terça-feira, 13 de julho de 2010

JUCA MULATO

JUCA MULATO
(Clerisvaldo B. Chagas. 14.7.2010)
Completando 93 anos de nascimento do livro-poema “Juca Mulato”. Para felicidade da Literatura Brasileira, nasceu Menotti Del Picchia em São Paulo em 20 de março de 1892. Menotti tornou-se poeta, jornalista, romancista, cronista, pintor e ensaísta. Foi bacharel em Direito e militou no estado de nascimento, chegando até a Academia Brasileira de Letras. Dos inúmeros trabalhos publicados por esse autor, destacamos o livro “Juca Mulato”, lido por nós na adolescência, sendo um dos que mais nos impressionaram, assim como “Noite”, de Érico Veríssimo. Quando criança, por alguma coisa que tenha feito, Menotti foi trancado no quarto pela sua mãe. Pediu a ela um tradicional lanche à base de banana e a mãe negou. Sem poder sair do quarto, o menino pegou um pedaço de papel e um lápis e escreveu mais ou menos assim: “Eita que mãe desumana/nega até uma banana. O bilhete foi colocado por debaixo da porta e logo chegou o seu lanche. Diz Menotti que foi aí que ele descobriu um dos benefícios da poesia. Em 1917, o autor, com 25 anos, lança o poema “Juca Mulato”, nascido em Itapira (SP) que vai chamar atenção mais do que todas as suas obras futuras. Juca Mulato foi o estopim para a Semana da Arte Moderna realizada em 1922, da qual Menotti Del Picchia foi um dos articuladores. Quem gosta de Literatura sabe como tudo mudou nas letras e nas artes no Brasil, a partir desse acontecimento.
O longo poema “Juca Mulato” ─ sertanista e romântico ─ tem como tema o amor que o Juca sente pela filha da patroa, pelo seu olhar. Isso faz com que o autor envolva os elementos da Natureza nos pensamentos e na fala do Juca. Estrelas, Sol, Lua, plantas, animais, tudo é cúmplice do drama arrebatador do personagem. Nunca vimos tanta arte num poema só. Em uma das partes, a que mais impressiona, é quando Juca, desesperado, recorre ao feiticeiro Roque. O feiticeiro, então, diz ao Juca tudo o que sabe fazer, mas não pode dar um jeito no problema do consulente. Entretanto, o aconselha. Vejamos apenas um pequeno trecho da consulta:

“(...) ─ Juca Mulato! Esquece o olhar inatingível!
Não há cura ai de ti, para o amor impossível.
Arranco a lepra do corpo, estirpo da alma o tédio,
Só para o mal do amor nunca encontrei remédio...
Como queres possuir o límpido olhar dela?
Tu és qual um sapo a querer uma estrela...

A peçonha da cobra eu curo... Quem souber
Cure o veneno que há no olhar de uma mulher!
Vencendo o teu amor, tu vences teu tormento.
Isso conseguirás só pelo esquecimento.
Esquecer um amor dói tanto que parece
Que a gente vai matando um filho que estremece
Ouvindo com terror no peito, este estribilho:
‘Não sabes, cruel, que matas o teu filho?’ “

Como é bom degustar o poema vivo JUCA MULATO!


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