LAMPIÃO NA GRÁFICA Clerisvaldo B. Chagas, 23 de setembro de 2012. Crônica Nº 870 Foto: Wikipédia Alívio! Finalmente depois...

LAMPIÃO NA GRÁFICA



LAMPIÃO NA GRÁFICA
Clerisvaldo B. Chagas, 23 de setembro de 2012.
Crônica Nº 870
Foto: Wikipédia

Alívio! Finalmente depois de tanta luta, levamos “Lampião em Alagoas” para brigar com o dono da gráfica mais pujante do estado. Escrever um livro com responsabilidade pode até ser fácil, mas a dose de paciência é sem limite. Nossa previsão era fazer lançamento no dia 28 de julho, mas as coisas não somente dependem de nós. É fase da pesquisa, ordem, correção, acréscimos, cortes, digitação e tantas e tantas coisas mais para que possamos apresentar um documento como verdadeiro e limpo. Depois de tudo pronto, surge o problema monetário que não poucas vezes puxa na camisa por trás. Tudo resolvido, os autores entregam o livro à gráfica, discutem os detalhes e ficam aguardando a prova, também chamada vulgarmente “boneca”. De posse da prova, novo polimento nos nervos, olhos atentos e, original ao lado. Após essa transição, vem o nascimento da obra, beijada por todos os lados pelos autores. O primeiro filho ou mais um, não importa, a emoção sempre está presente. Ainda falta a parte do planejamento para a entrega ao público, local a ser escolhido, modelo de convites, cartazes, divulgação na mídia, recepção aos convidados e vendas, autógrafos e, a última etapa, ir para casa descansar.
Falamos cedo demais sobre as nossas pretensões e sem querer, causamos uma expectativa forte. Cobranças agora nos chegam de todos os lugares e inúmeros pedidos já são apalavrados. Como o mais difícil já foi feito, agora é ter mais um pouco de paciência, para reviver os episódios isolados, lampiônicos, em Alagoas, narrados por diversos autores em livros, artigos, revistas, mais documentos e narrativas orais. Essas narrativas isoladas foram coordenadas pelos autores, seguindo a ordem cronológica sempre que possível. O conjunto de episódios organizados com mais algumas novidades, formam um todo que recebeu o título de “Lampião em Alagoas”. A história do célebre cangaceiro vai desde 1918 (quando os Ferreira vieram para Alagoas) até 1938. Acrescentamos por exemplo “o casamento de Corisco e Dadá”, o “verdadeiro matador do pai de Virgolino”, a morte do “coronel Lucena” e outros atos inéditos. Quase em estilo acadêmico, o livro tem apresentações de Inácio Loiola e Silvio Bulhões (filho de Corisco e Dadá).
“Negros em Santana”, um paradidático de pouco mais de cinquenta páginas, também está em outra gráfica. Os dois poderão ser lançados juntos, em Maceió, Santana, Piranhas, Batalha, Palmeira dos Índios, Cacimbinhas, Pão de Açúcar, Mata Grande, Delmiro, Água Branca, Inhapi, Pariconha, Jirau do Ponciano, Dois Riachos, Poço das Trincheiras, Ouro Branco, Maravilha, Olivença, Major Isidoro, São José da Tapera, Traipu... Municípios que viveram episódios de cangaceiros e são citados. Aguardemos o resultado do combate de LAMPIÃO NA GRÁFICA. 

PENSE NISSO Clerisvaldo B. Chagas, 21 de setembro de 2012. Crônica Nº 869 Nada melhor de que ouvir excelentes repentistas numa...

PENSE NISSO

PENSE NISSO
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de setembro de 2012.

Crônica Nº 869


Nada melhor de que ouvir excelentes repentistas numa cantoria de parede. Na gíria do mundo do improviso, isso quer dizer, uma cantoria em casa de fazenda, principalmente, durante uma noite inteira. Quem gosta da inteligência criativa em debate, conhece todas as gírias, truques e situações dos cantadores nordestinos. Muitos viraram imortais e seus nomes andam de boca em boca de outros cantadores ou de apologistas sensíveis à criatividade. Foi assim, contam de pai para filho, que dois cantadores cantavam no antigo estado da Guanabara, a convite do governador Negrão de Lima. Um deles teria sido o famigerado Severino Pinto, o outro não lembramos. Pediram para que Severino defendesse a Paraíba e o outro cantador, a Guanabara. Sem inspiração, Pinto estava perdendo e o companheiro sendo aplaudido, até que Severino virou o jogo com uma das mais belas e ricas sextilhas. O parceiro, depois de desmontar o estado do Nordeste, havia encerrado a estrofe, dizendo:

E de bom na Paraíba
Só a Rádio Tabajara.

Foi tudo que Severino precisava para “pegar na deixa”, isto é, iniciar sua estrofe rimando com a última palavra da estrofe do companheiro:

O que vi na Guanabara
Foi negro morando em morro
Carro atropelando gente
Enchendo o Pronto Socorro
Ladrão batendo carteira
Mulher puxando cachorro.

Os aplausos de pé, não deixaram mais Severino perder espaço.
Além da rima preciosa (orro), a metrificação perfeita, e a criatividade divina, a estrofe ocasional do célebre cantador ficou no bronze da literatura popular oral. Mas, se apreciarmos esse trabalho prazeroso, vamos observar também que existe algo mais na filosofia sutil do repentista. As nossas convicções são repassadas para os outros conforme o nosso modo de pensar e ver. Assim discutimos com o outro glóbulo branco que vem devorar o nosso. Para o primeiro cantador, o estado da Guanabara era uma maravilha, onde só havia o que era bom. Severino vê aquela terra tão bonita por novo prisma. Pressionado pelo adversário, é capaz de encontrar, rapidamente, defeitos no céu alheio. Resumindo a lição de hoje: Nós só enxergamos o que queremos enxergar. PENSE NISSO.