A GALEGA E O GALO
Clerisvaldo
B. Chagas, 6 de outubro de 2018
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Já ouvimos falar
bastante do perigo de um guará choco. Quando o lobo- guará parte para atacar o
homem, afirmam todos, o cabra tem que está armado, ser muito macho e pode até
morrer no duelo. O cachorro é outro bicho que também ataca o ser humano nas
ruas. Duas ameaças ferozes conhecidas. No caso do guará choco, tem até gravação
de forró dizendo que não deseja absolutamente nada de mal ao inimigo, apenas um
encontro casual com um guará choco. Muito bem, estando em uma unidade de saúde,
chega uma galega alta, forte, sexagenária e falante, mão inchada, braço na
tipoia e dedos quebrados. “O que foi isso, mulé?”. E ela responda sorrindo;
“Foi galo”. A admiração é a mesma entre todos. A galega conta em voz alta à
aventura.
Ao passar em uma das
ruas de Santana do Ipanema, um galo a atacou. Um galo de, aproximadamente, três
quilos, viciado, provavelmente de briga. A galega defendia-se com uma sombrinha.
O galo afastava-se, preparava novo golpe e partia voando em direção ao rosto da
senhora como querendo arrancar-lhes os olhos. A galega defendia-se
desesperadamente sob o riso de algumas pessoas que assistiam o duelo. O galo
fez nova carreira e pulou nos peitos da mulher que não resistiu ao impacto,
caiu por cima do braço e quebrou os dedos. Não pode se levantar. O galo
afastou-se e ficou ciscando com ares de vitória. Somente aí a galega foi
socorrida pelo povaréu. Talvez precise operar os dedos.
Aguardando o médico,
a galega narrava à aventura – digna de ser filmada – com animação. Ao sairmos,
a mulher nos abençoou e pediu a Deus para não encontrarmos um galo doido por
aí. Quem ia chegando queria saber a história dos dedos quebrados, mão inchada e
tipoia. Logo imaginamos que o acontecido daria uma crônica, pelo fato cotidiano
da presepada. Aproveitamos e dissemos a mulher bem humorada. “Aproveite e jogue
no bicho, minha senhora. Aposte no galo... Quem sabe!”.
A galega dos dedos
quebrados desatou uma gargalhada.
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