BARBAS, BARBEIROS E CANGAÇO Clerisvaldo B. Chagas, 4 de agosto de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.156 (FO...

BARBAS, BARBEIROS E CANGAÇO


BARBAS, BARBEIROS E CANGAÇO
Clerisvaldo B. Chagas, 4 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.156

(FOTO: B. CHAGAS).
          E eu vou novamente para Seu Atalaia. Barbeiro às antigas, calado igual a caburé. Foge à regra da maioria animada que ouve tudo, sabe de tudo e conta tudo. Mas Seu Atalaia é homem sério e sisudo. É dá um bom-dia, cortar, pagar e se despedir sem levar fofocas para casa. Após minhas perguntas sobre suas origens, mal respondeu que era de Atalaia, cidade da Zona da Mata alagoana. Passei a chamá-lo, então, claro, com meus botões, de Seu Atalaia. Ali você vê televisão sem graça, jornal do dia e revistas velhas. Caso esteja fazendo calor, tem direito a um arzinho de quebra.
          Com novos cursos de barbeiros, a rapaziada não coloca mais na fachada do estabelecimento o nome Barbearia. É Salão ou Cabeleireiro. Em Santana do Ipanema têm alguns dessa geração: O Fela, o Joinha, o Carinhoso... São alguns deles. Nem todos concordam em trabalhar com barba: “dói o espinhaço, precisa melhor equipamento, o cabelo é mais vantajoso em três por um...”. Será o fim do barbeiro tradicional? Nem ouso indagar a Seu Atalaia. Talvez ele me respondesse apenas com um sorriso. “Mestre, corte normal, nada de babados”. “Perfeitamente”, sinto a resposta interior do Fígaro, embora não seja de Sevilla.
          Barbeiro, profissão de homem manso, mas por ela passou o Moreno – barbeiro em Santana do Ipanema – à condição de chefe de subgrupo de Lampião. Sujeito franzino, sem oportunidades na polícia, de modo contrário realizou o sonho de ser elemento de guerra. Trocou a navalha Solingen por fuzil e cartucheira. Tornou-se matador de gente.
       Como barbeiro, foi surpreendido e preso Gato Bravo, ex-cangaceiro santanense disfarçado. Ê... Essa história que todo barbeiro é manso, não tem muito fundamento. Alinhavando as ideias sob a bata negra de cliente, vejo o término do trabalho.
          Saio do salão sem as fofocas do dia, mas satisfeito com a destreza do homem e o corte costumeiro.
          Profissional gente boa, ótimo prestador de serviço.
          Aplausos aos bar beiros na pessoa do Mestre Atalaia.
          Não custa nada.                                                        

PAUSA NA ENTREGA Clerisvaldo B. Chagas,1/2 de agosto de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.155 PAUSA DA  CHU...

PAUSA NA ENTREGA


PAUSA NA ENTREGA
Clerisvaldo B. Chagas,1/2 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.155

