A LUA DE ZERUBANO Clerisvaldo B. Chagas, 17 de agosto de 2011.           Quando os americanos anunciaram a chegada do homem a Lua, houve c...

A LUA DE ZERUBANO

A LUA DE ZERUBANO
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de agosto de 2011.

          Quando os americanos anunciaram a chegada do homem a Lua, houve certa euforia no mundo inteiro, inclusive, com declarações dos astronautas. Esse assunto rendeu muito na mídia internacional. Os Estados Unidos disputavam com a, então, União Soviética, o domínio do espaço que na linguagem da nossa terra traduzia em cada um que quisesse ser melhor do que o outro. Nas escolas, nas ruas, nas praças, igrejas e restaurantes não se falava de outra coisa a não ser a incrível aventura do engenho americano que se cristalizava em sonho realizado. Entretanto, o nosso vizinho, em Santana do Ipanema, homem bastante rude e durão chamado José Urbano (conhecido como Zerubano) fincou o pé na parede dizendo que não acreditava de jeito nenhum que o homem havia pisado na Lua sagrada de Nosso Senhor Jesus Cristo. Difícil era a garotada encostar para convencer o incrédulo. Ora, se para os adultos já era difícil dialogar com o vizinho, imaginem para rapazes como nós! O tempo foi passando, a literatura espacial ganhou corpo, os Estados Unidos ganharam mais fama ainda e os soviéticos engoliram a bucha inchando o pescoço. A partir daí, ninguém mais ousou falar que também havia chegado à Lua. A chegada americana por àquelas bandas, deve ter sido em razão de um simples cochilo de São Jorge, um susto tomado pelo seu cavalo branco... O certo é que não se tratava de coisa corriqueira.
          Com o mesmo entusiasmo comemorativo ao feito, setores ligados ao assunto parecem ter conhecido a suspeita do nosso vizinho de Santana e começam fortemente a dar razão a Zerubano. Os artigos publicados na mídia, falam da grande farsa do século passado, analisando, argumentando tudo, afirmando que tudo foi montado para ludibriar o povo e baixar o astral dos adversários da corrida espacial. Nunca soubemos também da opinião de Seu Lunga, o homem de Juazeiro mais ignorante do Brasil, motivo de várias matérias. Se tivesse sido consultado igualmente a Zerubano, a resposta seria imprevisível, no mínimo chamaria o perguntador de “abestaiado”. De qualquer maneira estão os desmentidos, argumentos e provas que, segundo esses estudiosos, o homem nunca foi à lua. Em quem acreditar agora? Bem que o nosso falecido vizinho arranjou bons aliados para sua tese sertaneja: “Mentira desses fios da peste!”.
          Ontem foi dia de parada nacional dos professores, saco de pancadas dos políticos. Repetem-se pelas ruas desse país as famosas passeatas, protestos, faixas, cartazes e palavras de ordem. Militando no Magistério em mais de trinta anos, vamos retirando do baú os mesmos retratos de caras diferentes colecionados em décadas. É nossa tradição filosófica popular quem diz: “Quando Deus dá a farinha o diabo vem e rasga o saco”. E o pior é que o diabo nunca esteve tão ativo a espreitar o salário do professor com o tridente de furar sacos. O homem foi à Lua ou não foi? Um dia o professor irá ganhar dignamente ou não? Quem já foi otimista não está mais seguro assim; portanto a tendência de mais de trinta anos em desfiles de avenidas, vai pendendo gradativamente para a LUA DE ZERUBANO.
·         Visite também o site do autor: clerisvaldobchagas.blogspot.com

BERRAR EM PAZ Clerisvaldo B. Chagas, 16 de agosto de 2011             Depois de tanto atraso e miséria, o crescimento econômico do No...

BERRAR EM PAZ


BERRAR EM PAZ
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de agosto de 2011

