OS BATONS DA PRESIDENTA (Clerisvaldo B. Chagas, 22 de fevereiro de 2011).        Foi uma importante vitória para os dirigentes, a presença...

OS BATONS DA PRESIDENTA

OS BATONS DA PRESIDENTA
(Clerisvaldo B. Chagas, 22 de fevereiro de 2011).

       Foi uma importante vitória para os dirigentes, a presença da presidenta Dilma Rousseff no 12º Fórum de Governadores do Nordeste. O tempo dirá sobre as palavras de Rousseff, durante quarenta e cinco minutos, acalmando os governadores da região. A antiga SUDENE, que tantos projetos fomentou, teve o seu fim cercada de muitas denúncias de todos os tipos. O certo é que o Nordeste, apesar de sempre ser apontado como foco de miséria, deu um salto qualitativo muito importante e continua desenvolvendo. Se não podemos crescer como um todo, progredimos em forma de arquipélago, mas progredimos. O importante agora é fechar o vazio em que ficaram subregiões como a do semiárido, rendido por tantos males que antes incuráveis pareciam. Nordeste que agonizava diante das discussões, quase sempre errôneas dos frascos de mezinhas. Uma região dominada por olhares portugueses, canavieiros, sesmeiros latifundiários, só a partir dos anos sessenta despertou. Descobriu não ser a Geografia, o clima, os culpados das suas pancadas na cabeça, nos pés... No fígado; mas sim, a História, a Política que machucaram em séculos consecutivos. Foi bastante descobrir que a saída do marasmo, da ignorância, das trevas, dependia da política dos governos federais sucessivos, fortes e de boa vontade. Foi assim que nasceu esse grupamento de ilhas que tem que ser transformado no todo. Um crescimento igualitário deixando de privilegiar agreste ou litoral, incluindo definitivamente o Sertão, nessa etapa que o governo estar chamando de Novo Nordeste.
       Mesmo com a expressão batida ─ Novo Nordeste ─ pode ser que o apoio maciço demonstrado enfaticamente pela presidenta, confirme mesmo o vulgo ao final do seu mandato. Se as regiões desérticas de Israel e da Califórnia são desenvolvidas, por que não podemos, então, dizer o mesmo do nosso semiárido? Querer é poder, diz bem essa frase em relação a nós dos sertões nordestinos. O problema é que nunca quiseram. E se quiseram, não entraram a casa pela frente, mas sim pela cozinha. A boa vontade e a esperteza perderam-se nas águas dos açudes, dos caminhões-pipas, nas enjoativas falácias dos palanques. Com as afirmações, portanto, da presidenta e a mentalidade una dos caciques nordestinos, é bem possível que tenha chegado definitivamente a nossa vez. E se não acreditávamos mais nos humanos, bocas de calça, voltamos às esperanças para um rabo de saia. Falavam que os valores estavam invertidos; aproveitemos a inversão das calças. O tempo dirá se os chapéus que passaram são melhores ou piores do que os BATONS DA PRESIDENTA.

CASACA-DE-COURO (Clerisvaldo B. Chagas, 21 de fevereiro de 2011).        Não tem como ficarmos indiferente ao fracassado futebol alagoano....

CASACA-DE-COURO

CASACA-DE-COURO
(Clerisvaldo B. Chagas, 21 de fevereiro de 2011).

       Não tem como ficarmos indiferente ao fracassado futebol alagoano. Lembro sim dos tempos das exacerbadas paixões pelos dois clubes que faziam Maceió dividir-se. Levei para a capital a minha força e amor pelo Ipanema, forçado a esquecer do seu brilho do final dos anos cinquenta. Como Alagoas era marcado pela tradição do folclore do pastoril, dividia-se em azul e encarnado. Assim nasceram as cores dos dois times tradicionais da capital CSA e CRB. Estádio Rei Pelé inaugurado, construído com muito sacrifício, penalizando o funcionário público, lá íamos nós ao campo da Rua Siqueira Campos. Em república de estudante, as brincadeiras em dia de clássico mostravam-se bem movimentadas. Tempo do radinho portátil marca Sharp, potente, charmoso, protegido por uma bela capa de couro desenhado, sonho de consumo como o televisor de hoje. Quando o colega chegava do jogo, encontrava o placar zombador da derrota ao desvirar o prato do jantar. Longe de casa comecei a torcer pelo time azul, como do azul eram os meus pais. Cansado de tantos fracassos do futebol alagoano nas competições maiores, deixei de ir a jogos. Houve tempo em que Maceió possuía até quatro times profissionais, quando só podia sustentar um, como ainda hoje. Continuo CSA, mas a paixão acabou. Continuo Ipanema, mas a paixão acabou.
       O futebol alagoano ainda vive no passado e do passado. Há muito essa atividade virou empresa e precisa de todo oxigênio contemporâneo. Planejamento, organização, capital, investimento e mão de obra especializada, são ingredientes básicos para o sucesso. Nem a capital, nem o interior dispõem sempre dessas exigências. Quando tem uma coisa falta à outra e assim vai-se revezando nesses itens e colecionando fracassos em competições nacionais e mesmo do estado. Quando muito, algumas ações mais efetivas, depois a queda, a decepção costumeira. Esse futebol romântico, sem resultado, ajuda a frustrar marcando escanteio nos torcedores que vão trocando esse por outro esporte mais prazeroso.
       Com as sucessivas derrotas que nunca nos deixam ir além, vejo os times caminhando como nos tempos das repúblicas estudantis. Não resistem nem ao início de uma caminhada além-fronteiras. Para compensar aos abnegados, apelam para outros tipos de glórias do pretérito, citando feito e mais feitos num romantismo ingênuo e suposto consolador. Parecemos declamadores de Camões nas praças estaduais. Como a capital nunca chega a um milhão de habitantes, parece que temos o mesmo futebol/província que resiste a mudanças ou não encontra espaço diante de metrópoles que já entenderam o espírito do esporte/empresa. A sustentação exclusivamente política de um time fica dependente do humor coronelício. Sem querer fazer nenhuma propagando de instituto algum, Alagoas, sessenta anos depois, ainda precisa de um futebol moldado num SENAI, num SENAC, para dá frutos duradouros no seu terreiro e na casa alheia. Além dos ingredientes citados acima, é preciso ainda muito amor à camisa, pois o torcedor está querendo cada vez mais das suas cores, competência e bola redonda. Chega de apreciar fracassos e ninhos de CASACA-DE-COURO.

