A FACA E A PROSTITUTA
Clerisvaldo B. Chagas, 5 de fevereiro de 2015
Crônica Nº 1.360
Quinca Sapateiro era personagem popular na
minha terra. Conheci-o ainda no tempo de Admissão ao Ginásio, quando eu passava
pela Rua Barão do Rio Branco, em direção à escola de Helena Oliveira, na calçada
alta da Ponte do Padre. Entre os vários empregados ou aprendizes da fabriqueta
de calçados de Evilásio Brito, estava o Quinca batendo sola, único deles que me
ficou na lembrança.
Passaram-se décadas até que um dia deparei-me
com o Quinca trabalhando na sua própria tenda, à Rua Nilo Peçanha. Reconheci-o
imediatamente. Era um homem que escutava muito o rádio e gostava de imitar
pessoas. A preferência pelas imitações era o Lelé, ex-tropeiro, autodidata e
decoreba da Geografia. Quinca Sapateiro também preferia contar casos da cidade
e comentar as notícias do estrangeiro ouvidas pelo rádio.
Segundo o jornal “Quinca”, havia um cidadão
muito conhecido na cidade, cuja mulher gostava da safadeza. Quando chegava algum
homem para um encontro com ela, esse encontro era na própria residência da
mulher. O maridão ficava na porta amolando uma peixeira 12 polegadas e,
resmungando: “Um dia eu derrubo o fato
dum; um dia eu derrubo o fato dum”.
O visitante, para não demonstrar sinal de fraqueza,
segundo o sapateiro, entrava pela porta estreitada, resvalando de lado, entre o
portal, a faca gigante e o marido que ameaçava derrubar o fato dum.
Ninguém, entretanto, chegou, a saber, se fato
algum foi derrubado, embora ninguém possa confiar totalmente em ameaça dessa
gente.
xxx
Em
vésperas de eleições brasileiras, todos os candidatos prometem honestidade,
trabalho e transparência.
Uma vez no poder, o sujeito trinca os dentes
amolando uma 12 polegadas, para sugestionar o povo. Mas, lá nos fundos, após a
porta, continua deitada a corrupção, prostituta miserável que ainda faz a
alegria dos tarados.
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