sexta-feira, 5 de agosto de 2011

PÃO SUMIDO

PÃO SUMIDO
Clerisvaldo B. Chagas, 5 de agosto de 2011

           O menino pediu cinco pães doidos. Com interrogação à testa, a moça ficou sem entender. O garoto foi claro: “Pai disse que o pão agora só tem casca, nada de miolo”. Bem assim outro menino esquecera o nome do pão francês (esse tipo em que se coloca produto proibido para ficar bem cocrante). Com a insistência do balconista, o danadinho se saiu por aqui assim: “É daquele que mela a mesa”. Sempre que passávamos em uma cidade sertaneja para trabalho de pesquisas, perguntávamos na padaria: “Tem pão cinza?”. Claro que a pergunta era sempre interior, pois ninguém vai comprar briga por causa de um pão. Apresentava-se uma bisnaga feita não sabemos como, mas que era cor cinza, era; e comível por ser a única do lugar. Pois bem, agora o pão nosso de cada dia foi diminuindo de tamanho.  E está sendo chamado nas casas das famílias de “pão de Santo Antônio”. É uma gargalhada só, com o engodo de algumas padarias. O pão de Santo Antonio é um pão muito pequeno, tradicional da Igreja Católica, distribuído aos seus fiéis no dia do referido santo. Ele é bento pelo sacerdote e, segundo tradição, deve ser colocado no depósito da farinha para que jamais falte comida naquela residência. Claro que tudo depende da fé. Pois parece que as padarias aderiram de uma vez por todas a tradição católica. Alguns pães, como o tipo crioulo, por exemplo, não resistem pelo menos a duas mordidas. Assim um novo título já surge no comércio: “Pão sumido”. “Pão sumido?” “Sim, seu Zé, pão sumido. Mais uma semana e ele desaparece”.
          Enquanto isso, o restinho da caatinga vai para o pátio das padarias. O tal do Meio ambiente nada faz porque não existe, é incompetente ou conivente com a destruição do nosso bioma. Certa padaria tentou resolver a situação comprando móveis velhos e plásticos rígidos, por isso a poluição do português, duas vezes ao dia, não tem vizinhança que aguente. “Quero um real de pão de plástico”. “O quê?” Recuo imediato: “Um real de pão”. Mês passado, ao reclamar da diminuição da quantidade de pães e do menor tamanho pelo mesmo preço, um cliente de uma padaria, recebeu do dono que estava no caixa, um recado na presença da fila: “Eu não chamei o senhor para comprar aqui”. Envergonhado, o senhor, já de certa idade, baixou a cabeça e mudou de padaria.
          Assim a população vai tocando a vida sem defesa alguma, em relação ao pão de Santo Antonio ou mesmo ao pão que o diabo amassou. Pão grande faz mal a saúde e sendo tamanho normal, pior ainda. Com falta de opção, portanto, só resta mesmo ao consumidor comer esse tão sacrificado PÃO SUMIDO.

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