FALE FIADO Clerisvaldo B. Chagas, 1º de março de 2012.   AGUARDE DIA 23   Vou pagar o objeto comprado, quando o comerciante se anima e ...

FALE FIADO

FALE FIADO
Clerisvaldo B. Chagas, 1º de março de 2012.

 AGUARDE DIA 23

 Vou pagar o objeto comprado, quando o comerciante se anima e puxa conversa. Conversar às vezes atrasa, às vezes adianta e nem sempre traz proveito. Mas de uma maneira geral, ensina e descobre. Mesmo um papo ligeiro com um cabra embriagado pode render para o pensamento alguma coisa boa, uma inspiração para um poema, uma piada para o humor adiante, uma reflexão profunda e mesmo até um palpite para o jogo do bicho. Quer dizer, então, que falar em “jogar conversa fora”, pode ser de muito proveito se a conversa vem de fora para dentro. Diz o comerciante, “entrando por uma perna de pato saindo por uma de pinto” que o homem deve estar preparado para todas as ocasiões. Quer dizer que você não sofrerá impactos significativos numa brusca situação difícil como um assalto, um acidente, um insulto ou uma notícia de que arrebatou sozinho o prêmio da loteria. Será mesmo que isso funciona? E se funciona, marca certo em qualquer ocasião ou somente em algumas? Isso faz lembrar o professor universitário que deu aula a um jumento. Embora as pessoas contem as coisas já embaralhadas e o original perca-se de boca em boca, disseram mais ou menos assim, em compra terceirizada:
          Em Fortaleza os alunos não gostavam de determinado professor advogado daquela escola. O mestre vinha de outro estado para ministrar suas aulas à noite na universidade. Certa feita, os pupilos resolveram protestar contra a presença do professor, mas de forma diferente. Colocaram um jumento dentro da sala de aula, saíram e ficaram à espreita. O professor adentrou a sala e, vendo somente o jegue naquele ambiente refinado, pôs os óculos e iniciou um longo discurso em direção ao asno que apenas balançava as orelhas e batia as pestanas. A palestra continuou animada pelo tempo exato da aula até o toque estridente da campainha. Os alunos admirados com a reação do palestrante terminaram invadindo a sala, aplaudindo o professor e tornando-se dali em diante, uma plateia infalível em todas as presenças do mestre. O homem tornou-se ícone. Aconteceu ou não, nem sei. Foi em Fortaleza ou em outro lugar, também não tenho certeza, mas o comerciante, a princípio parece ter razão na afirmativa: “O homem deve estar preparado para todas as ocasiões”.
          Nem somente na Grécia vivem os filósofos. Em Santana do Ipanema, Alagoas, ele está ali despachando na caixa. Experimente-o, FALE FIADO.

IBIAPINA Clerisvaldo B. Chagas, 29 de fevereiro de 2012            Os verdadeiros valores de duas pernas às vezes caem no esquecimento, ...

IBIAPINA

IBIAPINA
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de fevereiro de 2012

           Os verdadeiros valores de duas pernas às vezes caem no esquecimento, uns para sempre, outros hibernando. Só há pouco tempo, nós do Nordeste ouvimos falar em frei Galvão. Em um canal de TV, uma pessoa palestrava sobre a vida do santo, fazendo-me lembrar do cordel lançado por Manoel Monteiro, sobre a vida do padre Ibiapina. Esse personagem também é lembrado com insistência no livro da escritora alagoana Luitgarde Oliveira, sobre o cangaço. Segundo o autor cordelista, nasceu José Antonio Pereira Ibiapina, em uma fazenda de Sobral chamada Morro do Jaibara, em 05 de agosto de 1806. O pai havia se metido na política e foi fuzilado, um irmão foi para o degredo em Fernando de Noronha e, a mãe de Ibiapina morreu. Os seus planos de se tornar sacerdote foram adiados para que ele pudesse tomar conta dos irmãos. Ibiapina mudou-se para Pernambuco, ingressou em um Curso Jurídico e, em 1828, saiu formado em Direito. Aos 26 anos, o jovem estava para casar quando a moça fugiu com um primo. José Antonio foi ainda Delegado e juiz em Quixeramobim. Após pelejar no campo jurídico, Ibiapina abandonou tudo e dedicou-se à Igreja aos 47 anos de idade.
          Naqueles tempos de secas e doenças como o sarampo, tifo, malária, padre Ibiapina começou a percorrer os estados do Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba, socorrendo os pobres como podia. Como as pessoas eram sepultadas nos lugares ermos, o padre chegou a construir dezoito cemitérios. Construiu estradas, igrejas, capelas, reforma em Matriz. Abriu poços, construiu escolas, casas de caridades e abrigos para órfãos. Açudes não foram esquecidos pelo padre que procurava matar a sede do povo. Inúmeros lugares foram beneficiados pela sua força como São Pedro, Santa Luzia, Brejo Santo, Sobral, Areia, Missão Velha, Gravatá do Jaburu, Crato, Barbalha, Açu, Baixa Verde, Santa Fé, Bezerros, Mossoró, Souza, Cajazeiras, Milagres, Porteiras, Goianinha, Serra da Mãozinha, Bananeiras, Jaicós, Mata Virgem, Santa Cruz, Araripina, Flores, Salgueiro e outros lugares mais.
          Ainda segundo, o autor, o padre Ibiapina encerrou seus feitos no planeta Terra em 19 de fevereiro de 1883, com 77 anos de idade. Expirou em solo paraibano em casa que ele próprio fundou, na freguesia de Arara. Sua “viagem” aconteceu às 15 horas, após o padre dizer: “Estou vendo Maria, ela me chama, já vou”. E assim partiu IBIAPINA.

















