segunda-feira, 26 de julho de 2010

LAMPIÃO

LAMPIÃO
(Clerisvaldo B. Chagas. 26.7.2010)
(Para PRIMO VEI)

Aproveitando a presença de Sílvio Bulhões (filho de Corisco e Dadá) em nossa terra, lembramos que depois de amanhã tem aniversário da morte de Virgulino Ferreira da Silva. Setenta e dois anos se passaram desde que Santana do Ipanema, Alagoas, foi o epicentro da notícia bomba que tomou conta do planeta. Primeiro, por que a cidade sediava o 2º Batalhão da Polícia Militar, de combate ao cangaceirismo; centro irradiador de forças volantes em busca do “Rei Vesgo dos Sertões”. Segundo, por que era o lugar mais adiantado dos próximos ao massacre de Angicos. Mesmo após a apresentação das cabeças de Lampião, Maria Bonita e mais nove sequazes, nos degraus da prefeitura de Piranhas, as cabeças também ficaram expostas em Santana. A igrejinha/monumento, marco de passagem de século, construído pelo padre Capitulino, não apresentou somente Nossa Senhora da Assunção. As onze cabeças dos cangaceiros trucidados foram colocadas nos batentes da capela, para a satisfação de vitória contra o receio ilimitado da época. O quartel ficava por trás da igrejinha, no mesmo casarão onde hoje funciona uma escola. A imagem da santa, vinda de Portugal, parecia dizer àquelas cabeças sem corpos: “Eu bem que falei que esse negócio de cangaço não tinha futuro!” E a multidão se aglomerava por ali em busca da certeza dos boatos que percorriam a caatinga, os povoados, as vilas... As cidades. Para um tempo que ainda engatinhava em comunicações, foi fantástico. Não demorou nada o descarrego no meio do mundo velho de meu Deus. Fotógrafos, acadêmicos, políticos e também coiteiros do bando, invadiram a cidade rapidamente juntos ao alvoroço que tomou conta da urbe.
O comandante Lucena, cujo prestígio rotineiro ascendia na “Rainha do Sertão”, teve essa confiança elevada ao quadrado diante da sociedade perplexa. Estávamos vivendo ainda o período de interventores. A posse do novo interventor municipal, Pedro Gaia, sem destaque, morna, sem brilho, passou à euforia coletiva após um telegrama histórico vindo da ribeirinha Piranhas, local mais perto do tiroteio. Uma quantidade de fotos que ninguém sabe precisar foi estampada nos jornais de quase todos os países do globo. Soldados foram escalados para a missão sinistra e nauseante de mostrar e identificar as cabeças ao público. Todas, chegadas em latas de querosene com formol.
Estava presente no dia em que o desfile macabro chegou a Santana, o futuro escritor Oscar Silva, componente de elite do batalhão. Graças a Silva, foi registrado o essencial daquelas cenas extraordinárias ocorridas a 220 km de Maceió. Tempos depois, o comandante dos homens que atacaram Angicos, território sergipano, publicou o livro: “Como dei cabo de Lampião”. Lucena foi promovido e chegou a ser prefeito da cidade, seguindo uma carreira política de sucesso. Candidatou-se a deputado e ainda conseguiu exercer o cargo de prefeito em Maceió. A igrejinha/monumento ainda existe, mas parece não ser percebida em sua importância histórica para o mundo estudantil. Assim, as lembranças longínquas continuam povoando as massas cinzentas dos pesquisadores. Apesar de milhões de letras escritas sobre o cangaço, muito ainda se tem a dizer sobre LAMPIÃO.

• Primo Vei (João Francisco das Chagas Neto ou João Neto de “Dirce” ou João do Mato)



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