O JUMENTO DO MARANHÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de agosto de 2011.
Rapaz! Jumento é um animal interessante que já foi cantado por Luiz Gonzaga e mais uma porção de outros cantores. Entrou na Literatura, saiu no lado oposto. Recebe apelido de todo jeito: é asno, babau, inspetor, jegue, jerico, cabeçudo e assim por diante. O falo faz inveja a muitos homens e, as mulheres... Deixe pra lá! O bichinho é obediente, serve muito nas fazendas do Nordeste carregando palma, lenha, capim, água, carvão, frutas... E gente! Sim, quando o jumento é de carga o sujeito vai à garupa. Quando bom de sela é brinco. Corre solto nos cercados ou em lotes, mordendo, escoiceando, divertindo-se. Persegue as jumentas por entre espinhos de macambira, zurra como um danado e nas horas vagas também procura as éguas. Quando você quebra o relógio, o babau avisa a hora. Se é meio-dia, a sombra desce para a barriga. Nos ataques da onça, o coice “vadeia”! Se enfrenta cavalo, a mordida come! Nas secas brabas, o bicho devora casca de pau, engorda e zomba do tempo. Se alguém o chama de burro ele não gosta. Burro é burro, jumento é jumento, ora bolas! Ele é bonzinho, bonzinho, mas quando empanca, ai, ai!... Só não sei se gosta de trator. A tecnologia deixou o bichinho desvalorizado. Tem jegue vagando por aí que não vale sequer um real. Anda emparelhado nas estradas, provocando acidentes de trânsito. Mas o Nordeste deve muito ao jerico que não enjeita trabalho, inclusive em Santana do Ipanema existe uma estátua na entrada da cidade em homenagem ao seu esforço, o grande ajudante da coragem humana.
Ultimamente o jegue voltou às páginas. Em Santana, autoridades estadual e municipal preocupam-se com suas perambulações, ou será inveja do seu vigor? Um dos site da cidade mostra foto, ironiza a pauta do dia da Câmara, cujo vereador sem assunto resolve defender jumento. Agora o presidente do Senado, José Sarney, é criticado porque voa a passeio nas aeronaves do estado. Cada um que queira espetar o bigode de Sarney com denúncias sérias ou irônicas. Um defende outro ataca. O presidente se arma perguntando se quem o critica prefere que ele ande a jumento. E lá vai o jerico de Sarney marchando com toda pompa entre os belíssimos lençóis maranhenses. Lá em baixo o presidente sem espora vai acenando para os helicópteros, os jatinhos executivos, as aeronaves militares lá em cima, brincando com as nuvens.
Apertam-se os laços contra os desmandos do país. Entre discursos, crônicas, charges e passeatas, as consciências civis vão saindo das fossas abissais, emergindo nas águas da moral, para forçarem um tsunami de ordem na anarquia secular. Pelo menos simbolicamente um quadrúpede ganha à mídia. Não importa se o babau é de Alagoas, Bahia ou Pernambuco, abaixo a mordomia do aeroplano, gritam eles, valorizemos o JUMENTO DO MARANHÃO!
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