GORILA DO PARQUE
(Clerisvaldo B. Chagas. 5.7.2010)
Os bons tempos das festas de Senhora Santa Ana já se foram. Durante o novenário do mês de julho, a multidão tomava conta da Praça Emília Maia à Rua Tertuliano Nepomuceno; da Rua Nilo Peçanha à Ponte Padre Bulhões. Primeiro vieram às inúmeras barracas com as mais diferentes atividades, principalmente, as relativas a jogos e bazares; tudo, da Igreja Matriz ao Mercado de Carne. As bancas de comidas, à base de galinha de capoeira, puxavam mais para a Rua Tertuliano Nepomuceno. Ali havia forró em vários lugares. Não podiam faltar nem a onda nem o curre por trás do “sobrado do meio da rua”. Na hora aprazada, ajeitava-se o balão enorme por trás das casas comerciais Arquimedes Autopeças e A Triunfante, de Manoel Constantino. Descia a banda de música do maestro Miguel Bulhões para abrilhantar o novenário. Após as solenidades religiosas, íamos ver o barco de fogo correr bonito no arame suspenso, defronte a igreja. Tempos à frente, veio à segunda fase. A fase do parque de diversões que empurrou a onda e o curre para cidades menores e povoados. O parque trouxe novidades como barcos, roda-gigante, pescaria a seco, tiro ao alvo, bingo e serviços musicais. Rapazes e moças gostavam de mandar músicas através do parque. Ao rapaz da blusa azul ou à moça do vestido vermelho, a música seguia com a frase: “Você já sabe”. E entrava Waldik Soriano, Silvinho, Miltinho e outros famosos da época, machucando os apaixonados.
Certo dia chegou à festa de Senhora Santa Ana, algo diferente. Armada na cabeça da Praça Senador Enéas Araújo, uma barraca bem feita com desenhos grandes nas tábuas, anunciava a mulher barbada e o homem que vira gorila. A barraca lotava na força da propaganda. Lá dentro, com os truques através de espelhos, mágicas e Física, a gostosona virava mulher barbada e, o homem forte transformava-se em gorila. Enquanto homem, o sujeito era manso; ao virar gorila, ficava brabo e queria engolir o mundo. Era um pandemônio desgraçado!
As eleições vem aí. Só se houve salvadores do Brasil. Como disco enganchado: “Porque a Saúde, porque a Educação... Porque a Saúde, porque a Educação... Porque a Saúde, porque a Educação... Eles se pronunciam. Todos são velhos conhecidos da gente. Depois os libertadores encerram o assunto, nem Saúde nem Educação. Sequer uma palavrinha com o homem comum, o homem do povo. Eles desaparecem do cenário como por encanto. Tornam-se escravocratas, reizinhos arrogantes e sujeitos imortais. Adoram serem endeusados pelos espíritos fracos dos puxas, dos borras, dos capachos... dos gansos. Pouquíssimos, raros mesmo, são os que não se deixam contaminar com a metamorfose. De maneira geral elas transformam-se em mulheres barbadas. E os masculinos (que transportam há muito o espírito de porco), com sadismo até, viram gorilas, muito parecidos com o GORILA DO PARQUE.
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