PAUSA DA  CHUVA EM MARIBONDO. (FOTO: B. CHAGAS).
            “Corre, Maria, bote a roupa no varal, mulher! Aproveite o Sol que o tempo não está de confiança”. De fato o tempo não estava de confiança. Após chover o mês inteiro no sertão alagoano – recordando os velhos tempos – julho entregou agosto com um breve estio para estender roupa. O menino brinca de bola, os animais selvagens desentocam, o vaqueiro aboia pelas quebradas. A luz solar reluz nas folhagens muito verdes e o gado engorda por dentro do capinzal. No alpendre da fazenda o campesino aguarda com certa ansiedade o resultado do plantio. Vibra o comércio sertanejo aguardando o circular do dinheiro na safra que se aproxima. Nos riachos que cortam a zona rural, trabalhador arregaça as calças abençoando a terra.
          As noites continuam geladas e todos os panos da casa servem de cobertor. E no dia primeiro vamos aproveitando o estio para uma rodada pela BR-316, mas nas proximidades de Maribondo, vira o tempo e as nuvens vão encorpando pelas montanhas da redondeza. Muita chuva em Maceió. Tão diferente daquela chuvarada toda do sertão, porém, moderadamente. E lá vai o rolo d’água descendo para as bandas do comércio, deixando alagadas as imediações das Casas Americanas. Imaginem a situação dos Bairros Pinheiro e Mutange com tantas previsões sinistras. E o maceioense vai enfrentando o constrangimento dos torós constantes que reflete no trânsito perigoso. Coragem em sair de casa cedo com esse tempo.
          Endoidaram os climas do mundo com tanto desmatamento e tanta poluição. Mas as próprias previsões sobre pluviosidade no semiárido brasileiro, nem sempre coincidem com a realidade. Se não endoidaram também, pelo menos dão opiniões. Tradicionalmente em Alagoas, tínhamos chuvas até os meados de agosto, sendo estes quinze dias os de frio mais intenso. Ora, algumas vezes as chuvas chegam até setembro e já alcançaram, incrivelmente, outubro, o mês que nunca chovia no sertão. Você quer saber? Climatologia já avançou muito, mas ainda continua perdendo feio para a Natureza.
          Não duvidamos mais de nada.
          Deixa chover, comadre, vamos colher algodão.

   

BEBEDOURO/MANIÇOBA C lerisvaldo B. Chagas, 31 de Julho de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.154 ENTREVISTA ...

BEBEDOURO/MANIÇOBA


BEBEDOURO/MANIÇOBA
Clerisvaldo B. Chagas, 31 de Julho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.154

ENTREVISTA Á TV GAZETA NO RIO IPANEMA. (FOTO/ARQUIVO B. CHAGAS).
     Citado o lugar com transferência de propriedade, Maniçoba já era habitada antes da chegada dos fundadores de Santana do Ipanema. Mas ainda hoje luta tentando melhorar alguma coisa para sair do marasmo secular em que vive. Antes situada em estrada Santana/Palmeira, hoje contramão de tudo. As duas metades estão representadas ao longo do rio Ipanema a cerca de 2 km do Centro da cidade. Fora a estrada normal em que se liga ao Bairro São Pedro, um antigo caminho que vai sair na UNEAL, BR-316, foi alargado, permitindo um novo cenário por ali. Mas aquela área  precisa de pavimentação asfáltica do Bairro São Pedro a UNEAL, passando nas imediações de Maniçoba/Bebedouro. Há quanto tempo este subúrbio aguarda melhorias!
     Uma via asfáltica São Pedro – UNEAL desafogaria o trânsito caótico do Centro e permitiria o surgimento de conjuntos habitacionais na área, beneficiando o antigo subúrbio. Poderiam surgir mercadinhos, farmácias, açougues, padarias e outros serviços que por certo dariam força para o progresso amarrado.  Algumas pessoas em melhores condições econômicas fizeram casas boas e xácaras na tranquilidade do lugar, mas a pobreza continua segurando o andamento. Semelhante ao Bebedouro de Maceió, já foi palco de grandes festas religiosas e centro de artesanato como abanos, chapéu de palha, bonecas de pano, peças de madeira para promessas e chapéu de couro de bode. Bons tempos os de João Lourenço e Zé Rosa.
     Maniçoba/Bebedouro funcionava com suas fabriquetas de sola, através dos seus antigos curtumes. Dava emprego a uma porção de gente e abastecia o mercado calçadista de Santana e região. Os curtumes foram extintos ou migraram para Senador Rui Palmeira e as fabriquetas de calçados não mais existem. O caminho alargado pela parte norte, vai desaguar na escola modelo municipal o que marca um ponto positivo para a criançada. Fica por trás da UNEAL, em cuja frente formou-se um arrojado comércio e prestação de serviços. Isto quer dizer que enquanto o progresso não chega o subúrbio vai aos poucos se beneficiando da vizinhança.
Tudo pertinho do rio Ipanema.