O HOMEM GELADO Clerisvaldo B. Chagas, 28 de fevereiro de 2012           Quando o assunto é futebol, o torcedor brasileiro tem acompanhado ...

O HOMEM GELADO

O HOMEM GELADO
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de fevereiro de 2012

          Quando o assunto é futebol, o torcedor brasileiro tem acompanhado a Seleção com olhares de jacaré, quando muito como os de hipopótamos. A euforia típica da nossa pátria foi desaparecendo com as decepções que se acumulam, deixando a pergunta rolando no espaço qual folha de algodão seda. O algodão seda é uma planta típica do sertão nordestino, pequena, esverdeada e feia que nasce em lugares mais degradados pelo homem. Além de bastante frágil, apresenta uns rolos parecidos com jenipapo ou legítimos papos de peru. Daquele complexo no meio do cercado, desprende-se o tal algodão seda, quase transparente que é levado pelo vento brando; ora sobe, ora desce e voa para todos os lados conforme os caprichos da aragem. Pois assim vai se sentindo o torcedor da amarelinha, muitas vezes, além da decepção, revoltado com a peste da frieza do treinador. Sentimos que do jeito que vai a coisa, vamos ficando cada vez mais distante da liderança mundial da redonda. A incerteza corrói há muito a segurança do fanático, do comum, do esporádico. Escolheram um homem para comandar a equipe brasileira que parece sem emoção, sem sangue e sem assunto.
          Bolando aqui, bolando ali, a seleção brasileira parece contaminada com o ritmo sem ritmo do treinador. Vamos apreciando aquela coisa irritante, peladeira, sem vida que provoca dor até em dente de alho. Não duvidamos da capacidade dos jogadores convocados, mas é um harém para um pobre coitado que não sabe nem começar. Assim a tristeza bate no peito de cada um e, amigos e familiares, na poltrona, entreolham-se com um sorriso amarelo após o jogo e deixam escapar sonoros palavrões com o desempenho do amontoado de Mano Menezes. Duvidamos todos que o Brasil possa chegar a lugar algum, com isso que está aí. Se treinador ganha jogo ou não ganha, mas deixa passar para a torcida uma sensação de poder mágico que influencia o ânimo de quem ouve uma entrevista. Esse empurra-empurra com a barriga que o técnico vem fazendo não deixa esperança nenhuma no bisaco. O senhor Mano não tem carisma algum e poderá até chegar a ser o campeão do mundo, mas até agora parece apenas um galego que tenta levar o povo com palavras.
          O jogo de hoje, seja qual for o resultado, não irá provar nada. Se o Brasil ganhar, “ganhou de uma seleção fraca que até a minha avó ganharia”. Se o Brasil perder, “perdeu por que o frio intenso da Europa dominou os jogadores, já era esperado”. E se empatar, sem dúvida alguma ainda será o pior resultado, pois alimentará com colher gigante a incerteza que vem predominando. Quem quiser apostar a hora é essa. Ganhando, perdendo ou empatando a desconfiança ainda reinará no deserto, na praia, na montanha ou sob belíssimas nevascas para congelar ainda mais o técnico Mano Menezes, o HOMEM GELADO.