domingo, 14 de agosto de 2011

OS CHOCALHOS DE AGRESTINA


OS CHOCALHOS DE AGRESTINA
Clerisvaldo B. Chagas, 15 d agosto de 2011

         Somos sertanejos apaixonados pelas coisas do Nordeste. Gostamos de andar nas feiras semanais do interior, vendo, examinando, perguntando sobre tudo. É a vara de ferrão, a canga bem feita, o caçuá de cipó, o abano de palha, bonecos e animais de barro, folhetos de cordel e muitos outros objetos que caracterizam a nossa região, o nosso mundo particular nordestino com tantas e tantas histórias contadas. Entre esses objetos interessantes feito com arte, rudes ou bem polidos, vamos encontrando as bancas de arreios confeccionados pelos mais exímios artesãos. Está ali pertinho à banca de chocalhos, instrumento milenar usado na criação extensiva nordestina, muitas vezes associados à valentia de rixas de família entre brigas de coronéis de terras e cangaceiros. Lampião mesmo inicia sua vida atribulada amassando chocalho em desafio ao futuro inimigo José Saturnino.
        Antigamente no Nordeste inteiro ─ e atualmente ainda em algumas regiões ─ não havia cercas entre extensas fazendas de diferentes donos, heranças das sesmarias. O gado bovino, muar, equino e o chamado gado miúdo, criavam-se pela caatinga vasta, localizados pelos diferentes sons de chocalhos que levavam ao pescoço, cingidos por uma correia de sola. O mais interessante de tudo é que os sons desses instrumentos são diferentes, mesmo sendo fabricados com o mesmo material e do mesmo jeito. É por isso que cada proprietário identificava longe o seu animal, mesmo que vários chocalhos tocassem ao mesmo tempo. Geralmente o chocalho era colocado no líder do rebanho ou nas fêmeas amojadas (estas por causa de possíveis problemas nas parições, inclusive por ataques de predadores, como onças e carcarás).
         Agrestina, cidade pernambucana, localizada na Grande Caruaru, é a capital brasileira do chocalho. Cerca de 400 habitantes que vivem na área rural da vila Santa Tereza, trabalham nesse ofício cuja tradição vai passando as sucessivas gerações. Em toda a extensão da vila, ouve-se o som das batidas nos fabricos dos chocalhos, instrumentos de metal com badalo, semelhantes à campainha. Essas famílias tiram o sustento desse tipo de trabalho, exportando para todo o país, o que impulsiona a economia local. Agrestina também é região de brejo, tem suas cachoeiras, além de mexer com vaquejadas, repentes e aboios que atraem turistas que se deslocam para Caruaru, centro bem maior. Em um dos combates dos cangaceiros na caatinga, eles se aproximam do inimigo portando chocalhos, o que faz confundir os adversários com os animais da fazenda. Esse instrumento tão simples e tão útil, também serviu muito aos tropeiros ou almocreves com suas tropas de burros levando e trazendo mercadorias por todos os sertões dos nossos avós. Benditos os CHOCALHOS DE AGRESTINA.




















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