VIM PARA FICAR (Clerisvaldo B. Chagas. 15.7.2010) Debruço-me mais uma vez sobre o livro “Vim Para Ficar”, do saudoso escritor santanense Fl...

VIM PARA FICAR

VIM PARA FICAR
(Clerisvaldo B. Chagas. 15.7.2010)
Debruço-me mais uma vez sobre o livro “Vim Para Ficar”, do saudoso escritor santanense Floro de Araújo Melo. Nascido em 1914, Floro é autor de obras literárias em assuntos e variedades. Considero “Vim Para Ficar” ─ livro de memórias ─ como o mais interessante de Melo. Publicado em 1981, no Rio de Janeiro, “Vim Para Ficar” descreve os antecedentes de Floro, nascimento, infância no Sertão, como se fosse primeira parte. Sua ida a Maceió e sua convivência na casa de um tio, o dono da “Casa Lavor”, surgem como segunda etapa. A terceira seria a sua partida para o Rio de Janeiro, onde concluiu sua vida e suas obras. A segunda etapa, quando Melo fala da sua viagem à capital, é fonte de pesquisa sobre as dificuldades da época onde não havia asfalto e o trajeto Palmeira – Maceió era feito em trem de ferro. Sua convivência em Maceió causa pena e revolta no leitor. Isso quando a criança é entregue pelos pais ao tio do garoto. Um carrasco. O sofrimento da criança longe de casa e cujo tio o faz de “escravo”, muito emociona. Quantas e quantas crianças e adolescentes viveram o mesmo drama de Floro, em Maceió!
O que me faz meditar sobre o trabalho, é a “Festa da Juventude” em Santana do Ipanema, cuja divulgação ganhou pelo menos o Nordeste brasileiro. Pela dimensão que alcançou a “Festa da Juventude”, antes, um dos itens de comemoração à padroeira, foi desmembrada e apresenta vida própria. Mesmo assim os dois eventos são vizinhos de mês e dias.
E como no passado, a grande maioria dos jovens da nossa terra não tem opções de trabalho dentro do Município. Não tem porque nunca houve uma política planejada para o futuro. Entra prefeito, sai prefeito e continua a política do básico feijão com arroz: calçamento e coleta de lixo. Inúmeras famílias mudando-se para Maceió por falta de médicos especializados, na cidade. Os jovens que tem condições, mesmo apertadas, procuram outros centros para o trabalho, a semelhança do escritor Floro de Araújo Melo. Perdemos várias oportunidades de sermos uma Campina Grande, Petrolina, Caruaru. Contentamo-nos com as migalhas do centro regional mais próximo, Arapiraca. Os jovens da terra só tem duas opções: ou passam num concurso público estadual, federal (se for municipal, morrem no salário mínimo) ou vão para trás dos balcões vender remédio e pão.
Enquanto isso, diante de uma Câmara sem norte e uma sociedade organizada contemplativa, os dirigentes tornam-se DONOS absolutos dos interesses particulares. A "Festa da Juventude" vai crescendo por si, conquistando gente de todos os quadrantes. A cidade, com seu planejamento fraco (“peba”), entulha as ruas de barracos e o que mais se ouve nesse caos urbano, são xingamentos, palavrões dos motoristas que circulam pelo centro. Desordem, incompetência e má vontade andam juntas. Ao encerrar a maravilhosa "Festa da Juventude", vem novo processo de decantação. Ficam no fundo da vasilha as mesmas mazelas de outrora. Uma terra em que ninguém quer fazer o seu futuro; em que seus filhos jovens e agora também os idosos tem que migrar e sofrer como fez há cerca de oitenta anos o autor de “VIM PARA FICAR”.

JUCA MULATO (Clerisvaldo B. Chagas. 14.7.2010) Completando 93 anos de nascimento do livro-poema “Juca Mulato”. Para felicidade da Literatur...

JUCA MULATO

JUCA MULATO
(Clerisvaldo B. Chagas. 14.7.2010)
Completando 93 anos de nascimento do livro-poema “Juca Mulato”. Para felicidade da Literatura Brasileira, nasceu Menotti Del Picchia em São Paulo em 20 de março de 1892. Menotti tornou-se poeta, jornalista, romancista, cronista, pintor e ensaísta. Foi bacharel em Direito e militou no estado de nascimento, chegando até a Academia Brasileira de Letras. Dos inúmeros trabalhos publicados por esse autor, destacamos o livro “Juca Mulato”, lido por nós na adolescência, sendo um dos que mais nos impressionaram, assim como “Noite”, de Érico Veríssimo. Quando criança, por alguma coisa que tenha feito, Menotti foi trancado no quarto pela sua mãe. Pediu a ela um tradicional lanche à base de banana e a mãe negou. Sem poder sair do quarto, o menino pegou um pedaço de papel e um lápis e escreveu mais ou menos assim: “Eita que mãe desumana/nega até uma banana. O bilhete foi colocado por debaixo da porta e logo chegou o seu lanche. Diz Menotti que foi aí que ele descobriu um dos benefícios da poesia. Em 1917, o autor, com 25 anos, lança o poema “Juca Mulato”, nascido em Itapira (SP) que vai chamar atenção mais do que todas as suas obras futuras. Juca Mulato foi o estopim para a Semana da Arte Moderna realizada em 1922, da qual Menotti Del Picchia foi um dos articuladores. Quem gosta de Literatura sabe como tudo mudou nas letras e nas artes no Brasil, a partir desse acontecimento.
O longo poema “Juca Mulato” ─ sertanista e romântico ─ tem como tema o amor que o Juca sente pela filha da patroa, pelo seu olhar. Isso faz com que o autor envolva os elementos da Natureza nos pensamentos e na fala do Juca. Estrelas, Sol, Lua, plantas, animais, tudo é cúmplice do drama arrebatador do personagem. Nunca vimos tanta arte num poema só. Em uma das partes, a que mais impressiona, é quando Juca, desesperado, recorre ao feiticeiro Roque. O feiticeiro, então, diz ao Juca tudo o que sabe fazer, mas não pode dar um jeito no problema do consulente. Entretanto, o aconselha. Vejamos apenas um pequeno trecho da consulta:

