PALAVRAS DE MARDOKEU C lerisvaldo B. Chagas, 9 de fevereiro de 2015 Crônica Nº 1.362 Ilustração: (correiobrasiliense.com.br). ...

PALAVRAS DE MARDOKEU



PALAVRAS DE MARDOKEU
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de fevereiro de 2015
Crônica Nº 1.362
Ilustração: (correiobrasiliense.com.br).

Com a narrativa abaixo adaptada, Mardokeu me contou:
De acordo com a criatividade brasileira, aconteceu na guerra. Depois de acirrado combate, os inimigos bateram em retirada. Havia chegado a hora de livrar-se dos mortos e socorrer os feridos, situados à beira de enorme precipício. Entra em cena o médico de jaleco branco, acompanhado de um nervoso sargento da retaguarda. O médico vai examinando, superficialmente, os estendidos no campo de batalha. Seguindo seus passos inseguros, o sargento é acompanhado por duas praças, executoras fiéis às suas ordens. O doutor vai examinando os caídos e passando o “diagnóstico” para o sargento: “Está morto... Está vivo; está morto... Está vivo”.
Naquele triste momento, cada homem deitado representava apenas uma peça, nada mais. Os classificados como vivos eram separados dos outros. Os indicados como mortos, pelo competente doutor, seriam jogados do alto do abismo pela ordem do sargento e os braços dos soldados acompanhantes.
Um desses combatentes estava apenas desacordado e foi classificado pelo médico Como “morto”. Ao ser colocado no balanço do abismo para ser arremessado, o homem acorda, compreende a situação e grita desesperado: “Estou vivo! Estou vivo!”. E de um dos dois soldados que não podiam perder tempo com suposições, sai à voz, sinistra e arrojada: “Quer saber mais do que o médico?”.

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Em nossa marcha da vida, suada, honesta e combativa, não deixamos de encontrar obstáculos, disse Mardokeu. Uns da própria antipatia, do carma transferido; outros, frutos dos olhos de ximbra disfarçados; de sapo cururu, repletos de gordura, cobiça e inveja do intelecto inalcançável. Esses são os mais perigosos: maquiavélicos, endiabrados, mentirosos, filhos de Caim que procuram envenenar a sua fonte, colocar pedras em seu caminho e lhe excluir das rodas sociais, com o amigo Lúcifer às costas dirigindo seus passos e cubando seu sangue.
Naturalmente, muitos homens de bem são vítimas desses desassossegados que ignoram pra si o que vêm à frente.  E quanto mais você grita: “Estou vivo!”, mas eles querem lhe jogar no abismo, resmungando: “Quer saber mais do que o médico!”.
Uma dessas vítimas poderá estar lendo essa crônica amanhã ou mesmo um dos próprios olhos de ximbra, encerrou meu amigo Mardokeu.

O VEADO E O MACACO Clerisvaldo B. Chagas, 6 de fevereiro de 2015 Crônica Nº 1.361 Foto: (R7, entretenimento. Solnet/The Grosb...

O VEADO E O MACACO



O VEADO E O MACACO
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de fevereiro de 2015
Crônica Nº 1.361

Foto: (R7, entretenimento. Solnet/The Grosby Group.)
Nos anos 50 e mais um pouco, época em que a política ainda era repleta de truculência, havia dois candidatos a governador de Alagoas. Um deles, com parentela militar, era arrogante, metido a valente e bruto que só parede de igreja. Chegara a ocupar o Palácio dos Martírios, dobrando assim o perigo das suas atuações. O outro era mais manso, porém, político do mesmo jeito e, como o primeiro, também chegou a dirigir as Alagoas.
Nessa fase agitada no estado, o povo tinha prazer em ir às praças ouvir os argumentos dos discursos inflamados, muitas vezes correndo risco de vida. Havia muitos seguranças, guarda-costas ou capangas nos palanques e em pontos estratégicos com seus respectivos “mocotós de boi” debaixo dos paletós.
No decorrer de uma dessas campanhas ─ narra um cidadão santanense fã de episódios políticos e do candidato valentão ─ houve fato interessante. O candidato bruto, além de tentar desmontar o adversário com várias partes detratoras, ainda o chamou de veado. Naturalmente ganhou muitos aplausos dos seus seguidores.
Na vez do segundo candidato, no mesmo palanque, dias depois, o rival rebateu chamando o arrogante de macaco, por ele ser parecido com um soim.
No terceiro comício o primeiro postulante a governador, não quis ficar por baixo e gritou para a multidão o fraseado mais ou menos assim: “O outro candidato me chamou de macaco. Eu digo que ele é veado. E o que é que vocês têm a dizer? É melhor votar num macaco ou num veado?”.
O prezado leitor imagina a reação da plateia de rua.
Passadas algumas décadas, quando grandes comícios encontram-se em extinção, tem-se observado certa mudança de comportamento nos gogós demagógicos dos engravatados.
Quanto aos tipos de bichos da floresta, o do rabinho curto ganhou direito de lei. Pode pular mato à vontade. E o da careta já pode denunciar as ofensas recebidas.
Quais serão os novos animais estrelas de palanques?

A FACA E A PROSTITUTA Clerisvaldo B. Chagas, 5 de fevereiro de 2015 Crônica Nº 1.360 Quinca Sapateiro era personagem popular na...

A FACA E A PROSTITUTA



A FACA E A PROSTITUTA
Clerisvaldo B. Chagas, 5 de fevereiro de 2015
Crônica Nº 1.360

Quinca Sapateiro era personagem popular na minha terra. Conheci-o ainda no tempo de Admissão ao Ginásio, quando eu passava pela Rua Barão do Rio Branco, em direção à escola de Helena Oliveira, na calçada alta da Ponte do Padre. Entre os vários empregados ou aprendizes da fabriqueta de calçados de Evilásio Brito, estava o Quinca batendo sola, único deles que me ficou na lembrança.
Passaram-se décadas até que um dia deparei-me com o Quinca trabalhando na sua própria tenda, à Rua Nilo Peçanha. Reconheci-o imediatamente. Era um homem que escutava muito o rádio e gostava de imitar pessoas. A preferência pelas imitações era o Lelé, ex-tropeiro, autodidata e decoreba da Geografia. Quinca Sapateiro também preferia contar casos da cidade e comentar as notícias do estrangeiro ouvidas pelo rádio.
Segundo o jornal “Quinca”, havia um cidadão muito conhecido na cidade, cuja mulher gostava da safadeza. Quando chegava algum homem para um encontro com ela, esse encontro era na própria residência da mulher. O maridão ficava na porta amolando uma peixeira 12 polegadas e, resmungando: “Um dia eu derrubo o fato dum; um dia eu derrubo o fato dum”.
O visitante, para não demonstrar sinal de fraqueza, segundo o sapateiro, entrava pela porta estreitada, resvalando de lado, entre o portal, a faca gigante e o marido que ameaçava derrubar o fato dum.
Ninguém, entretanto, chegou, a saber, se fato algum foi derrubado, embora ninguém possa confiar totalmente em ameaça dessa gente.

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Em vésperas de eleições brasileiras, todos os candidatos prometem honestidade, trabalho e transparência.
Uma vez no poder, o sujeito trinca os dentes amolando uma 12 polegadas, para sugestionar o povo. Mas, lá nos fundos, após a porta, continua deitada a corrupção, prostituta miserável que ainda faz a alegria dos tarados.