LAMPIÃO, A FESTA DOS MORTOS Clerisvaldo B. Chagas, 29 de julho de 2011 Série cangaço Nº 05 – Final            Consolidada a hecatombe de An...

LAMPIÃO, A FESTA DOS MORTOS

LAMPIÃO, A FESTA DOS MORTOS
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de julho de 2011
Série cangaço Nº 05 – Final

           Consolidada a hecatombe de Angicos, as onze cabeças dos bandidos foram salgadas e colocadas em um saco, pendurado num caibro, para serem retiradas nos ombros do local até a margem do rio São Francisco. O soldado eliminado no combate, o ferido e os despojos, também foram transportados com dificuldades. Os soldados estavam sem comer a três dias, a não ser rapadura com farinha, segundo o comandante. (Os corpos seriam sepultados ali, sem condições, dias depois). Em canoa subiu o cortejo macabro até a cidade de Piranhas que ouviu o tiroteio da madrugada. Piranhas assustou-se logo cedo por que um tiro deixou todos em alerta. Fora um acidente, quando um cidadão disparou uma arma contra a esposa. Logo as volantes entraram triunfantes em Piranhas, comandante ensanguentado à frente, à moda cangaceira. Os soldados traziam pelas ruas as cabeças degoladas penduradas pelos cabelos. Todos se dirigiram à casa do tenente João Bezerra, impregnando o ambiente da residência de suor e sangue. Dona Cyra, esposa de Bezerra, estava apavorada por causa da filhinha de berço, logo transportada para outra residência. Os soldados pulavam, dançavam, jogavam perfumes apreendidos, uns nos outros e cantavam “Mulher Rendeira”, numa alegria se fim. A cidade inteira comemorava e atirava para cima, invadindo a casa do tenente para contemplar as cabeças que depois foram colocadas em latas de querosene, com álcool, e expostas organizadas como troféus nos degraus da Prefeitura (foto que ainda hoje corre mundo). Depois as cabeças foram transportadas para Santana do Ipanema, em caminhões levando a tropa, sendo apresentada antes em outros lugares do trajeto. (Obs. inúmeros detalhes foram omitidos no todo, ficando para os livros anunciados).
             Em Santana, a festa de posse do interventor Pedro Gaia, emendou com a chegada das cabeças. Houve feriado nas escolas, o comércio fechou, banda musical apareceu e um desfile dos soldados e comandantes enaltecia o feito pelas ruas da cidade. Entrevistas, discursos e bebidas assoberbaram em Santana do Ipanema. Os presos do cangaço de antes de Angicos, espiavam a folia pelas grades do quartel, como a ex-cangaceira Aristeia, mulher de Catingueira II. Santana do Ipanema, sede das operações contra o cangaço em Alagoas, com seu 2º Batalhão de Polícia, comandado pelo major José Lucena de Albuquerque Maranhão, recebeu de Maceió, um enviado para aplicar injeções de formol nas cabeças dos cabras abatidos em Angicos. As onze cabeças foram expostas do mesmo jeito de Piranhas, nos degraus da igrejinha/monumento de Nossa Senhora da Assunção, sobre uma toalha branca. Havia uma multidão enorme com gente até de outros estados brasileiros, inclusive fotógrafos e repórteres de revistas famosas do Brasil.
             As cabeças depois seguiram para Palmeira dos Índios, expostas como em Santana, Limoeiro de Anadia, Mosquito e São Miguel. (Temos detalhes). A cabeça de Lampião e Maria Bonita seguiram à frente para a capital e, as outras chegaram depois, de trem. Houve apresentação das cabeças e delírio coletivo em Maceió. O governo premiou a tropa em cinquenta contos no geral. Os soldados ganharam um conto de reis, cada, e os comandantes foram promovidos. Bezerra foi internado para retirar bala alojada na coxa esquerda, em cirurgia. Viajou ao Rio de Janeiro chamado por Getúlio Vargas, mas depois caiu no esquecimento. Notícias e fotos percorreram o Brasil e o mundo no dia em que Santana do Ipanema e Alagoas mostravam Lucena, Bezerra, Aniceto, Francisco Melo e povo no último evento de Virgulino: LAMPIÃO, A FESTA DOS MORTOS.