            Depois de tanto atraso e miséria, o crescimento econômico do Nordeste tem atraído importantes indústrias para a região. Um exemplo muito bom é a montadora de veículos, como a instalada em Camaçari, na Bahia. Quando uma grande indústria instala-se em uma região, a tendência é nunca ficar isolada naquele território. Outros investimentos são atraídos pela primeira iniciativa, começando um círculo virtuoso que vai mudando a olhos vistos, o padrão de vida regional. Impulsionada a economia, amplia-se o nível de emprego, melhorando as condições de muitos trabalhadores.
          Olhando de perto o mapa nordestino, temos uma área de 1,5 milhões de quilômetros quadrados. Isso equivale a mais ou menos a França, Alemanha, Grã-Bretanha e Itália reunidas. A população deve ficar em torno de 50 milhões de habitantes. Há pouco mais de dez anos, fabricávamos apenas produtos tradicionais em pequena escala. Está certo que o Nordeste sofreu muito, mas já é possível vislumbrar um progresso crescente, muitas vezes até acelerado como se fosse uma mentira bem contada. Esse progresso não vem homogêneo nos estados, mas o preenchimento da onda que não para, termina acontecendo em toda extensão nordestina, até por que os ramos da economia vão se completando em todos os territórios. Bahia, Pernambuco, Ceará e Paraíba, conquistam benefícios industriais para a periferia de suas cidades polos. Já houve até um estancamento da sangria migratória para o Sudeste, graças a esses novos motivos. São os fixadores dos jovens a própria terra através das oportunidades para quem estuda e quer trabalhar.
          Já produzimos autopeças, componentes químicos, softwares, roupas de grifes e calçados esportivos. Se formos olhar também para outros estados como Sergipe, Alagoas e Piauí veremos distritos industriais em pontos estratégicos. Muitas indústrias não olham somente para o Sul/ Sudeste, mais perto do MERCOSUL de fato, apostam também nas distâncias menores do Nordeste para a África, Estados Unidos e Europa na vez de exportar para esses destinos. Estamos despontando como segundo maior polo brasileiro na fabricação de têxteis e confecções e ainda o segundo produtor de calçados. Não vendemos apenas buchadas de carneiros e chocalhos, como antigamente. Chegou a hora da lapada com chapéu de couro em cara de onça. Agora sim, dos coqueirais aos mandacarus, das jangadas aos cavalos pés-duros, das marés perigosas aos serrotes do Sertão, correu a liberdade, finalmente chega à ordem triunfante: O nosso bode pai de chiqueiro já pode BERRAR EM PAZ.

OS CHOCALHOS DE AGRESTINA Clerisvaldo B. Chagas, 15 d agosto de 2011          Somos sertanejos apaixonados pelas coisas do Nordeste. ...

OS CHOCALHOS DE AGRESTINA


OS CHOCALHOS DE AGRESTINA
Clerisvaldo B. Chagas, 15 d agosto de 2011

         Somos sertanejos apaixonados pelas coisas do Nordeste. Gostamos de andar nas feiras semanais do interior, vendo, examinando, perguntando sobre tudo. É a vara de ferrão, a canga bem feita, o caçuá de cipó, o abano de palha, bonecos e animais de barro, folhetos de cordel e muitos outros objetos que caracterizam a nossa região, o nosso mundo particular nordestino com tantas e tantas histórias contadas. Entre esses objetos interessantes feito com arte, rudes ou bem polidos, vamos encontrando as bancas de arreios confeccionados pelos mais exímios artesãos. Está ali pertinho à banca de chocalhos, instrumento milenar usado na criação extensiva nordestina, muitas vezes associados à valentia de rixas de família entre brigas de coronéis de terras e cangaceiros. Lampião mesmo inicia sua vida atribulada amassando chocalho em desafio ao futuro inimigo José Saturnino.
        Antigamente no Nordeste inteiro ─ e atualmente ainda em algumas regiões ─ não havia cercas entre extensas fazendas de diferentes donos, heranças das sesmarias. O gado bovino, muar, equino e o chamado gado miúdo, criavam-se pela caatinga vasta, localizados pelos diferentes sons de chocalhos que levavam ao pescoço, cingidos por uma correia de sola. O mais interessante de tudo é que os sons desses instrumentos são diferentes, mesmo sendo fabricados com o mesmo material e do mesmo jeito. É por isso que cada proprietário identificava longe o seu animal, mesmo que vários chocalhos tocassem ao mesmo tempo. Geralmente o chocalho era colocado no líder do rebanho ou nas fêmeas amojadas (estas por causa de possíveis problemas nas parições, inclusive por ataques de predadores, como onças e carcarás).
         Agrestina, cidade pernambucana, localizada na Grande Caruaru, é a capital brasileira do chocalho. Cerca de 400 habitantes que vivem na área rural da vila Santa Tereza, trabalham nesse ofício cuja tradição vai passando as sucessivas gerações. Em toda a extensão da vila, ouve-se o som das batidas nos fabricos dos chocalhos, instrumentos de metal com badalo, semelhantes à campainha. Essas famílias tiram o sustento desse tipo de trabalho, exportando para todo o país, o que impulsiona a economia local. Agrestina também é região de brejo, tem suas cachoeiras, além de mexer com vaquejadas, repentes e aboios que atraem turistas que se deslocam para Caruaru, centro bem maior. Em um dos combates dos cangaceiros na caatinga, eles se aproximam do inimigo portando chocalhos, o que faz confundir os adversários com os animais da fazenda. Esse instrumento tão simples e tão útil, também serviu muito aos tropeiros ou almocreves com suas tropas de burros levando e trazendo mercadorias por todos os sertões dos nossos avós. Benditos os CHOCALHOS DE AGRESTINA.