MELANCOLIA
(Clerisvaldo B. Chagas. 23.7.2010)
Literatura
O mês de julho é matador. Mês de julho é quem maltrata. Mês de julho não perdoa poetas, amantes, apaixonados. O mês mete medo. Ele traz a frieza insistente dos dias nevoentos. E eu vou espiando o lá fora pelas vidraças translúcidas de minha vida. O céu leitoso espelha a preguiça juliana. Pardais pelos muros, telhados, rede elétrica, lembram os dorsos negros das andorinhas ─ aves de caudas bífidas da torre da igreja, do poço dos Homens, ornamentos do destino. Meu hálito quente embaça o vidro companheiro. Decido-me pelo suicídio lento e deixo flutuar a voz do cantor:
(...) “Tarde fria,
Sinto frio na alma.
Só você, que não vem,
Me acalma...”
Os olhos se umedecem. Suspiro prolongado. Continua a música:
(...) “Vem o vento
E a tarde é fria,
Estou só
E minha alma vazia.”
Quero um cigarro. Um peste de um cigarro! Onde coloquei o maço? Ah, sim, não fumo. Não tem importância. Talvez um café pequeno resolva. Tanto o cigarro mata quanto o intérprete:
“Se o amor
É uma pérola clara
Se tem
O ardor de um rubi...”
(...) “Se o amor
Tem fulgor de brilhantes
Fiel como ouro de lei...”
Bate no velho peito uma tristeza profunda. O cafezinho nada resolve. Assalta-me novamente a vontade de ser fumante. O chefe dos pardais parece zombar de mim. Ficam vermelhos os olhos, a boca resseca, despertam-se as paixões. Rói o cérebro um dilúvio nelsiano:
“Outra noite que passei em claro
Só Deus sabe por quê
Outra noite de insônia e de cansaço
Outro pedaço da vida sem você...”
(...) ”Entre as paredes frias do meu quarto
Que outrora o seu amor vinha aquecer
A insônia conversa a noite toda
E não me deixa lembrar de te esquecer...”
Mês de julho é quem maltrata. Mês de julho é matador...
ME-LAN-CO-LI-A…
Trechos de letras musicais apresentados: “Tarde Fria” e “A Pérola e o Rubi” (Cauby Peixoto); “Noite de Insônia” (Nelson Gonçalves).
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