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LAMPIÃO, A HECATOMBE DE ANGICOS Clerisvaldo B. Chagas, 28 de julho de 2011 Série cangaço Nº 04   Vergonhosamente protegido pelo govern...

LAMPIÃO, A HECATOMBE DE ANGICOS

LAMPIÃO, A HECATOMBE DE ANGICOS
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de julho de 2011
Série cangaço Nº 04

 Vergonhosamente protegido pelo governador de Sergipe, acossado incessantemente pelas volantes de Zé Rufino (Bahia) e dos nazarenos (volante dos meninos), chefiada por Manoel Neto (Pernambuco) que invadiam o solo sergipano, ficou difícil para Lampião. Foi o assecla buscar refrigério na fronteira Sergipe/Alagoas, onde contava com muitos protetores desde coronéis a coiteiros simples, gente do povo. Nesse refrigério, recebia balas e armas de pessoas importantes e jogava carteado com a polícia na casa do velho Bié das Emendadas. A carta do promotor de Água Branca, Alagoas, denunciando essa situação, fez Getúlio apertar os governadores e estes a seus comandantes de polícia. Segundo autor abalizado, o tenente Bezerra, tramou com o coiteiro Pedro de Cândido um envenenamento a Lampião. Nos meados de julho, vindo pela última vez de Pernambuco, Virgulino, em Sergipe, cenário do grande rio, convocou seus subgrupos para um encontro no coito de Angicos (uma grota cercada de morros com um riacho que despeja no São Francisco). Por outro lado, sem sabe dessa traição ─, pois, ambos eram amigos de Virgulino ─ o vaqueiro e também coiteiro Joca do Capim, incomodado com as traições de sua mulher com o cangaceiro Querosene, resolveu trair o bando, ao sargento Aniceto, que não sabia da trama de Bezerra e Pedro de Cândido. Após muitas minúcias (que o leitor irar ver nos livros “Lampião um raio de perigoso” e “Lampião em Alagoas”) Bezerra resolve (após enviar comida envenenada por Pedro de Cândido e seu irmão Durval), invadir a Grota de Angicos. Só teve essa coragem, entremeada de indecisões, por causa do aspirante Francisco de Melo e, seu ordenança o feroz Mané Veio (Antonio Jacó) que nada sabiam sobre o veneno.
          Numa noite chuvosa de inverno, escuro e “frio de matar sapo”, as volantes alagoanas, guiadas por Pedro de Cândido e seu irmão Durval, cercaram a grota dos Angicos na madrugada de 28 de julho de 1938. Na hora em que Lampião e mais alguns poucos cabras (provavelmente três) beberam o café, Lampião caiu sentado na rede, revirando os olhos e morreu rapidamente. Os outros três rodaram e tombaram, uns para frente, outros para trás (conforme depoimento de Paturi, o cangaceiro escondido que viu tudo).  Quando foi anunciada a morte de Lampião, aos gritos, teve início a fuzilaria. Ao encerrar o primeiro horror do salve-se quem poder, teve início a fase do inferno: Saque generalizado, mortes dos moribundos, chistes e taras com o cadáver de Maria Bonita (degolada viva) e o horrendo cortar de cabeças, dedos e braços na ânsia pela riqueza. Os mais beneficiados ficaram com o grosso, dinheiro e joias dos mais ricos: Bezerra com a fortuna de Lampião, Mané Veio com a de Luiz Pedro.
         Os onze mortos foram: Lampião, Maria Bonita, Quinta-Feira, Cajarana, Enedina, Luiz Pedro (Esperança II), Mergulhão II, Elétrico e os outros três que ainda hoje são mudados pelos entendidos: Moeda, Alecrim e Colchete II. (Dizem agora que Alecrim escapou, foi descoberto e concedeu entrevista). Ah, cangaço!
         Os inúmeros detalhes de muitas páginas não cabem somente numa crônica, neste dia de aniversário de 73 anos da morte de LAMPIÃO, A HECATOMBE DE ANGICOS.
Continua. 



