ESPONJA DE LIMPEZA (Clerisvaldo B. Chagas. 31.5.2010) E o mundo inteiro que dava às costas ao continente africano, vira de frente para a Áf...

ESPONJA DE LIMPEZA

ESPONJA DE LIMPEZA
(Clerisvaldo B. Chagas. 31.5.2010)
E o mundo inteiro que dava às costas ao continente africano, vira de frente para a África do Sul. Mesmo assim ainda tem gente que não acredita no milagre da bola. Sendo o planeta quase redondo, não é de admirar que uma esfera de couro permita movimentar milhares e milhares de empregos diretos e indiretos em todos os recantos da Terra. E na continuidade das lutas contra xenofobia e descriminação racial, surge o futebol como aglutinador dos povos, com atrativo único. O amor nacionalista, as vibrações da cores flamulares, o orgulho do sucesso no palco global, fazem desses animais bípedes seres racionais diante de eventos importantes como a copa na extremidade africana. Juntam-se as frustrações, as alegrias, as esperanças na mesma mala de embarque para um porvir onde outrora somente lágrimas brotavam.
Torçamos para que, após a copa do mundo, as coisas melhorem para aquele continente marginalizado que representa um mosaico com cerca de cinquenta e três países. Numa visão imediata o visitante, além dos estádios da África do Sul, poderá se inserir em outras atrações da terra. Cidade do Cabo, com uma população em torno de 2,5 milhões, representa o antigo Cabo da Boa Esperança dos nossos velhos estudos de Admissão. Último ponto do continente africano, passagem para as Índias, descoberto por Bartolomeu Dias em 1488; hoje sede do poder Legislativo. Pretória, sede do governo. Bloemfontein, sede do Judiciário. Os torcedores estarão no país de três capitais, o mais industrializado do continente e o primeiro lugar em reservas de ouro, manganês, platina e cromo. O segundo lugar em diamantes. Atrações de parques repletos de animais selvagens, posição geográfica, histórico de resistência do famoso bairro de Soweto das lutas contra Apartheid. Quem tiver sorte, poderá apertar a mão de um dos maiores homens dos últimos tempos, o herói Nelson Mandela, mito mundial.
A bola irá rolar nos campos, mas já vem rolando em outros lugares; por sua causa, centenas de milhares de trabalhos existem nas mais diferentes áreas de negócios do planeta. As armas separam e o esporte une os povos. Pena que cheguem ainda a esta dimensão, espíritos rancorosos de velhos generais do passado. Cérebros doentios que atuam em corpos humanos como robôs voltados à destruição. São como vulcões, tempestades, tormentas, montados em duas pernas, parecidos aos bons. Espíritos encarnados, tronchos para o mal que só compreendem os painéis draculistas de seus instintos bestiais. Estão eles a cumprir o ódio avassalador trazido das trevas que só reconhece o sistema da valentia. Nem o futebol ─ poderoso e magistral balé ─ consegue desviar as mentes sujas dos hematófagos.
É bom que a copa venha em breve, felizmente como ESPONJA DE LIMPEZA.


BOCA DE CAIEIRA (Clerisvaldo B. Chagas. 28.5.2010) Nas andanças , como estudante, em Maceió, pela praça da faculdade de Medicina, colegas fa...

BOCA DE CAIEIRA

BOCA DE CAIEIRA
(Clerisvaldo B. Chagas. 28.5.2010)
Nas andanças, como estudante, em Maceió, pela praça da faculdade de Medicina, colegas falavam sobre a região do Ouricuri, ali perto, e a Coreia, mais adiante. Do Ouricuri diziam do perigo permanente da marginalidade que dominava a pobreza do lugar. Quase todas as batidas policiais ocorriam no Ouricuri que sempre estava em evidência nas páginas dos matutinos Jornal e Gazeta de Alagoas. Da Coreia, a conversa era outra. Seria um bairro de população composta de mulheres maduras. Estava no auge à cantora de forró, Cremilda, que pouco a pouco invadia o espaço nordestino da famosa colega Marinês. Com tantas músicas bonitas e vibrantes (eu era seu fã) Cremilda lança um forró dizendo desse último lugar de Maceió. Aproveitava a indicação do povo e cantava:

“Na Coreia
Na Coreia
Só tem veia
Só tem veia...
(...) Na Coreia eu não vou mais.”

