DUVIDE! Clerisvaldo B. Chagas, 21 de junho de 2013. Crônica Nº 1039 Em torno de 1970, houve a fundação do quarto teatro de S...

DUVIDE!



DUVIDE!
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de junho de 2013.
Crônica Nº 1039

Em torno de 1970, houve a fundação do quarto teatro de Santana do Ipanema. Um grupo de pessoas lideradas por mim e por Albertina Agra movimentou essa parte intelectual entre os alunos do Ginásio, criando a “Equipe XVI”, porque era o número de indivíduos componentes. O teatro recebeu o nome de “Teatro de Amadores Augusto Almeida” em homenagem a esse homem que viera do Recife para ensaiar o terceiro teatro do qual Albertina também fizera parte. Mandamos confeccionar camisetas que tinha como emblema um sol, representando a Cultura e o nome “Equipe Dezesseis” no centro. Conseguimos o auditório do Ginásio Santana que nessa época estava ocioso, e ali montamos o nosso palco. A cortina vermelha foi cedida por Albertina, trazida dos teatros anteriores. Para trabalhar com madeira, convidamos o senhor Antônio Darca, competente marceneiro, morador da Rua Nova, onde até hoje mora na mesma residência. O serviço de iluminação − jogo de luzes − inclusive da ribalta, foi executado com mão de obra pela gentileza da prefeitura. Mandamos fechar com ripas as altas janelas, acima da marquise e, eu mesmo pintei a madeira, em forma de tela. Alguns nomes dos componentes vêm à memória: Albertina, Clerisvaldo, Juarez (Bêinha) e seu cunhado Bernardino, Newton, Bartolomeu, Omir, Lupinha, e sua irmã, Leda Fausto, Socorro Chagas, Ana Chagas (irmã de Socorro), Maria Dionísio...
Lembro muito bem que na época a pessoa respeitada em eletricidade era um cidadão chamado Ariston, também especialista em instalações de antenas parabólicas. Por uma pequena falha, talvez excesso de confiança, chegou à cidade a notícia da morte de Ariston, em cidade vizinha, eletrocutado durante o seu perigoso serviço. Da prefeitura, então, chegou ao teatro o senhor Antônio Eletricista que morava na COHAB Velha e que residira por vários anos à Rua Professor Enéas. Baixinho, chapéu de massa de abas curtas, Seu Antônio trabalhava lentamente no quadro de luzes da ribalta. Isso era motivo para que perdêssemos a paciência com a lentidão do serviço complexo. Indagando, educadamente, a causa da demora, o eletricista, sem olhar para nós, olhos grudados no serviço, respondeu com a mesma velocidade com que trabalhava: “Energia é serpente. O homem que mais sabia morreu picado”, referindo-se ao finado Ariston.
Abandonamos o teatro, depois, por causa das exigências da ditadura contra as artes. Agora contemplamos o povo usufruindo dos direitos da democracia. A multidão nas ruas gritando contra a corrupção, faz lembrar as palavras traduzidas de Seu Antônio: “Povo é serpente, o político que mais sabia morreu estraçalhado”. DUVIDE!

RESPIRAR FUNDO Clerisvaldo B. Chagas, 20 de junho de 2013 Crônica Nº 1038 NEYMAR Foto: (g1.globo). Termina o primeiro ato ...

RESPIRAR FUNDO



RESPIRAR FUNDO
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de junho de 2013
Crônica Nº 1038
NEYMAR Foto: (g1.globo).

