A RUCINHA DO CORONEL
(Clerisvaldo B. Chagas. 23.11.2009)
Meu pai, o comerciante Manoel Celestino das Chagas, nos dava lições práticas de espiritismo (sem saber), sendo católico fervoroso. Suas observações estavam além do tempo e, como Jesus, gostava muito de aconselhar fazendo comparações. Bom em matemática, quase não lia um livro completo e nem sei de onde vinha tanta sabedoria sobre a principal matéria que é a “matéria da vida”. Algumas histórias faziam rir, mas traziam reflexões nas entrelinhas. Muitos casos ouvi quando adolescente e um deles foi o da Rucinha. Não tenho conhecimento se existe alguma coisa escrita, pois não imagino de onde ele retirava suas histórias.
Segundo Manoel Chagas (hoje com 92), tem pessoas que gostam muito de tomar coisas emprestadas, quase como mania. Mas, diz um velho ditado que não se emprestam três coisas: violão, mulher e cavalo bom. Dizia Seu Manezinho que havia um coronel que possuía excelente animal. Desse cavalo tinha um ciúme triste que era da sua mão para a mão do tratador e de mais ninguém. Solto na manga o coronel possuía também, entre outros equinos, uma potranca ruça (pardacenta) muito arisca a quem dera o nome de Rucinha. De vez em quando aparecia alguém pedindo emprestado o seu cavalo extremamente baixeiro. O coronel se mostrava muito amável, fazia gestos teatrais de servidor, e terminava dizendo que não podia emprestar o cavalo. É que ─ alegava o dono ─ se não fosse uma viagenzinha que iria fazer, “o cavalo estaria nas mãos do senhor”. E para rebater a suave recusa do empréstimo dizia, contudo, que ainda restava uma saída para não deixar de servir. “Tenho uma bestinha muito boa pastando na manga. É só o amigo procurá-la e já está emprestada. Devolva quando quiser”. Ora, não havia vaqueiro no mundo que pegasse a Rucinha dentro da manga. O sujeito ia embora sem levar nada e ainda agradecia demais ao manhoso coronel.
A gente vai emprestando as coisas com o maior prazer e, em muitas ocasiões, não tem certeza se o outro é viciado. Assim vai um martelo, um serrote, um alicate... Uma escada. O pior ainda é o empréstimo do livro que não volta à estante. Quando o dono o empresta pensa que a pessoa vai devolver logo porque é esclarecida. A falta da devolução de vários outros objetos é justificada pelo não aprimoramento cultural, porém, livros não. Como uma pessoa esclarecida leva um livro emprestado e não devolve? Estamos nesse mundo para servir. O homem só pode evoluir servindo com boa vontade. Também passar no rosto que serviu, é mesmo que anular o ato anterior. Ocasiões existem, todavia, que pessoas abusam da bondade. É diferente do que toma emprestado com boas intenções e por uma infelicidade da própria vida fica sem condições de devolver e é aguilhoado pelo credor. Este é outro assunto que um dia gostaria de abordar. É de se compreender, entretanto, que muitos agem com prudência e outros na tem a menor vontade de servir. Tanto no primeiro quanto no segundo caso, continua em voga a procura pela RUCINHA DO CORONEL.
(Clerisvaldo B. Chagas. 23.11.2009)
Meu pai, o comerciante Manoel Celestino das Chagas, nos dava lições práticas de espiritismo (sem saber), sendo católico fervoroso. Suas observações estavam além do tempo e, como Jesus, gostava muito de aconselhar fazendo comparações. Bom em matemática, quase não lia um livro completo e nem sei de onde vinha tanta sabedoria sobre a principal matéria que é a “matéria da vida”. Algumas histórias faziam rir, mas traziam reflexões nas entrelinhas. Muitos casos ouvi quando adolescente e um deles foi o da Rucinha. Não tenho conhecimento se existe alguma coisa escrita, pois não imagino de onde ele retirava suas histórias.
Segundo Manoel Chagas (hoje com 92), tem pessoas que gostam muito de tomar coisas emprestadas, quase como mania. Mas, diz um velho ditado que não se emprestam três coisas: violão, mulher e cavalo bom. Dizia Seu Manezinho que havia um coronel que possuía excelente animal. Desse cavalo tinha um ciúme triste que era da sua mão para a mão do tratador e de mais ninguém. Solto na manga o coronel possuía também, entre outros equinos, uma potranca ruça (pardacenta) muito arisca a quem dera o nome de Rucinha. De vez em quando aparecia alguém pedindo emprestado o seu cavalo extremamente baixeiro. O coronel se mostrava muito amável, fazia gestos teatrais de servidor, e terminava dizendo que não podia emprestar o cavalo. É que ─ alegava o dono ─ se não fosse uma viagenzinha que iria fazer, “o cavalo estaria nas mãos do senhor”. E para rebater a suave recusa do empréstimo dizia, contudo, que ainda restava uma saída para não deixar de servir. “Tenho uma bestinha muito boa pastando na manga. É só o amigo procurá-la e já está emprestada. Devolva quando quiser”. Ora, não havia vaqueiro no mundo que pegasse a Rucinha dentro da manga. O sujeito ia embora sem levar nada e ainda agradecia demais ao manhoso coronel.
A gente vai emprestando as coisas com o maior prazer e, em muitas ocasiões, não tem certeza se o outro é viciado. Assim vai um martelo, um serrote, um alicate... Uma escada. O pior ainda é o empréstimo do livro que não volta à estante. Quando o dono o empresta pensa que a pessoa vai devolver logo porque é esclarecida. A falta da devolução de vários outros objetos é justificada pelo não aprimoramento cultural, porém, livros não. Como uma pessoa esclarecida leva um livro emprestado e não devolve? Estamos nesse mundo para servir. O homem só pode evoluir servindo com boa vontade. Também passar no rosto que serviu, é mesmo que anular o ato anterior. Ocasiões existem, todavia, que pessoas abusam da bondade. É diferente do que toma emprestado com boas intenções e por uma infelicidade da própria vida fica sem condições de devolver e é aguilhoado pelo credor. Este é outro assunto que um dia gostaria de abordar. É de se compreender, entretanto, que muitos agem com prudência e outros na tem a menor vontade de servir. Tanto no primeiro quanto no segundo caso, continua em voga a procura pela RUCINHA DO CORONEL.
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