LAMPIÃO A FERRO E FOGO Clerisvaldo B. Chagas, 27 de julho de 2011 Série cangaço Nº 03 Lampião não brincava em serviço. Bebia pouco e pensa...

LAMPIÃO A FERRO E FOGO

LAMPIÃO A FERRO E FOGO
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de julho de 2011
Série cangaço Nº 03

Lampião não brincava em serviço. Bebia pouco e pensava muito. Através do tempo e da inteligência montou sua estrutura e estratégia militar. Iniciou o seu próprio bando em 1922, com apenas cerca de catorze homens, remanescentes do bando de Sinhô Pereira. Quando passou em Alagoas e daí foi ao Juazeiro atender o chamado para combater a Coluna Prestes, em 1926, contava com um bando em torno de 106 homens. Tinha até um corneteiro chamado Mormaço, provando mais uma vez o seu gênio militar. No princípio, gostava de exibir grandeza atuando com o bando inteiro. Ao ser destroçado na campanha da retirada de Mossoró, em 1927, reduziu o bando na sua reorganização para a média de sessenta cabras, divididos em subgrupos próximos de seis homens, comandados pelos de confiança. Os seus homens de confiança eram chamados de “os grandes do cangaço”, “o estado maior do bando”, “os maiorais” ou “compadres de Lampião”. Ao chamar um cangaceiro de compadre, Virgulino assegurava o certificado da confiança e o cabra passava a ser um dos grandes da quadrilha. Para se tornar um dos grandes, o cangaceiro ia crescendo nas ações, até chegar a chefe de subgrupo. Virgulino, espontaneamente ou através de pressão ou sequestro, obrigavam rapazes a fazer parte do bando, substituindo as suas baixas. Foram os maiorais de Lampião, cangaceiros como: Sabino (famoso na Paraíba), Corisco (famoso em Alagoas), Antonio Ferreira (Esperança), Ezequiel (Ponto Fino), Mariano, Virgínio (Moderno), Luiz Pedro (Esperança II), Mergulhão I, Arvoredo, Cirilo de Engrácia, Antonio de Engrácia, Moreno, Zé Sereno, Zé Baiano, Ângelo Roque (Labareda), Fortaleza, Moita Braba, Gato I e até mesmo Português.
         Lampião, em entrevista no Juazeiro do Norte, em 1926, dizia girar em torno de duzentos combates enfrentados por ele. Durante o seu nefando reinado, entre 1922 e 1938, são incalculáveis os medonhos tiroteios acontecidos. Os destaques da carreira, entretanto, ficam em quatro, segundo unanimidade de opinião: um em Alagoas (combate do Serrote Preto), dois em Pernambuco (combates do Poço Branco e o da Serra Grande) e um em Sergipe (combate da Maranduba). O primeiro combate, o de Poço Branco, aconteceu em Pernambuco perto da atual cidade de Inajá, logo após dois combates em Alagoas: o do Cipó do Gato e do Chicão, em 1921. Lampião deixou pistas propositais para uma emboscada feita a Lucena Maranhão. Aí em Poço Branco (início de carreira) foi tão perfeito na estratégia que ficou sendo considerado estrategista militar nato. Poço Branco foi o combate que o projetou, daí a sua importância. No combate de Serra Grande, em Pernambuco, em 1926, derrotou várias volantes reunidas, dos maiores nomes perseguidores do cangaço. Esse foi o combate da consolidação militar; o maior de todos, sessenta e poucos cabras contra cerca de 300 atacantes. Serrote Preto em Alagoas (1925) e Maranduba em Sergipe (1932) repetiram os sucessos anteriores.
          De aperto em aperto, de combate a combate, o velho Sertão nordestino resistia à cartucheira e ao desvario de LAMPIÃO A FERRO E FOGO.

* Continua.