MINHA RUA Clerisvaldo B Chagas, 25 de novembro de 2013 Crônica Nº 2092 Vendo na Internet companheiros de infância ausentes há t...

MINHA RUA



MINHA RUA
Clerisvaldo B Chagas, 25 de novembro de 2013
Crônica Nº 2092

Vendo na Internet companheiros de infância ausentes há tempos, chegam vez em quando as lembranças dos nossos passos na aurora da vida na Rua Antônio Tavares, a primeira rua de Santana. Essa via onde moravam os meus pais estava sempre em festa pela movimentação das pessoas adultas e da meninada. Lembro muito bem da vizinhança. Ali do outro lado, na parte alta, chegava de Olivença o senhor Manezinho Quiliu com a família cheia de moças, para ornar o trecho. Do povoado Pedrão, município de Olho d’Água das Flores, veio o senhor Antônio Marceneiro, dona Maria Neris e seus filhos. Mulher de garganta boa, costureira e puxadeira do Ofício de Nossa Senhora, onde fosse convidada. Zé Urbano e Dona Florzinha com meio mundo de filhos; o esquisito Alfredo Forte, sapateiro e ermitão com duas filhas que não saiam de casa.
Aquele jogo de bola na rua poeirenta irritava minha mãe, Helena Braga das Chagas. Lá ia o Antônio Januário Neris jogando na defesa e frustrando todos os nossos ataques com suas paetadas. O senhor Júlio Pisunha fabricava colchões de junco para vender na feira. Demolido o imenso casarão, feita a reforma, Carrito passa a negociar numa bodega de esquina e aconselhar o povo. Seu Né Lecor mostrava mansidão grande nos cabelos brancos e no puxado dos cigarros. Cubava terras e diziam que na juventude fora cabra macho. Dona Ester de José Camilo lia histórias de cordel para nós. Quando as boiadas passavam até davam medo aos moradores. Seu Antônio, pai de Severino, vendia doces da distribuidora NEUSA. Ali pertinho morava Dona Zora, cujo nome me chamava atenção. Antonio Porqueiro e sua filharada moravam na casa onde fora de dona Zifina, avó do escritor Oscar Silva. Otávio Marchante fora ocupar a casa do senhor José Camilo e já era o torcedor número 1 do Ipanema, time de futebol da cidade. A ximbra, o pinhão, a bola, corriam soltos na antiga Rua do Sebo de tantas tradições. Os primeiros namoricos começavam a povoar nossas cabeças ocupadas com recreios. Na Rua Antônio Tavares (finado dono de padaria) tinha de tudo, inclusive de juventude, era MINHA RUA.

LAMPIÃO E DUMOURIEZ Clerisvaldo B. Chagas, 22 de novembro de 2013. Crônica Nº 1091 LIVRO  "LAMPIÃO EM ALAGOAS". V...

LAMPIÃO E DUMOURIEZ



LAMPIÃO E DUMOURIEZ
Clerisvaldo B. Chagas, 22 de novembro de 2013.
Crônica Nº 1091

LIVRO  "LAMPIÃO EM ALAGOAS".
Vila Sertãozinho (atual cidade de Major Isidoro). Lampião exigiu do fazendeiro major Amaral, certa quantia. O fazendeiro alegou que não tinha no momento, mas Lampião, abusado, ordenou que um portador fosse buscar onde tivesse: “Vá e diga lá que se não vier o dinheiro, toco fogo nesta peste, mato o gado todo e o major também vai no ‘pacote’. O portador foi à vila apelar para a família do major. nessas alturas, muita gente apavorada abandonou à rua. A mulher do fazendeiro iniciou a reza num rosário implorando pela vida do esposo e  pela vila. Os filhos reunidos tentavam resolver a situação. O jovem Dumouriez Amaral era seminarista, estudava em Roma e estava com a família naquela apertada  hora. Juntaram o que puderam e o seminarista fez questão de levar. Lampião ficou impressionado com a coragem do rapaz e a força sobrenatural que ele trazia. Abrandou suas exigências e ouviu o seminarista dizer:
─ Capitão, nós só temos esse dinheiro espero ficar satisfeito e soltar meu para agora mesmo!
Lampião, já dominado, fez ar de riso e obedeceu ao rapaz. Em seguida Dumouriez o demoveu de invadir a vila. Não houve problema.
Lampião foi embora rumo a Lagoa do Jirau, fazenda entre  Palmeira dos Índios e Cacimbinhas e dali seguiu para Pernambuco.
A vila de Sertãozinho é hoje a progressista cidade de Major Isidoro, localizada no centro da Bacia Leiteira de Alagoas. Estava situada em zona perigosa, passagem de cangaceiros, uma vez que Lampião gostava de entrar no estado pela região de Mata Grande/Água Branca e sair entre Cacimbinhas e Palmeira dos Índios para alcançar as terras pernambucanas. Em quase todas as suas incursões a Alagoas, o bandido usava esse trajeto.
Ao sair naquele momento da fazenda do major Amaral, Virgolino, no município de Cacimbinhas, bateu e estuprou uma moça, recebendo uma praga raivosa do cantador repentista famoso na época, Manoel Nenem. Quanto ao caso da fazenda Brás, poderia ter terminado em tragédia ,não fosse o entendimento entre LAMPIÃO E DUMOURIEZ.
* Livro Lampião em Alagoas.

OXENTE, MALANDRO! Clerisvaldo B. Chagas, 21 de novembro de 2013. Crônica Nº 1090 A dança dos olhos prossegue por toda a viagem. Q...

OXENTE, MALANDRO!

OXENTE, MALANDRO!
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de novembro de 2013.
Crônica Nº 1090

A dança dos olhos prossegue por toda a viagem. Quem respira a Geo vinte e quatro horas por dia, cola a vista na paisagem voadora. A flora nativa parece com os últimos soldados da batalha machadeira. Os mangues são divididos na área litorânea; canaviais recobrem a ex-mata atlântica; plantas anãs enraízam em terras vermelhas agrestinas; campos artificiais surgem nos lugares das caatingas e os animais silvestres não mais convivem com o homem. A Geografia corre trechos com o fush-fush continuado dos pneus. Somente as silhuetas dos montes mostram-se eternizadas. Nas costas do asfalto cinza, desenhos amarelos empurram os veículos para à direita. Para-choques carregam nas tintas a filosofia da estrada, os avisos educados, as advertências sutis, desabafos, gritos de guerra... Propagandas. As serras longínquas estão azuladas como indivíduos que nos enganam. A carreta tombada põe marco na curva perigosa, rangem as molas, gritam as borrachas.
“Vai com Deus”. “Olá companheiro”. “Mantenha distância”. “Só Jesus salva”... Vão ensinando os guerreiros das pistas nos seus escritos formais, tortos, capengas ou borrados. Uma brincadeira, uma piada, um riso dentuço, cobrem por vezes a fumaça do motor vencido. Atenção na curva, atenção na luta, atenção na vida. E na universidade móvel dos perigos, chama atenção à frase triunfal do espertinho, do gozador que se apega a existência montado no humor diário do que nada é sério. O motorista traseiro abre os dentes na frase daquelas tábuas móveis diante de si e leva o caso para os passageiros. Os dentes de todos acompanham a arcada do motorista na rigidez do indicador. Só uma senhora muito séria parece não gostar do fraseado que lembra atitudes filiais. Rendo-me à brincadeira do asfalto, pois nem só do trabalho vive o homem, mas também das frases de muitos vagabundos. Estava escrito com letras brancas na carroceria suja: “Mãe me mandou criar juízo... Mas eu não sei o que ele come”. OXENTE, MALANDRO!