CLAUDIO CANELÃO
(Clerisvaldo B. Chagas. 3.11.2009)
Quando brincávamos na Rua Antonio Tavares, ainda sem calçamento, conhecemos o Claudio que exercia a profissão de sapateiro, bem perto da Travessa maior Benedito Melo. Sendo alto e seco, o sapateiro logo ganhou o apelido de Claudio Canelão. Claudio era uma daquelas pessoas que ninguém adivinha a idade. Poderia ter entre 18 e 25 anos. Caladão, bigodinho e voz horrível. Na época, a grande sensação de todas as ruas sem benefícios, para a meninada era o jogo de ximbra. O jogo com essas bolas-de-gude era chamado de “Papão”. Quem jogava muito bem era chamado de “rato”. Ou se jogava “brincando” ou se jogava valendo uma ximbra por partida. Normalmente ganhávamos ou perdíamos no plano e nos três buracos no solo, entre eles o “Papão”. As vias ficavam repletas de meninos jogando, principalmente nas ruas Antonio Tavares, Senador Enéas e São Pedro. Acontece que o sapateiro também tinha uma atração muito grande por essas pequenas esferas. Era um desastre quando Claudio Canelão chegava perto de um grupo que estava jogando. Quem se arriscasse a jogar com ele, não teria chance alguma. O ponto de partida de cada jogada era sempre feita de cócoras e medindo um palmo para arremessar a bola com o polegar. Todavia, o palmo de Canelão já era meio caminho andado. Nos acertos às bolas era o maior de todos os “ratos” das ruas. E assim o Claudio Canelão, naquela sede medonha, ia embolsando todas as nossas ximbras: velhas, desgastadas, novas, lisas ou coloridas. É certo que ninguém era obrigado a brincar com o sapateiro, mas jogo é jogo e o desejo de ganhar do forte também mexe no mais fraco.
Como as brincadeiras eram muitas ao longo das ruas, surgiram alguns prefeitos intolerantes e começaram a perseguir os jogadores, ou seja, às crianças. Essas perseguições estendiam-se também aos jogos de futebol e pinhão. Como nas ximbras, havia também os “ratos” no pinhão. Esse objeto tinha mais vigor quando era jogado pelos mais crescidinhos. O pinhão bonito industrializado ou aquele feito de goiabeira, tanto dançavam na mão, quanto lascavam ao meio a “mita” colocada. Entretanto, a tara do Claudio Canelão era somente com as bolas-de-gude que brilhavam pelas ruas. Levava todas as nossas ximbras com seu palmo danado e sua pontaria de demônio.
As crianças continuavam naquele estágio de brinquedos, pensando que no futuro tudo seria diferente. E vem a fase da escola, o crescimento, até que um dia também surge o período de análise da vida. Chegam os livros, o rádio, a televisão, o jornal, os comentários... E depois descobrimos que nas diversas administrações públicas que vamos conhecendo, raros, raríssimos mesmo, são diferentes de CLAUDIO CANELÃO.
(Clerisvaldo B. Chagas. 3.11.2009)
Quando brincávamos na Rua Antonio Tavares, ainda sem calçamento, conhecemos o Claudio que exercia a profissão de sapateiro, bem perto da Travessa maior Benedito Melo. Sendo alto e seco, o sapateiro logo ganhou o apelido de Claudio Canelão. Claudio era uma daquelas pessoas que ninguém adivinha a idade. Poderia ter entre 18 e 25 anos. Caladão, bigodinho e voz horrível. Na época, a grande sensação de todas as ruas sem benefícios, para a meninada era o jogo de ximbra. O jogo com essas bolas-de-gude era chamado de “Papão”. Quem jogava muito bem era chamado de “rato”. Ou se jogava “brincando” ou se jogava valendo uma ximbra por partida. Normalmente ganhávamos ou perdíamos no plano e nos três buracos no solo, entre eles o “Papão”. As vias ficavam repletas de meninos jogando, principalmente nas ruas Antonio Tavares, Senador Enéas e São Pedro. Acontece que o sapateiro também tinha uma atração muito grande por essas pequenas esferas. Era um desastre quando Claudio Canelão chegava perto de um grupo que estava jogando. Quem se arriscasse a jogar com ele, não teria chance alguma. O ponto de partida de cada jogada era sempre feita de cócoras e medindo um palmo para arremessar a bola com o polegar. Todavia, o palmo de Canelão já era meio caminho andado. Nos acertos às bolas era o maior de todos os “ratos” das ruas. E assim o Claudio Canelão, naquela sede medonha, ia embolsando todas as nossas ximbras: velhas, desgastadas, novas, lisas ou coloridas. É certo que ninguém era obrigado a brincar com o sapateiro, mas jogo é jogo e o desejo de ganhar do forte também mexe no mais fraco.
Como as brincadeiras eram muitas ao longo das ruas, surgiram alguns prefeitos intolerantes e começaram a perseguir os jogadores, ou seja, às crianças. Essas perseguições estendiam-se também aos jogos de futebol e pinhão. Como nas ximbras, havia também os “ratos” no pinhão. Esse objeto tinha mais vigor quando era jogado pelos mais crescidinhos. O pinhão bonito industrializado ou aquele feito de goiabeira, tanto dançavam na mão, quanto lascavam ao meio a “mita” colocada. Entretanto, a tara do Claudio Canelão era somente com as bolas-de-gude que brilhavam pelas ruas. Levava todas as nossas ximbras com seu palmo danado e sua pontaria de demônio.
As crianças continuavam naquele estágio de brinquedos, pensando que no futuro tudo seria diferente. E vem a fase da escola, o crescimento, até que um dia também surge o período de análise da vida. Chegam os livros, o rádio, a televisão, o jornal, os comentários... E depois descobrimos que nas diversas administrações públicas que vamos conhecendo, raros, raríssimos mesmo, são diferentes de CLAUDIO CANELÃO.
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