IPANEMA, A CENA DO URUBU (Clerisvaldo B. Chagas, 31 de janeiro de 2011).        Abrem-se as cortinas do esporte alagoano. Desfilam as core...

IPANEMA, A CENA DO URUBU

IPANEMA, A CENA DO URUBU
(Clerisvaldo B. Chagas, 31 de janeiro de 2011).

       Abrem-se as cortinas do esporte alagoano. Desfilam as cores da fantasia que deslumbram multidões sedentas de espetáculos. No mundo multicor abrasante, o verde-amarelo pipila com o curto bico do canoro Serinus canarius. Vindo das ilhas Canárias, da Madeira e dos Açores, o canarinho tornou-se uma das aves passeriformes mais queridas e apreciadas do país. Suas penas passaram a representar a bandeira nacional, parecendo um legítimo e inspirador filho do Brasil. Adotado simbolicamente pelo imaginário sertanejo, o canário no diminutivo, passou a fortalecer como mascote os passos do Ipanema Atlético Clube. Ipanema esse que sempre elevou o nome da cidade aos quadrantes do estado de Alagoas. Por uma parte é representante, embaixador, chanceler das terras de Senhora Santa Ana nos mais diversos estádios onde se reúnem os aficionados do reino Bola. Ora ganhando, ora perdendo, vai cumprindo os objetivos pelos quais foi nascido, batizado e crescido. Ele é filho de uma cidade que sempre apreciou o futebol desde os tempos mais longínquos onde a sede pelo esporte só era aplacada com os tiros de couraça nas redes adversárias.
       Para bem mostrar a presença da “Rainha do Sertão” no mapa triangular, o futebol matuto colheu a força extraordinária do operário sofrido do DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra a Seca – onde o suor e o sangue dos cassacos agigantaram as glórias do time do coração. Ipanema, mesclado com a poeira das rodagens e dos catabis sertanejos insolúveis, trazia derrotas e vitórias nos alforjes robustecidos das suas incursões.
       Santana, cidade situada a 220 km de Maceió, sem petróleo, sem turismo, sem canavial e sem indústrias, como pode conservar um time vencedor a altura das suas tradições? O campeonato alagoano de futebol, primeira divisão, é uma oportunidade de ouro para se elevar os nomes das urbes que adquiriram o direito desse torneio. Mas manter um time de futebol profissional com uma folha mínima é tarefa de abnegadas pessoas que merecem todo o respeito de uma imensa região. Despesas com folha de pagamento, obrigações sociais, refeições, farmácias, lavanderia, manutenção do estádio, viagens e tantas outras coisas que dependem dos seus parcos recursos, desestimulam os que não tem amor ao Clube. Existe ajuda sim, mas essas ajudas são poucas para formar um time como todos nós queremos. Portanto, mesmo com as quatro derrotas seguidas e uma vitória magra no Estádio Arnon de Mello, ainda consideramos os dirigentes do time canarinho uns verdadeiros heróis. Pessoas que poderiam estar cuidando da família e descansando em casa, trabalham nessas humilhantes tarefas de arrecadar dinheiro e enfrentar todo tipo de coisas para um pouco de alegria ao povo em vê o Ipanema jogar. A culpa do fracasso, na realidade, não é do time, não é dos dirigentes. A derrota é daqueles que tem obrigação moral de ajudar, por uma série de argumentos, mas ao invés de papel de boto, preferem fazer a CENA DO URUBU.



BARLAVENTO OU SOTA-VENTO (Clerisvaldo B. Chagas, 28 de janeiro de 2011). À memória do jornalista Mendonça Neto.        Geograficamente , b...

BARLAVENTO OU SOTA-VENTO

BARLAVENTO OU SOTA-VENTO
(Clerisvaldo B. Chagas, 28 de janeiro de 2011).
À memória do jornalista Mendonça Neto.

