domingo, 11 de julho de 2010

MONOTONIA

MONOTONIA
(Clerisvaldo B. Chagas. 12.7.2010)
O domingo amanheceu preguiçoso em Maceió. De repente cai uma chuva com aspecto de inverno que vai embora assim como chegou. Surge um sol fraco, tímido, mortiço. Os automóveis passam devagar, vão descendo, subindo, serpenteando a Via – Expressa em dolência domingueira. Com as praias poluídas, a capital alagoana vai virando interior sem opções de lazer. Comércio fechado, ruas completamente desertas. As tardes metem medo naquelas vias sem um guarda, um policial, sem ninguém. Os que pretendem gastar dinheiro e vê outros semelhantes vão aos shoppings, ao barzinho costumeiro, à caminhada na orla. E as cabeças nos apartamentos vão riscando o céu que não se decide. Sobe o cheiro de churrasco que se expande pelo ar. Cruzando a rua aquele homem tão forte, meu Deus, puxando a coleira de um cachorrito tipo totó. Que contraste risível! Lembro imediatamente de Severino Pinto, o rei dos repentistas nordestinos. O paraibano cantava com um parceiro no antigo estado da Guanabara a convite do governador. O companheiro atacava o estado do adversário e defendia a Guanabara. Em uma das estrofes, após arrasar com a Paraíba de Pinto, encerra o verso dizendo:

“E de bom na Paraíba
Só a Rádio Tabajara”

O grande mestre Severino Pinto pegou a deixa e acabou com o parceiro numa sextilha criativa e de rimas difíceis, primeiro time das mais belas:

“O que eu vi na Guanabara
Foi negro morando em morro
Carro atropelando gente
Enchendo o pronto socorro
Ladrão batendo carteira
Mulher puxando cachorro”

Depois do Globo Rural, mais nada. Qual o interesse que o brasileiro tem mais nas corridas bestas da Fórmula 1? Massa, até logo. Barrichello, na insistência perene de bobo da corte. Está certo ele. Se não tem censo de ridículo, continue motivo de piadas. Resta o último jogo da Copa encerrar o dia. Mas não é a mesma coisa. Esperemos, então, pela noite. Quem tem muita paciência pode praticá-la ainda mais com o Faustão. E o Fantástico vem em seguida, para repetir por duas horas tudo que já foi dito no decorrer da semana, sobre o caso Bruno. O restante fica para o comentário da África do Sul. Vai continuar ligado? Sabe de uma coisa, irmão! É colocar o carro na estrada, almoçar um bagre no Pilar, engatar um retorno a Maceió e estender-se numa rede cearense. Dormir meu amigo, imitar os inventores índios desse formidável balanço. O domingo não foi feito para descansar mesmo! O pior é que até no descanso ronda o tédio. Mesmo assim ainda está faltando alguma coisa. Aí eu me lembro de Santana do Ipanema, das músicas do “Juca Alfaiate”, do “Barbosinha”, do violão de “Sebastião Sapateiro”. Tenho certeza de que eles acabariam com esse domingo de MONOTONIA.




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