Termina o primeiro ato nos palcos brasileiros e novamente abrem-se as cortinas para o futebol. Um duelo para quem gosta e quem não apreciam os lances da arte nos estádios. Nunca sentamos à poltrona para não criticarmos sadia e mentalmente os lugares das cores. Sempre achamos mais bonito e representativo a antiga camisa em amarelo-queimado e calção verde-bandeira. Não recusamos esse pensamento uma só vez quando vem a campo a seleção do Brasil. Mesmo assim o importante é que os nossos jogadores vençam as partidas, não importa se vestindo às cores de famosas pilhas de lanterna.  A partida foi importante, entre outras coisas, para cortarmos o trauma que iniciava a petrificação, com apenas dois chutes suspirados. O México, nosso velho freguês, já estava começando a arrepiar as penas após seus longos goles de malagueta com tequila. “La Cucuracha” não queria mais respeitar a malandragem do samba brasileiro e, o chapéu descomunal subia e descia ornado, risonho e bigodudo. Para tirar a limpo a patente das canelas, o amarelo-mundiça resolveu impor a cachaça de cana-de-açúcar.
Gostamos de ver os jogadores em campo, não unicamente pela vitória que foi muito bonita, mas pelo posicionamento na cancha que mostrava defesa sem oportunidades para os adversários. No geral, a partida teve poucos momentos emocionantes. A maior parte do tempo levou o embate para certa monotonia e sonolência e dava a entender que os jogadores estavam cansados e sem inspiração. O carinho da torcida cearense foi essencial para uma vitória sob o sol nordestino, deixando a capital cearense e os jogadores felizes, tantos os daqui quanto os do golfo. Ninguém pode ir de encontro ao talento de Neymar que parece ascender a cada partida. Outras revelações importantes começam a se firmar e ficamos abismados com o desconhecido Jô. E para falar a verdade, não pensamos que a defesa da seleção chegasse aos pés de veteranos outros, mas os garotos deram conta do recado. Vimos um Japão apático, um México medroso e uma Itália segura e bem armada nos três planos de campo. Vamos gritar para que o Japão acorde e monte na zebra italiana, para que os nossos próximos adversários cheguem irritados para novos erros. Mas, isso depende dos deuses do futebol e do alto Monte Fuji.
Sabem de uma coisa! Vamos repetir à plebe: “que venham os italianos”. Medo é manha, compadre. A ordem é RESPIRAR FUNDO.

DEPOIS Clerisvaldo B. Chagas, 19 de junho de 2013 Crônica Nº 1037 (campinas.classificados.br.) Enquanto cassetete dá preço...

DEPOIS



DEPOIS
Clerisvaldo B. Chagas, 19 de junho de 2013
Crônica Nº 1037

(campinas.classificados.br.)
Enquanto cassetete dá preço pelas principais capitais brasileiras, cínicos balançam a cabeça e o sertão veste cinza. Bem que após as pragas de moscas, besouros e mosquitos, as chuvas vão embora deixando o mês de junho sem pai e sem mãe. Voltamos aos velhos tempos dos bons invernos quando o mês de agosto matava o restante da lavoura com a frieza e com as lagartas. Essas bichas silenciosas nunca mais haviam dado às caras por aqui, mas agora resolveram "atanazar" o agricultor. Anteciparam-se ao mês fatídico e danaram-se a “roer” o verdume desbotado dos plantios. Como quase todos os homens do campo são pequenos proprietários em roças de subsistência, não vale à pena gastarem dinheiro para envenenarem as suas plantações. Mesmo porque, por uma parte não dispõem da verba necessária e, por outra, para que gastar com inseticida na incerteza das chuvas que estão presas?! Os mandacarus vão espiando do alto a paisagem pedindo socorro e o tempo carrasco com a corda na mão. As madrugadas trazem para o sertanejo os sonhos de bonança, o pesadelo da realidade e os sinais da inconstância.
Nas ruas do país o cacete come! O cara-pintada ou o cara-sem-tinta berram, gritam, vociferam e amarrotam o vinco. Os culpados tremem de medo dentro dos seus bunkers ornados com dinheiro público. Diante da imposição do microfone alguns afirmam que os movimentos são “lindos”, “belezas puras”, “festas democráticas”, receosos por dentro que sejam apontados como campeões dos desvios originários dos protestos. Dizer o contrário seria muito pior. Eles são espertos o suficiente para não melindrarem a causa do que protesta. E o Sertão sofrido, acuado, martirizado pela Natureza e pelos reizinhos, vai acompanhando tudo pelo televisor comprado à prestação. O conformismo pula para o front do pensamento revolucionário. Chega à vontade doida de ir às ruas somar suas frustrações a milhares de outros militantes com o testemunho dos altos edifícios espigados. E no meio da massa citadina, peleja o campesino com o boné da roça e da bandeira. Como os movimentos surgiram, assim desaparecem, mas o treino da revolta fica desenhado, para um retorno mais firme e muito mais duro para novamente abalar as almas dos culpados.
Estão brincando com o povo e, com o povo não se brinca. Ontem foi dia de cacete, hoje é dia de pão. Dia de jogo de Neymar. Depois... DEPOIS!