O
DEPUTADO E A SANTA
Clerisvaldo
B. Chagas, 11 de outubro de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.977
Estou
diante da capela de Santa Terezinha. Solitária e triste, a igrejinha contempla
a cidade das alturas convidativas do serrote do Cruzeiro. Olho a réplica do
cruzeiro de madeira fincado logo defronte, na passagem do século XIX para o
século XX. E relembrando a história, vejo um cidadão, em 1915, fazendo festas
com trabalhadores e zabumba, cozinhando e levando material serrote acima para o
pagamento de promessa – jamais revelada – a Santa Terezinha, com a tosca ermida
em sua homenagem. Vejo no futuro a capela em ruínas, paredes tombadas e o vazio
do altar. Mas também vejo no tempo, o deputado estadual Siloé Tavares, nas
faldas do serrote com muitos trabalhadores, feijoadas nas trempes, zabumba
animadora, tijolos às cabeças e o sobe e desce para o soerguimento da capela de
Santa Terezinha. Chapéu de palha a cabeça do deputado de ontem e a minha
pergunta de hoje: Por quê?
Ah!
Mais uma vez à ruína. E vem a terceira capela de Santa Terezinha. Construção
sobre lajeiros, à luz do céu azul, do mato verde, da caatinga bruta e das
marcas rochosas que viraram lendas.
A
urtiga, o imbé, a catingueira, a macambira de flecha, companheiros e
companheiras da santa ali de dentro, daquela que você vê pela vidraça de vidro
rachado.
Os
segredos das promessas uivam com o vento pela vegetação ora verdosa, ora
esquelética da pequena serra, do monte residual de uma extensa cordilheira
varrida pelas intempéries... Quem sabe? Sim, lugar de meditação que mexe na
dúvida da alma sutil.
Sim,
sim, serrote do Cruzeiro!
E
a geografia da vida incentiva a escalada do Tabor, do Sinai santanense que
descobre os horizontes invisíveis do interior da mecânica que liberta a alma
dos grilhões terrenos. Voar, voar pelo infinito, navegar na misericórdia que
flui, na esperança cultivada, no lombo dos ventos que vagueia pelos pontos
cardeais.
Quem
sobe o belo serrote
Busca
esperanças mil
Quem
desce traz do serrote
A
tinta do céu de anil
Odor
invisível e forte
Dos
bosques do mês de abril
SERROTE
DO CRUZEIRO E CAPELA DE SANTA TEREZINHA (FOTO B. CHAGAS)
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