quinta-feira, 10 de setembro de 2020

 

O TUBARÃO DE LULU FÉLIX

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de setembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.380

 

                                    (FOTO: TNH1 VÍDEO REPRODUÇÃO)
Lendo uma reportagem recente em que um corpo humano foi encontrado na barriga de um jacaré abatido, lembrei-me de uma figura da minha terra.

Quando ainda rapaz, conheci Lulu Félix. Morava em marcante e isolada casa com alpendre, trezentos metros antes das primeiras residências do lugar Maniçoba, em Santana do Ipanema. Naquele largo da estrada, somente sua casa no lado mais alto do terreno e o sapateiro Alfredo Forte, defronte, na parte baixa e do outro lado. Parece-me que Lulu vivia de alguma coisa em relação aos curtumes daquela região. A impressão é que negociava com o produto sola. Como a sua casa ficava no largo, na parte alta, dali se via tudo. O famoso doido da época, barbudo Justino, sempre estava descansando no banco de pelar porco no alpendre daquela casa.

Lulu era baixinho, muito tranquilo, fala preguiçosa e sumida. Gostava muito de usar paletó sem gravata. Toda Santana gostava de Lulu. Ele chegava às rodas de conversas, ficava encostado na parede e escutava. Quando descoberto e indagado começava a contar suas aventuras das viagens por onde andara. Sua ausência era notada quando passava dois, três meses desaparecido. Nunca falava quando iria viajar, mas dizia onde esteve e quase sempre era em São Paulo

  Carinhosamente fora o maior mentiroso de Santana. Sereno, narrava com naturalidade seus exageros.  Quando alguém dizia que não acreditava em sua explanação, o argumento era infalível: “Você não viaja!...”

Entre tantos e tantos casos já contados, repito um deles lembrando o caso do início da crônica: Em Maceió, os soldados do 20o Batalhão de Caçadores, gostavam de se exercitares na praia do Sobral. Mas, em certa manhã, ao término da atividade, notaram a falta de um companheiro. Iniciaram as buscas e nada. Retornaram ao Quartel e registraram o ocorrido.

Alguns dias depois, os pescadores capturaram um tubarão e resolveram dividi-lo com os companheiros, ali mesmo nas areias da praia. “E qual não foi a surpresa! O soldado recruta foi encontrado na barriga do peixe gigante”.

“Mas isso é um absurdo!” – falou um ouvinte.

Lulu voltou à carga: “E não é só isso, não. Todos ficaram admirados com o recruta na barriga do peixe ainda batendo continência”.

“Eita mentira da gota serena!”

E Lulu, com toda mansidão possível: “Você não viaja!...”.

·        A Câmara de Vereadores aprovou a minha ideia de colocar o nome do trecho asfaltado São Pedro/Maniçoba de DONA JOANINHA. Mas o lugar onde Lulu morava merece uma praça e, o seu nome constar como Largo Lulu Félix, MERECIDAMENTE.


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Um comentário:

  1. Quando li essa, papai respondeu a mesma coisa: "Eita mentira da gota serena!!"

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