“(...) ─ Juca Mulato! Esquece o olhar inatingível!
Não há cura ai de ti, para o amor impossível.
Arranco a lepra do corpo, estirpo da alma o tédio,
Só para o mal do amor nunca encontrei remédio...
Como queres possuir o límpido olhar dela?
Tu és qual um sapo a querer uma estrela...

A peçonha da cobra eu curo... Quem souber
Cure o veneno que há no olhar de uma mulher!
Vencendo o teu amor, tu vences teu tormento.
Isso conseguirás só pelo esquecimento.
Esquecer um amor dói tanto que parece
Que a gente vai matando um filho que estremece
Ouvindo com terror no peito, este estribilho:
‘Não sabes, cruel, que matas o teu filho?’ “

Como é bom degustar o poema vivo JUCA MULATO!

PETRÓLEO (Clerisvaldo B. Chagas. 13.7.2010) O gerente vai mostrando tantas e tantas peças de plástico úteis para o lar. Impressiona a varie...

PETRÓLEO

PETRÓLEO
(Clerisvaldo B. Chagas. 13.7.2010)
O gerente vai mostrando tantas e tantas peças de plástico úteis para o lar. Impressiona a variedade e texturas do material. Na verdade, há uma infinidade de coisas feitas à base de petróleo. E vamos transportando os pensamentos há tempos outros, quando esses objetos eram raridades. As mulheres sertanejas andavam quilômetros com o pote de barro à cabeça. Uma luta desesperadora pela sobrevivência. Potes de barro, sim senhor, para transporte e depósito do líquido insubstituível. Lá no canto da cozinha, tampa de pano ou de madeira, a água esfriava e adquiria sabor. Assim era a jarra, do mesmo material, e que pegava vários potes d’água. Ainda havia o purrão, maior do que a jarra, fazendo parte do trio de depósito. Outro vasilhame utilizado, era a lata de querosene, uma das primeiras que surgiram no Sertão. Depois veio a lata de tinta, de margarina, que substituíam aos poucos a de querosene. Lata d’água na cabeça, até motivo de samba nos morros cariocas. Vasilhame de ferro e estanho. O complemento da lata e do pote, era a rodilha de trapo. Lá se vão às mulheres sertanejas, brancas, mulatas, caboclas, subindo as veredas, ganhando os caminhos. Pescoços rígidos, saias curtas, molejos sensuais nas nádegas volumosas. Havia também outros objetos de copa e cozinha, antes do tal plástico, feitos de louça, ágate, estanho e cobre.
O petróleo foi ganhando espaço através das refinarias. Apesar da poluição de origem petrolífera e de novas fontes energéticas, ainda são construídas essas refinarias em todos os lugares. Do petróleo temos a gasolina, óleo, graxa, piche, naftalina, querosene, gás, asfalto, coque, alcatrão, parafina, breu e ceras. O plástico foi produzido pelo inglês Alexandre Parker, em 1862. Os objetos de plástico são leves, eficazes e baratos. Logos atingiram a população de baixa renda. São vendidos tanto em lojas sofisticadas quanto no meio das feiras livres de qualquer interior. Até a tradicional cuia sertaneja, feita da cabaça, virou lata de queijo-do-reino, depois objeto de material plástico.
O Brasil é um país, cujo progresso acontece sobre pneus. Foi essa a opção do transporte interestadual básico. As ferrovias ficaram em segundo plano ou excluídas das prioridades urgentes do País. Agora estão voltando devido aos problemas crônicos de escoamento da produção para os portos, notadamente no Meio-Norte. Causou tristeza quando uma autoridade falou há alguns dias sobre o caos nas rodovias brasileiras. O homem afirmou que somente daqui a cinco anos, essas estradas estariam mais ou menos. Onde está o petróleo do asfalto? Desperdício e prejuízo marcham juntos enquanto não são solucionados os gargalos das péssimas estradas. Não dá para ser competitivo no comércio exterior, assim. E no País, como baratear os produtos comestíveis básicos se os problemas são as rodovias? Quanto mais falamos dos males desse coringa chamado petróleo, mais dele precisamos. Somos da geração plástico, petróleo, gasolina... Achamos que esse pretinho malcheiroso vindo do ventre da terra, não se vai esgotar cedo como está previsto. E se nós somos mesmo dessa geração, por muitos anos ainda, vamos continuar cheirando PETRÓLEO.