CARTAS QUEIMADAS (Clerisvaldo B. Chagas, 18 de fevereiro de 2011).        De vez em quando volto a imaginar sobre meus maiores ícones dos ...

CARTAS QUEIMADAS

CARTAS QUEIMADAS
(Clerisvaldo B. Chagas, 18 de fevereiro de 2011).

       De vez em quando volto a imaginar sobre meus maiores ícones dos últimos cem anos. Falando em termos locais, aquele que eu tanto admirava, desabou no meu conceito. Não soube ele investigar, separar, distinguir o remédio do arsênico. Quem mesmo vivido não é sensível para enxergar virtudes, não pode conservar uma amizade profundamente sincera. No âmbito de Brasil, tenho o padre Cícero Romão Batista como o homem do século vinte. E, lá fora, surgem Winston Churchill e Mahatma Gandhi, todavia, meus ícones de cabeça foi o Papa João Paulo II e são ainda Lech Walesa, Nelson Mandela e Mikhail Gorbachev.
       Eu estava saudoso desse ídolo terreno Gorbachev e de sua bela e elegante mulher Raissa. Eis que Mikhail Gorbachev reaparece aos 79 anos em entrevista, nessa quarta-feira passada (16). Veio denunciando a Rússia atual do presidente Dmitri Medvedev e do ex-presidente e hoje primeiro-ministro Vladimir Vladmovich (Putin). Em longa entrevista ao jornal de oposição “Novaya Gazeta”, do qual é acionista, o velho e coerente Gorbachev não poupou críticas a Rússia dos nossos dias. Apontou o país como uma forma política de “imitação”, formada por uma elite depravada. Quase vinte anos depois da Perestroika ─ palavra que percorreu insistentemente o mundo ─ o último dirigente soviético diz que tem vergonha da Rússia. Ninguém melhor do que o próprio Mikhail para falar com propriedade do mais extenso país do planeta. Critica a anulação de eleições para governadores e a falta de liberdade de expressão nas televisões nacionais. Foi Gorbachev quem lançou a Perestroika que derrubou o sistema da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, lado esquerdo de um mundo bipolar.
       Para quem pensa que a Rússia vive um mar de liberdade, estão aí às palavras de um homem a quem eu gostaria de abraçá-lo. O demolidor do comunismo, juntamente com o Papa João Paulo II e o sindicalista Lech Walesa, na Polônia. O velho líder fala também sobre sua mulher Raissa e o seu sofrimento (de Raissa) durante o golpe de 1991, motivo de piora da sua saúde. Raissa sofria de câncer quando piorou e veio a falecer em 1999. Ela teria sofrido um derrame e teve hemorragia nos dois olhos. Raissa havia queimado às cartas ─ cinquenta e duas ─ que seu amado havia escrito para ela durante a juventude. Assim ela fazia para proteger a vida privada de ambos contra intromissões estranhas, falou o corajoso Gorbachev, que pretende comemorar seus 80 anos festejando esse aniversário lá dentro de Moscou.
       Para ser destaque positivo no mundo, não deixam de surgir provações, dores e sacrifícios que moldam as grandes almas dos predestinados às enormes façanhas. Gorbachev não teve direito nem a recordar um doce passado diante de velhas e amarelecidas cartas de amor. Como o homem que mudou a direção do mundo, nós às vezes somos assim. Ficamos momentaneamente amuados, tristonhos, infelizes, com se fôssemos apenas pequena montanha de papéis carbonizados. Não passamos de perfumosas, meigas, amarelas folhas, relicários de jacarandás em CARTAS QUEIMADAS.