URUBU-REI
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de janeiro de 2014
Crônica
Nº 1340
No Sertão sempre observamos os urubus no céu, cujos
movimentos possuem vários significados. Um deles é a agitação do bando inteiro em
fins de tarde em movimento intenso e giratório. Um belo espetáculo.
Interpretamos com a certeza absoluta: “Vai chover forte”. Urubu voando
muito alto, isoladamente, continuará tempo firme. Alguns urubus voando em
círculo e descendo, animal ou gente morta na área.
O Sarcoramphus papa, ou simplesmente
urubu-rei é diferente dos outros urubus pretos. Tem cabeça e pescoço nus,
pintados de vermelho, amarelo e alaranjado.
Ele é o maior urubu de todos e também o mais
colorido. O interessante é que o bicho assemelha-se ao leão nas savanas, no
modo de agir. Tem um prestígio imenso em relação aos outros urubus comuns. O
seu bico é muito forte, fazendo com ele consiga abrir as partes mais difíceis
do alimento, coisa que os outros urubus não conseguem. Quando morre um cavalo
ou um boi, por exemplo, jogados ao tempo, os urubus comuns ficam em redor do
animal morto aguardando a chegada do rei. Ele chega triunfal, como o leão, abre
a carcaça com seu possante bico, retira sua parte e, somente depois os súditos
encostam para o nauseabundo almoço.
Quando o urubu-rei batalha e não consegue carniça,
aguarda que os outros, comuns, achem-na para si. Esses outros jamais disputam
com ele o alimento, aguardam pacientemente que o bicho maior se satisfaça, para
comer depois os seus restos.
O urubu-rei não come apenas a carniça, mas também
animais agonizantes, isto é, alimenta-se ainda de carne fresca.
A vitrina imensa e aberta do Sertão é fonte de
pesquisas sem fim e aprendizados constantes.
E se formos pensando que os humans são diferentes
dos bichos, estaremos enganados. É só olharmos em torno e analisarmos outros
quadros além do político.
Muita gente mata e morre com ambição desmedida para
se tornar URUBU-REI.
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