SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
BÊNÇÃO NA SIMPLICIDADE Clerisvaldo B. Chagas, 8 de janeiro de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.164 ...
BÊNÇÃO
NA SIMPLICIDADE
Clerisvaldo B. Chagas, 8 de janeiro de
2025
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.164
No meu Sertão alagoano, vamos entrar no mundo
do gado. Uma satisfação enorme que toma conta do homem simples que conduz o
carro de boi, o arado puxado a garrotes, a compra na feira de uma junta para
tarefas de responsabilidades. O sertanejo quer, na linguagem dele, uma parelha
ou uma “pareia” para determinados fins.
Uma “pareia”, significa dois garrotes ou dois bois adultos que sejam
iguais no tamanho e na beleza. Pode ser um garrote preto com um garrote branco,
vermelho, pintado... Desde que seja do
mesmo tamanho, do mesmo formato, da mesma idade. Mas, a preferência mesmo é que
sejam da mesma cor, tamanho, idade e formato. Isto é, que não sejam, mas
pareçam gêmeos.
Pense na felicidade do homem humilde quando
encontra a dupla que procurava, juntamente para as condições que seu bolso pode
pagar. No Sertão é assim, uma apoteose interna quando surgem essas oportunidades,
de quem vive do ramo e o valor imensurável para o descobridor da roça. E se
aquela parelha comprada, estar na labuta da limpeza roceira, ou estreando no
carro de boi, é de se imaginas os elogios dos entendidos que passam na estrada
e param para apreciar. Entretanto, quem compra a “pareia” com todas as
características físicas e à vista, pode até se frustrar com algo que lhe foge
dos sentidos, porque só experimentando. É que um dos bois pode ser “ronceiro”.
E boi ronceiro é aquele boi manhoso que se escora no cambão para que o peso do
carro seja puxado quase totalmente pelo companheiro.
Mas também podemos entrar no mundo dos
repentistas, mesmo dos analfabetos, porque a poesia não depende de diploma. Um
desses roceiros de veia poética, disse para um cidadão, em forma de repente e
considerado uma sextilha simples, humilde, porém muito grande na criatividade:
Moço me dê um dinheiro
Pra comprar um boi pra eu
De dois que eu tinha no carro
Um veio a cobra e mordeu
Mas eu quero botar outro
No lugar do que morreu.
Dizer mais o quê?
‘PARÊIA (STOCK).
OS IMPERADORES Clerisvaldo B. Chagas, 7 de janeiro de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3. 163 E se Otávio...
OS
IMPERADORES
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de janeiro de
2025
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
3. 163
E se Otávio era imperador romano, em Santana do Ipanema, tivemos dois Otávios
de destaque local. Naturalmente não eram imperadores de Roma, mas imperavam de
outras formas. Eram o Otávio Magro e o Otávio Marchante, apelidos já
incorporados aos nomes de batismo. Otávio Magro morava na Rua Nova, casado com
dona Beatriz. Possuía uma Salgadeira na Rua Antônio Tavares, onde imperava
absoluto. Salgadeira era o lugar onde se colocava mantas e mantas de carne de
boi, em cochos de madeira, para, através do sal, transformá-las em carne-de-sol.
Funcionava na esquina do segundo beco da rua, no sentido Comércio - Rua São Pedro. Mantas de carne no cocho,
mantas de carnes já prontas, penduradas nos tornos de metal. Era chegar o
cliente, pedir a quantidade desejada e, Otávio Magro, geralmente caladão, magro,
alto, cabelo escorrido, passava a faca enorme amoladíssima na manta que parecia
manteiga, embrulhava, entregava e recebia o dinheiro.