       Geograficamente, barlavento é o lado de uma montanha que recebe o vento. Diz-se que parte da montanha, da serra, da cordilheira, está a barlavento. Quando o vento sopra, então, para aquele lado, forçosamente eleva-se com sua umidade provocando chuvas ou orvalhos. Isso é uma das causas da chamada chuva de relevo. O monte a barlavento está quase sempre verde. A generosidade das águas permite a alegria, o ornamento natural, o refrigério, a receptividade à semente, a louvação ao cosmo. O sota-vento é a parte do morro oposta ao vento. Ao sota-vento, o vento chega seco e ajuda a maltratar o solo e a vida.
       Na política, a ciência de comandar, é semelhante aos fenômenos geográficos. O bom político é acima de tudo um bom caráter. O legítimo representante do povo é uma pessoa constantemente preocupada com o bem-estar da sua gente. Tendo como exemplo um prefeito, a primeira coisa que faz é acercar-se de pessoas decentes e capazes de, com ele, realizarem um trabalho planejado para o beneficiamento geral dos seus munícipes. Atende a todos com urbanidade, discute os problemas com seu povo e os encaminham com boa vontade as soluções. É ocupado, mas não humilha, mantém um diálogo constante com os mais frágeis nas áreas urbana e rural. Não governa para amigos, compadres, parentes, familiares, nem somente para a elite. Governa para todos, procurando eliminar vícios, zelando por uma cidade limpa, ruas livres de entulhos, terrenos baldios abertos, animais à solta, criação de porcos. Vai abrindo novas passagens, becos, ruas, avenidas, dando diretrizes, zelando pelo patrimônio público, valorizando as tradições, fomentando o progresso com emprego e renda. É humilde, amigo, receptivo, sem vacilar na autoridade que lhe foi outorgada. Não anda metido em escândalos e tem a admiração do povo que o elegeu. Mesmo que não faça tudo nas diversas áreas da sua competência, detém o reconhecimento público por todo esforço empregado e bom relacionamento com seus munícipes. Eis um líder. Esse é o prefeito barlavento.
       Como seria então o prefeito sota-vento? É seco. Governa para meia dúzia, preferencialmente para familiares e minoria. Despreza o povo, só atende aos escolhidos, distribui esporros e piadas, acerca-se de bonecos. Acha-se melhor do que os outros, aposta na imortalidade dos encarnados, ilude-se com o prazo de gerência, conduz a humilhação como bandeira. Não tem vínculo às massas. É xingado, odiado por onde passa numa sucessão de pragas que um dia tornar-se-ão palpáveis. Mantém-se no poder apenas pela força do suborno às autoridades outras, tão imundas quanto ele. É filho de satã, travestido de púrpura e que deixa morrer de fome e vergonha, os que a eles trata como escravos e não como credores. Espinho de mandacaru, furador e torturador dos humildes que o elegeram. Algo razoável, só de mau humor (ruindade nos cromossomos). Eis aí o prefeito sota-vento.
       Como você classifica o seu presidente, governador ou prefeito, meu amigo? Pode até haver um meio-termo, mas não deixa de ser apenas um véu de filó ou de gorgorão que encobre um dos dois: BARLAVENTO OU SOTA-VENTO.



A PACIÊNCIA DO POVO (Clerisvaldo B. Chagas, 27 de janeiro de 2011).        Para a linguagem das ruas, o pau estar comendo no Egito. Havia ...

A PACIÊNCIA DO POVO

A PACIÊNCIA DO POVO
(Clerisvaldo B. Chagas, 27 de janeiro de 2011).

       Para a linguagem das ruas, o pau estar comendo no Egito. Havia certa quietude no norte da África, ouvindo-se falar em agitações e mesmo guerras civis, abaixo da faixa saariana. Mas agora, quando o povo cansado de ditadura, botou a correr o dirigente da Tunísia, as ações de revoltas iniciam a moda também na parte setentrional do continente. O Egito, celebrando um acordo de paz com Israel em 1979, passou a ser aliado dos Estados Unidos e um moderador nos conflitos entre as nações árabes e Tel Aviv. O Egito, de tantas glórias no passado, é hoje uma república governada por um primeiro-ministro e um presidente. Na prática mesmo, quem manda é o presidente, no caso, Mohamed Hosni Mubarak, já com 82 anos de idade e no poder há mais de 50, sempre se saindo nos pleitos eleitorais como candidato único. As próximas eleições estariam marcadas para setembro próximo, quando Mubarak, apresentaria seu filho Gamal.
       Como as comunicações vão ficando mais fáceis no mundo, todos os povos vão sabendo o que se passa no restante do planeta. Assim vão caindo ─ devagar ou com revoltas ─ costumes bárbaros civis ou religiosos, ditadores, preconceitos contra negros e mulheres, amarras contra a liberdade total do homem e tantas outras coisas que o mundo civilizado pensa não existir. A fechadura oxidada de Cuba, China, Coreia do Norte, Venezuela que privam o povo da liberdade, quebrar-se-á hoje ou amanhã, assim como foi destroçada a da Tunísia e ameaçada a do Egito. O confronto no centro do Cairo, entre população e polícia, já matou mais de seis pessoas, deixando 50 feridas e 800 presas. Milhares investem contra o poder, o desemprego, a inflação, a corrupção, pedindo a saída de Mubarak, do primeiro-ministro e a dissolução do parlamento, na ânsia de um governo de unidade nacional. É de se saber que o Egito, com 80 milhões de habitantes, para a África tem posição de cabeça, mas ainda são muitos os problemas a serem resolvidos. 40% da população vivem com dois dólares por dia e um 1/3 do geral são de analfabetos. Sua economia baseia-se na Agricultura média, no petróleo e no Turismo.
       Para Estados Unidos e União Europeia, O Egito de Mubarak, representa um moderador nas brigas da região, mas também ponto de apoio e até de exploração do Ocidente. A imprensa oficial procura minimizar a revolta, mas a instigação pelo derrubada do atual governo, cada vez ganha mais força e o povo adere aos apelos da Internet. Tanto a UE quanto os EUA, pedem de uma forma patética ao senhor Mubarak, reformas políticas, econômicas e sociais. Lembram-se da História do Brasil, quando o ministro Ouro Preto pensou no assunto para não cair? Era tarde demais. Queda de Ouro Preto, queda de D. Pedro II, queda da Monarquia. Foi proclamada a República, imediatamente. Mas ainda existem muitos ditadozinhos ordinários que fazem dos olhos vidros foscos e dos ouvidos caixas de ilusão. Raramente um ordinário desses pensa na PACIÊNCIA DO POVO.