites. Lá vem o sujeito, cara pintada, mandioca enrolada e sapatos bicos longos. Só as presepadas do danado já proporcionavam uma alegria imensa na plateia composta de adultos e adolescentes. Dando voltas pelo picadeiro, fazendo gestos de cinema mudo, o povo aplaudia mesmo porque o danado de fato era o rei do riso. Quando o galã da contra sena indagou porque ele não tomara banho, o palhaço respondeu que em casa tinha bem pouquinha água. O primeiro, então começou a lhe ensinar como tomar banho na escassez. “Você vai lavando os braços até onde é possível. Depois vai lavando as pernas até onde é possível. Lava a barriga, a cabeça, até onde é possível e pronto, está o banho tomado”. É aí que o circo quase vai abaixo quando o palhaço indaga com a cara mais sem-vergonha do mundo: “Seu menino, que dizer que ninguém lava o impossível?!”
Estamos vivendo um momento diferente, inédito no Brasil que é o julgamento conhecido como mensalão. Alguém proíbe a “farra do boi”, e tantas outras farras por aí, porém, o dinheiro do Brasil parece que só dá para pagar a político, tanto na parte legal quanto a ilegal e a banda fantasma das mordomias, que nem todo esforço do mundo consegue saber quanto ganha no total um deputado, por exemplo. Enquanto a pressão popular aguardar na inércia, jamais saberemos o que se passa de fato nos bastidores financeiros dos nossos representantes. A tal caixa-preta do poder, é muito mais fechada e à prova de choques do que a do avião francês que mergulhou no mar. O que aconteceu na verdade pelos bastidores dos que estão sendo julgados? Entre acusação e defesa vai escorrendo a desilusão do povo brasileiro que espera um dia contar com a verdadeira justiça para todos. Estamos revivendo à contra sena do circo do passado, quando vemos os ilustres das gravatas se lavando, se lavando até onde é possível. E no fim de tudo mesmo, nem temos a ilusão de que seja lavado também O IMPOSSÍVEL.