Não faz muito tempo, em Santana, inventaram um forró do outro lado do Ipanema, lá para as bandas do lugar chamado Eduardo Rita, saída para Olho d’Água das Flores. Esse forró acontecia durante uma tarde por semana, foi tomando corpo e passou a ser bastante conhecido e apreciado. Pela Rua São Paulo, em direção ao rio, só se via passar velhinhos bem vestidos e durinhos rumo ao outro lado. Nem era preciso perguntar. O povo dali mesmo apontava e dizia: “Vai para o forró das veias”. Durou bastante tempo, o “forró das veias” em Santana do Ipanema. Divertiu muita gente madura e jamais se ouviu falar em briga, arruaça ou arenga. Que falta faz o “forró das veias”!
Lá do outro lado do mundo, investigações internacionais dão conta de que a Coreia do Norte teria partido ao meio uma corveta da Coreia do Sul. Um míssil lançado de um submarino atingiu em cheio o barco de guerra que foi ao fundo do mar com quarenta e seis mortos. Descoberto o ataque, a Coreia do Sul promete represálias. O pai do mundo, Estados Unidos, que jogaram seus filhos para morrer no Vietnã, no Iraque, no Afeganistão, incentivam a Coreia do Sul para uma guerra fratricida com a vizinha de cima que eles dizem fazer parte do “eixo do mal”. A Coreia do Norte, de economia arrasada igual a Cuba, investe somente em armas com o mesmo pensamento arcaico da antiga União Soviética. Saída da poeira do passado, ainda vive da ilusão comunista e da força das armas. Os Estados Unidos, sedentos de sangue e malucos para testarem novas armas, já encontraram o novo brinquedo fora do Irã: a Coreia do Norte. Caso haja um confronto, primeiro eles mandarão a Coreia do Sul, mas depois não resistirão à guerra e entrarão no conflito. Arrasada economicamente, a Coreia não tem como sustentar uma guerra prolongada. Mas, se conseguir apoio da China, Os Estados Unidos não terão como sair de lá sem uma derrota como aconteceu no Vietnã, no Iraque (pela prorrogação) e agora no Afeganistão, engolidor de americanos.
Mexer com a Coreia do Norte é entrar num vespeiro sem tamanho. Mas os Estados Unidos podem pensar que é a mesma coisa que dançar no “forró das veias” em Santana do Ipanema, ou namorar na Coreia de Maceió. E como diz um doido da minha cidade, aquilo ali, amigo, é BOCA DE CAIEIRA.




QUEBRANDO BANCAS (Clerisvaldo B. Chagas. 27.5.2010) O tempo até parece que perdeu o juízo, igualmen...

QUEBRANDO BANCAS


QUEBRANDO BANCAS
(Clerisvaldo B. Chagas. 27.5.2010)

O tempo até parece que perdeu o juízo, igualmente aos homens.  E aqui na capital ninguém sabe se já é inverno, a não ser o cientista Molion. Vamos registrando o cotidiano deste Maceió “velho de guerra”, obrigação de cronista. Chuvas inesperadas expulsam os transeuntes dos calçadões, mas não refrescam o calor sufocante do tropical úmido. A esperança da copa também chegou à “Cidade Sorriso” com o predomínio do verde e amarelo. A propaganda bicolor está em todas as marquises, em todas as vitrinas, em todas as fachadas. Desafiando o tempo, desfila a seleção brasileira de futebol pela Praça dos Martírios. Espere! Não, não é a seleção brasileira de futebol. Trata-se, na verdade, do desfile de carteiros guiados pelo som de um carro a fazer barulhentas reivindicações. A velhinha, no ponto de ônibus, dá graças a Deus pelo movimento. Ao ser interrogada se faz parte dos Correios ela responde que não é isso. O que deixa a velhinha momentaneamente feliz, segundo ela mesma, é a possibilidade no atraso às cobranças que chegariam a sua casa. Um estudante, amparado numa cobertura, coloca dois dedos à boca e assovia para os profissionais que desfilam. Não conformado, ao contrário da velhinha, sapeca ainda uns dois palavrões impublicáveis e uma crocante banana comprida em direção ao desfile. Quero perguntar o motivo da revolta, mas o estudante forte, tatuado, cara de mau, parece não receptivo à conversas
A chuva dá uma trégua. Os transeuntes estufam do interior das lojas. Escorrega argila das escavações pelas poças das ruas, automóveis banham os passantes, enquanto o sujeito do carrinho aumenta o som dos CDs piratas. (Quem diabo dá jeito na pirataria do mundo?!) Encontro uma conhecida na calçada estreita. É nervosa, agitada, fala muito alto. Não quer me deixar seguir. Parte para me contar um longo rosário da sua vida. A educação me planta, mas a razão quer distância. A senhora me puxa o braço a cada fração da sua narrativa, interrompe o trânsito humano, chama atenção e, eu peço socorro aos céus. Toca o celular da senhora que se apressa a atender. Na oportunidade única, invento uma despedida de político e consigo quebrar as correntes da gentileza. Surgem soldados correndo atrás de um larápio, animando as ruas movimentadas. O povo gosta da competição. O ladrão bate o recorde mundial dos duzentos metros com obstáculos e some lá na frente. É Alagoas perdendo bons atletas para as Olimpíadas de 2014. A alegria dos apreciadores desse tipo de competição, dura pouco e tudo volta à normalidade.
Na esquina do quarteirão penso em desligar o aparelho do observatório, mas de repente, o que me chega! Aparece um daqueles azoados, muito mais nervoso do que a senhora do celular. Arregala os olhos, passa as mãos na calça e aponta o dedão para mim perguntando animado: “Tá morando aqui?” Meu Deus! Será que vai começar tudo de novo? Se eu fosse amigo de cambista, na certa apostaria no burro... O mais nervoso de todos os bichos. Casos assim costumam acontecer QUEBRANDO BANCAS.