HEROÍNAS DO RIO IPANEMA Clerisvaldo B. Chagas, 22 de julho de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.148 LAVADEI...

HEROÍNAS DO RIO IPANEMA


HEROÍNAS DO RIO IPANEMA
Clerisvaldo B. Chagas, 22 de julho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.148

LAVADEIRA. (FOTO: CORONEL EZEQUIEL BLOG.).
Antes da água encanada do São Francisco, década de 60, não era fácil a vida das lavadeiras profissionais em Santana do Ipanema. Lembramo-nos das que atuavam no trecho das três olarias do rio que corta a cidade. A passagem pelo rio, da antiga rodagem que ia de Santana a Olho d’Água das Flores, chamava-se Minuíno, palavra que arrancou muitos cabelos em busca de um significado, sem êxito. Pois era ali no tal Minuíno que as lavadeiras ganhavam a vida na profissão. Escavavam no leito seco do rio Ipanema com uma cuia ou outra vasilha e logo a água assoberbava na cacimba rodeada de areia grossa. Faziam um jirau com varas esqueléticas e cobriam-no com palha de coqueiro ouricuri e panos velhos. Debaixo daquela fragilidade contra o Sol de mais de trinta graus, lavavam-se roupas da classe mais aquinhoada da sociedade.
Sempre se encontravam lavadeiras com trouxas de panos à cabeça descendo às ruas em direção ao Panema. Raras dessas senhoras também engomavam. Se se fazia uma coisa, não se fazia  outra. Havia uma diferença profissional em que a engomadeira estava em patamar mais elevado, embora ambas fossem subalternas.
A apreciação romântica no saudosismo poético visto por alguns escritores, não existia nas lavadeiras do selvagem e rude rio Ipanema. Havia a dura labuta, sem cânticos, sem afeto, sem porvir, daquelas fêmeas rijas e batalhadoras para levar o pão à mesa. Mulheres do Ipanema, companheiras inseparáveis do tempo, filhas da favela e do alastrado.
Após luta feroz, o advento da água encanada, foi aos poucos extinguindo as profissionais lavadeiras e os botadores d’água em jumentos (mais de cem), em Santana do Ipanema. Assim também, a ponte sobre o rio – década de 60 – afastou banhistas e lazer do mais famoso e aprazível Poço dos Homens, no mesmo rio Panema.
Tempos depois surgiram algumas lavanderias que abriam e fechavam às postas, como até os dias atuais.
Vou historiando à minha terra na hora de botar roupa na máquina de lavar. Também virei moderna lavadeira... Ou lavadeiro? Sei apenas, compadre, que a roupa sai cheirosinha e chega à memória um preito de gratidão e carinho às antigas lavadeiras, heroínas anônimas do meu amado rio Ipanema. Saudade... .












CHUVA, JULHO, CHUVA Clerisvaldo B, Chagas, 19 de julho de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.147 TEMPO NO SE...

CHUVA, JULHO, CHUVA


CHUVA, JULHO, CHUVA
Clerisvaldo B, Chagas, 19 de julho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.147

TEMPO NO SERTÃO. (FOTO: B. CHAGAS).
 Faltando um garrancho para uma coivara ou um empurrão para uma briga, melhor dizendo, faltando pouco para o amanhecer, já estava previsto. Nesse Sertão de Nosso Senhor Jesus Cristo, variação entre galope e sereno de chuva à noite inteira comadre. Um deserto tão grande nas ruas que até os sapos não transitaram nas vias. O rio Ipanema desce com um pouco d’água para ornar as narrativas das tradições. Vez em quando um jornalista, um poeta, um escritor ou mesmo um saudosista, foca suas lentes para o lombo do rio. Cada vez mais com a aproximação de agosto, a frieza vai apertando o parafuso no semiárido. As feiras livres vão fraquejando devido a ocupação na agropecuária pelo homem do campo, aonde a temperatura chegou aos 13 graus centígrados, amigo.
Já é meio-dia desta sexta-feira, 19, o dia chuvoso e nublado ainda não parou a marcha lenta do tempo que distribui água a valer. Isto faz lembrar o padre José Augusto da Paróquia de São Cristóvão, em Santana do Ipanema, hoje na Serraria, em Maceió: “Deus nos mande bastante chuva... Mas que ela venha mansa” (gargalhada). Pois é mansa mesmo que ela se derrama por aqui. Prosseguem os festejos à Senhora Santana que no mundo inteiro ocorrem na mesma data do mês de julho. O foguetório avisa no início, meio e final do dia, para o pensamento cristão. Os estouros dos fogos misturam-se à chuva fina e molhadeira que mantém o Sertão montado no dorso da esperança. A faina continua com frio ou sem frio, quando passam estudantes fardados para as provas do bimestre.

No inverno tão bonito
Vai o carão pra lagoa
Pescador enche a canoa
Onça pula no granito
Do tetéu se houve o grito
A cobra fica enroscada
Codorniz desconfiada
Inda teme o caçador
Gato procura calor
Gavião baixa à ramada.




COCÕES ACOCHADOS Clerisvaldo B. Chagas, 17/18 de julho de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.146 GOB/DIVULGAÇÃO...

COCÕES ACOCHADOS


COCÕES ACOCHADOS
Clerisvaldo B. Chagas, 17/18 de julho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.146
GOB/DIVULGAÇÃO.

O carro de boi desempenhou papel muito importante na colonização do Brasil. Veio alargando trilhas indígenas e caminhos de burros, jumentos e cavalos, levando e trazendo mercadorias, abastecendo e gerando riquezas. Foi o percursor do caminhão que, encontrando as estradas enlarquecidas, agilizou as trocas de mercadorias litoral/sertão. Muitas vezes andava em frota com até mais de vinte carros, percorrendo longas distâncias com denodo, paciência e bravura pelo progresso brasileiro. O nosso país deve  muito aos carros de pau, bois e carreiros. E mesmo com um mundo cheios de tecnologias, o carro de boi continua resistindo em todo o território nacional, amado, apreciado e respeitado. Possuir um veículo deste é motivo de prazer e orgulho.
Certa feita meu pai mandou fazer um carro – não sei em que lugar – muito caprichado e de tamanho maior, pois existem dois tamanhos. Confiou o veículo e os bois ao chamado Cícero Carreiro que morava nas proximidades do Poço dos Homens (rio Ipanema). O senhor Cícero era um homem simpático, agradável e caprichoso no trato com os animais. Meu pai ficava muito contente com os elogios ao carro, feito com muito esmero por famoso artesão sertanejo. Já descrevi todas as peças de um carro de boi e o tipo de madeira de cada uma. Inclusive também no romance inédito, “Fazenda Lajeado”. Mas para quem gosta da zona rural, continua apreciando esses veículos antigos. As últimas vezes em que visitei uma fábrica de carro de boi foram em Inhapi, alto sertão de Alagoas e em Olho d’Água das Flores.
Nesta quarta-feira, portanto, teve início a famosa festa de Senhora Santana, em Santana do Ipanema. Na ocasião da abertura da festa com a procissão, centenas e centenas de carros de boi abrilhantam o cortejo numa beleza inusitada. Inclusive até mesmo o dia foi estiado para que todos pudessem participar do ato com maior conforto. Nada mais justo para a “Capital do Sertão” que também já foi chamada de “Terra dos carros de boi”.
No sertão alagoano ainda existe o encontro dos carreiros na cidade de Inhapi.
Valorizar o que é nosso.
Orgulho nordestino.