O PÃO E O QUEIJO Clerisvaldo B. Chagas, 8/9 de agosto de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.159 Nada como ca...

O PÃO E O QUEIJO

O PÃO E O QUEIJO
Clerisvaldo B. Chagas, 8/9 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.159

Nada como café com queijo nas fazendas do Sertão. Mas as fazendas que produzem o leite também gostam de criar o porco aproveitando o soro do leite para engordá-lo e passar nos cobres. O costume é antigo e não havia fiscalização alguma, podendo o criador fazer o que bem entendesse. No Sertão alagoano fabricam-se dois tipos de queijos, no geral, o de coalho e o de fogo, também chamado de queijo de manteiga. A maioria, nas condições rudes em tudo. Usa-se lenha da caatinga numa ajuda a mais no desbaste da flora nativa. As pocilgas ou os currais ficam muito perto do fabrico e o que se junta de moscas é um absurdo. O produto é vendido em feiras livres, mercadinhos e bodegas da região. O queijo de manteiga usa fogo, o de coalho não.
De uns tempos para cá, a fiscalização e a orientação têm sido intensas, visando à higiene dos produtos fabricados. É claro que ainda existe resistência aos tempos modernos. Vez em quando saem notícias de multas, interdição de fabriquetas e mais. No caso do queijo de manteiga, também tem fraude, segundo os conhecedores do assunto. Ao invés da manteiga, o mal intencionado coloca óleo industrializado, repassando a mercadoria como de primeira qualidade. Não se concebe mais esse tipo de coisa na brincadeira com a saúde humana. É necessária mesmo a fiscalização na saúde e no meio ambiente. A conscientização ainda está muito distante do trapaceiro.
Assim como sentimos orgulho em termos o melhor aeroporto do Nordeste e o quinto do País, também nos orgulhamos do nosso queijo de coalho, em nova dimensão. Fiscalizado, bem embalado e o com selo alusivo, procura o reconhecimento como queijo alagoano, assim como o de Minas Gerais.
Sobre o vaqueiro nordestino:

“Ela pergunta meu bem
Você quer café com queijo?
Ele responde sorrindo
Eu quero é lhe dá um beijo”.

Ê vida de gado...

O TREM DA PALMEIRA Clerisvaldo B. Chagas, 7 de agosto de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.158 ANTIGA EST...

O TREM DA PALMEIRA



O TREM DA PALMEIRA
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.158

ANTIGA ESTAÇÃO. (FOTO: CRISTIANO SOARES)
          Quem trafega pela BR-316, sobe o cuscuz sobre a antiga linha férrea de Palmeira dos Índios. Quem conhece a história lança de cima do viaduto, um olhar comprido para as terras planas Palmeira – Arapiraca e vê. Ver na mente um trem deslizando pelas planuras em busca do São Francisco, em busca do Porto Real de Colégio. Época de ouro em que os trens cortavam o vale do Paraíba do Meio, levando progresso entre os verdes canaviais. Cavaleiros do Sertão galopando até Viçosa em procura do cavalo de ferro no complemento da jornada a Maceió. A ansiedade do povo palmeirense no avanço da linha até Quebrangulo, descendo as montanhas até o centro da cidade. Uma festa e tanto a chegada do trem em Palmeira dos Índios.
          Mas a programação anterior modificada não permitiu sua reta para o Sertão. E a Maria Fumaça quebrou de banda levando rolos de fumo pelo Agreste procurando o “Velho Chico”. Mais uma frustração para o Sertão velho de guerra que deixara escapar o miolo do progresso. Conforma-se em agarrar a rebarba ferroviária. Vem de caminhão a Palmeira e embarca no trem para Maceió. Para quem não tinha nada, qualquer coisa serve. Mas a política do não ao ferro e sim à borracha, também traz a grande decepção para o Agreste. Palmeira dos Índios não dispõe mais do trem. Fica a Maria Fumaça aprisionada em logradouro público, como peça de museu. O trem engolira o caminhão; o ônibus engoliu o trem; as vans engoliram os ônibus.
          E o trem de Palmeira dos Índios entra nos romances dos escritores palmeirenses Luis B. Torres, Adalberon Cavalcante Lins, Graciliano Ramos e do santanense Clerisvaldo B. Chagas. A estação, merecidamente transforma-se em Biblioteca Pública. Imagens de pessoas ilustres ocupam as paredes em forma de desenhos e... Quem sabe, se as estantes da casa de cultura não guardam boas histórias do trem de Palmeira dos índios!
          Trazemos o sonho de volta ao cuscuz, ao viaduto da via férrea, onde que manda agora são as voltas e os chiados dos pneus.
          Quem engolirá as vans?
          Diz o sertanejo: Para frente é que se anda.











O CRIME DO CIPÓ Clerisvaldo B. Chagas, 6 de agosto de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.157 SERROTE DO CRU...

O CRIME DO CIPÓ

O CRIME DO CIPÓ
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.157

SERROTE DO CRUZEIRO (FOTO: B. CHAGAS).
          Com a expansão da cidade, alguns sítios de periferia vão sendo engolidos. Uns permanecem com o nome de origem, outros ganham apelidos nessa realidade. Em Santana do Ipanema começou a urbanizar-se o sítio Cipó. Terras por trás do serrote Gonçalinho (Micro-ondas), o Cipó já teve sua tragédia que até pouco tempo era marcado por uma santa-cruz. Cipó é o nome genérico de todas as plantas e hastes finas e flexíveis que servem para atar; plantas trepadeiras que pendem das árvores; embira. Cipó vem do Tupi guarani (Ici’pó) fila-fileira. O casario que se forma por trás do atual Posto Lemos em direção ao sítio Curral do Meio fez a retirada da santa-cruz que marcava o Cipó. O episódio foi narrado pelo escritor santanense Oscar Silva no seu livro de crônicas “Fruta de Palma”.
          No início dos anos trinta, a região sertaneja sofreu anos seguidos de seca braba. Começou a haver, então, roubos de bodes, na periferia santanense. A pobreza passava fome, mas foi notado que os filhos pequenos do senhor Laurindo, ou coisa parecida, estavam sempre gordinhos. Designado para resolver os problemas de roubo, o soldado Zé Contente e um comparsa, desconfiaram de Laurindo. Prenderam-no e o acusaram de roubo de bode. Mesmo sob protestos de inocência, o cidadão foi preso, amarrado e torturado. O sádico policial Zé Contente, furou o bucho do mulato, mas só encontrou alastrado. Laurindo passava o dia pelo serrote colhendo alastrado para alimentar a filharada. Foi vítima do maníaco e uma cruz na estrada ficou conhecida como a Cruz do Cipó.
          Felizmente o episódio foi resgatado pelo escritor da época. Este assunto já foi apresentado certa vez, mas com a ameaça urbana em deglutir o sítio, retornamos ao tema para que não fique no esquecimento o pequeno ramo da História Municipal. Vale salientar que nem sempre um livro de história conta todos os fatos. Crônicas, novelas, romances, poesias e outras publicações sempre contêm em algum lugar, testemunhos complementares dos escritos oficiais. Em breve, outros sítios periféricos estarão nas mesmas condições do sítio Cipó.
          Será que irão aparecer abnegados pesquisadores?
          Deus é o Senhor dos tempos.