O outro, o Otávio Marchante, andava com uma
faca na bainha pendurada na cinta. Falava muito grosso e era casado com dona
Carmelita. Morava na Rua Prof. Enéas e depois na Rua Antônio Tavares. Era
considerado o torcedor número 1 do Ipanema Atlético Club. Durante as partidas
de futebol, ficava rodeando o campo e gritando para quem quisesse ouvir: “Aí é
Joaozinho! Aí é Lau! Bola rasteira, meninos! “. Lau e Joãozinho eram jogadores
adorados pelo povo, principalmente da torcida que comparecia ao estádio Arnon
de Melo em dia de jogo com o CSA, CRB, Penedense, CSE, Capelense e mesmo com
times de Água Belas ou de outras cidades, em amistosos.
A Salgadeira de Otávio Magro, foi a única que
conheci em Santana do Ipanema, ao fechar, até o presente momento, ninguém teve
a ousadia de fabricar carne-de-sol daquela maneira. Quanto ao Otávio Marchante,
ficou bem marcado em vários trabalhos literários, porém o velho time Ipanema,
não resistiu às más administrações sucessivas, cansou, tombou na caminhada
abraçando o mesmo destino do seu maior rival na cidade o Ipiranga. Então é de
se perguntar, “Sem fábricas, sem futebol e sem esperanças, como se desenvolve
uma cidade interiorana? “
Deus salve o rei
ESTÁDIO ARNON DE MELO EM 2013.(FOTO: B.
CHAGAS/LIVRO 230).
RUA DOS ARTISTAS Clerisvaldo B. Chagas, 6 de janeiro de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.162 Posso dizer qu...
RUA
DOS ARTISTAS
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de janeiro de 2025
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.162
Posso dizer que os alfaiates mais antigos que
conheci em Santana do Ipanema, moravam na antiga Rua do Sebo, primeira da
cidade, moravam perto um dos outros. Mas a Rua já ganhara nome oficial de Cleto
Campelo e depois, definitivamente de Antônio Tavares. Eram três alfaiates que
moravam praticamente vizinhos e eram chamados popularmente de Jonas Alfaiate,
Antônio Alfaiate e Quinca Alfaiate. Não eram três artistas? E na mesma rua
havia o flandreleiro Mané Gancho que trabalhava fazendo bicas (calhas) de zinco
e vasos também de zinco de guardar cereais. Manezinho Quiliu, também trabalhava
no mesmo ramo. Quase vizinho, labutava a flandreleira dona Zifina, que era
perita em candeeiro de zinco e de lata.
Ainda havia, o Gerson Sapateiro, cantor e ex-jogador
do Ipanema, o Basto seleiro, o Alfredo forte, sapateiro, O Júlio Pezunho,
fazedor de colchão de capim, o José Limeira, fabricante de malas de madeira. O Antônio Neres, marceneiro. O Cícero de
Mariquinha, cantor. O Claudio Canelão e o pai, sapateiros. O José Lopes,
fazedor de Cachaça e seu Antônio, fazedor de vinagre. Era ou não era a Rua dos
Artesãos, dos Artistas? Muita gente também denominava a via de Rua da Cadeia
Velha e que ficava nas primeiras casas bem perto do Comércio. A Rua Antônio
Tavares era dividida em quatro trechos:
O primeiro, do Comércio ao Beco do Sebastião
Jiló, onde estava situada a Cadeia Velha, hoje, esse pequeno trecho tem outra denominação.
O segundo trecho ia do Beco de Sebastião Jiló até o beco da Salgadeira de
Otávio Magro. Representava uma parte plana e mais baixa. O terceiro trecho ia
da Salgadeira até o Beco de Carrito, representando um trecho plano e mais alto.
E o quarto trecho ia daquele beco até à Rua de São Pedro, pequeno, um pedaço
plano e uma pequena inclinação. Embora o epicentro do mais novo romance AREIA
GROSSA, seja entre as ruas de baixo (Zé Quirino e a São Paulo, alguns
personagens, citados acima, entram no romance do rio Ipanema, com muita honra.
TRECHO DA RUA ANTÔNIO TAVARES EM 2006.. (FOTO:
B. CHAGAS/LIVRO 230).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.