UMA RESSACA HOMÉRICA Clerisvaldo B. Chagas, 16 de julho de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.145 TRISTEZA D...

UMA RESSACA HOMÉRICA


UMA RESSACA HOMÉRICA
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de julho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.145

TRISTEZA DAS RUAS. (FOTO: B. CHAGAS).
O amigo já ouviu falar no lagarto tiú, também conhecido por teiú e tejo? Bicho brabo de língua comprida e rabo de chicote enfrenta e derrota as cobras que encontra pela frente. Sua carne é apreciada pelo povo sertanejo e sua pele valiosa vendida na clandestinidade. Os que apreciam uma cachacinha compram o bicho por qualquer preço, driblando o serviço de proteção ambiental. Pois bem, o réptil que quase sempre leva vantagem com as serpentes, abriga-se das chuvas e do frio, aguardando o Sol. Quando o tempo abre, o teiú procura a pedra ou o lajeiro mais próximo, se estende e parece dormir captando sua vitamina D. O caçador, clandestino e esperto, conhece bem os hábitos da caça procurada pelo rastro.
Pois assim, imitando o pintado lagarto da caatinga, estava grande parte dos participantes da Festa da Juventude. A segunda-feira, sem aulas em quase todas as escolas de Santana do Ipanema; o Sol que voltou a mostrar a cara no Sertão trouxeram para cima dos lajeiros (digo, às ruas) os brincantes das chuvaradas, do frio e da “cana” exagerada da festa. Uma ressaca homérica em que até bêbados foram arrastados ao banho de sol. Fora alguns pingos de chuva sem compromisso, o azul do firmamento afastou o branco giz que imperava por aqui. Nas primeiras horas do dia e no final da tarde, ruas inteiras mostravam-se nuas, sem um pé de pessoa numa tristeza e solidão se fim. Até os bandos de espanta-boiadas recolheram-se com os humanos.
Mas o importante mesmo é a água que está caindo dos céus, transtornos nas capitais e alegria nos sertões. É da terra molhada no meio do ano que brota o pasto, que engorda o rebanho, que mata a fome do sertanejo. Os roçados enchem-se de feijão-de- arranca, milho, feijão-de-corda, macaxeira, mandioca e melancia. Escorrem os rios, murmuram os riachos, alegram-se os pássaros e a viola do repentista ecoa pelos grotões, baixadas e serranias do planeta Nordeste.
Quanta beleza no meu Sertão, meu Sertãozinho!
Jesus está no comando.

HAJA FESTA! Clerisvaldo B. Chagas, 15 de julho de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.144 PADRE JACIEL (ESQUERD...

HAJA FESTA!


HAJA FESTA!
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de julho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.144
PADRE JACIEL (ESQUERDA) e B. CHAGAS. ARQUIVO.

Quem gosta de beber, venha para Santana do Ipanema, Sertão de Alagoas, para morrer de cachaça diante de tantas brincadeiras. A cidade está barriguda com a chamada Festa da Juventude. Os santanenses retornam ao município estejam onde estiverem e chega mais e mais gente dos quatro cantos do estado. Pousadas e hotéis estão daquele jeito e, nas residências, não têm uma que não tenha no mínimo um hóspede com a vibração sertaneja. Mas o tempo, amigos e amigas, continua com as suas características chuvosa e friorenta que não abre mão. Em nossa rua mesmo, as pessoas passavam de casacos ou encolhidas como galináceos em chuvarada. Passa uma sertaneja e diz: “Eita frio do cancro!”. Não sabemos se cancro tem frio, mas a sertaneja disse, estar dito.
Músicas de todos os lados tomam contam do Centro e dos bairros, quando nem sempre o bom gosto predomina. Muitas concentrações no novo espaço urbanizado, Cônego Bulhões, onde são apresentados divertimentos a valer. 20 mil pessoas estavam presentes ali na primeira noite da festa. A polícia encontra-se alerta aos excessos para que os festejos não sejam obrigados a registrar o que ninguém deseja. Conhecemos pessoas que vieram à Festa da Juventude vender bebidas recém-inventadas, da terra arapiraquense. Sucesso! Tudo foi vendido rapidamente no Campo de Aviação – local a três quilômetros do Centro – onde acontecem algumas importantes competições. Quem não ama o barulho e o grande movimento vibratório da juventude, encolheu-se em casa, também contra a frieza e a chuva benfazeja.
Nesta segunda-feira, comadre, tem início outra festa que emenda com a de ontem. Trata-se do início dos louvores à Padroeira Senhora Santana, apresentando a procissão dos carreiros e seus veículos maravilhosos. Um pulo espetacular entre o profano e o religioso. Nem nos pergunte se ainda há tempo, são nove dias de orações, fervor e esperanças na Rainha do Sertão. O padre JACIEL conduz todos os passos que guiam os devotos do semiárido à avó de Jesus. E se falta somente você, o que está enganchando à sua vinda?
Mês de julho, mês da padroeira, pedidos e pagamentos de promessas alcançadas.
Vem? Seja bem-vindo (a).


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SERTÃO INVERNOU Clerisvaldo B. Chagas, 10/11 de julho de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.143 FEIRA LIVRE ...

SERTÃO INVERNOU


SERTÃO INVERNOU
Clerisvaldo B. Chagas, 10/11 de julho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.143

FEIRA LIVRE COM CHUVA, EM SAN. DO IPANEMA (FOTO: B. CHAGAS).
Sertão alagoano invernou mesmo, compadre. Pelo menos em Santana do Ipanema, ontem, fechou o tempo. Quarta – a segunda opção de feira livre nesta cidade – movimento enorme no trânsito, sem brecha nenhuma para estacionamento. Não existe na urbe estacionamento particular, pois essa moda ainda não chegou por aqui. Principalmente no primeiro horário, vans de mais de 40 cidades do Sertão, Alto sertão, Sertão do São Francisco e mesmo de Sergipe e Pernambuco despejam passageiros no Comércio santanense. Comércio e inúmeras ruas ficam lotados de veículos e de motoristas agoniados por uma vaguinha no centro e adjacências. Difícil mesmo é driblar o apito do guarda e escapar de multa enjoada que mexe com o bolso.
Esse movimento humano visa o Comércio que virou um titã (o primeiro mais belo e o segundo mais pujante do interior). Também busca a prestação de serviços bancários, estudantis e tantas e tantas outras coisas. Somente a partir das 11 horas é que as vans retornam aos lugares de origem, mesmo assim a cidade não para o dinâmico movimento no turno vespertino. Foi com essa agitação toda que as diversas fases da chuva encurralaram feirantes e usuários das bancas de mercadorias. A feira livre principal do município é realizada aos sábados, mas quando a chuva se impõe, cidadão, não tem dia escolhido para o corre-corre. Só se vê donos de bancas estufando os tetos de lonas com um pau, fazendo cachoeira e molhando pernas de clientes.
Mês de julho é mês chuvoso, comadre. Mês da padroeira que abençoa o território. Intercalando entre chuva mansa, rompantes de “torós” e parte ensolarada, o Sertão vai sendo tangido pelo otimismo e orações fervorosas pela bonança. As madrugadas trazem um “frio de matar sapo” e, como dizia minha sogra Ana Maria, “tá caindo gelo”. Cadê coragem para abrir a janela no meio da noite e espiar o tempo. O cabra apela para o celular com intuito de vê a temperatura, mas encontra apenas aquela marca padrão, seca, sem detalhe, que não tira a roupa. Ô graus mentirosos da gota serena!
Lá vem a chuva gente!
O gato e nós na beira do fogão... Rrrsss.